Lotus Renault e Team Lotus competiram na F1 em 2010 (Fotos da arte: Pirelli)

Confusão explicada: por que a F1 teve duas Lotus em 2011?

Um dos nomes mais tradicionais da história da F1 foi centro de uma grande controvérsia. A Lotus, marca que conquistou vitórias e títulos na categoria durante décadas, retornou ao grid em 2010 depois de um longo período de ausência. O problema é que, depois de um tempo, duas equipes diferentes reivindicavam os diretos de usar o nome. Isso deu início a um extenso confronto de narrativas e disputas nos tribunais. 

Enquanto a polêmica não se resolvia, a F1 chegou ao ponto de ter ao mesmo duas equipes que se identificavam como Lotus e usavam cores tradicionais da marca. Mas qual é a origem desta história?

As “duas” Lotus e a origem da confusão

Colin Chapman (centro) foi o fundador da Lotus (Foto: Classic Team Lotus)

A Lotus foi uma das equipes mais vitoriosas da história da F1. Fundada pelo lendário Colin Chapman, o time foi responsável por projetos marcantes, o que resultou em títulos mundiais de nomes como Jim Clark, Emerson Fittipaldi e Mario Andretti. 

Porém, desde os primórdios, a empreitada de Chapman podia ser dividida em duas partes. O Team Lotus, que era a equipe de corridas, e a Lotus Cars, também conhecida como Grupo Lotus, fabricante de carros esportivos. E é muito importante ter em mente a existência destas duas operações diferentes para entender todo o resto da história. Depois da morte de seu fundador, em 1982, a equipe de corridas e a fabricante de carros foram passadas adiante de maneira separada. 

O Team Lotus ainda sobreviveu na F1 por pouco mais de uma década. No fim de 1994, ela foi adquirida por David Hunt, ex-piloto inglês e irmão do campeão da F1, James Hunt. Mas a equipe vivia uma grande crise financeira e foi obrigada a fechar as portas ao fim daquele ano. Para manter o nome na F1, foi criada uma parceria com a equipe Pacific em 1995. Só que esta também encerrou suas operações após o desfecho da temporada. 

Assim, o nome Lotus deixaria a F1 depois de um longo tempo, e o espólio da equipe de corridas e os direitos do nome “Team Lotus” ficariam sob posse de David Hunt. Paralelamente a isto, o Grupo Lotus passou por diferentes proprietários e investidores, até que, no final de 1996, foi adquirido pela Proton, fabricante de carros malaia.

A discórdia começa para a F1 em 2010 

Agora, avancemos um pouco no tempo. Ao longo de 2009, a FIA havia aberto uma concorrência para selecionar novas equipes para a F1 em 2010. Entre as candidatas estava a Litespeed, uma equipe da F3 Inglesa que havia sido fundada por Steve Kenchington e Nino Judge, antigos engenheiros da Lotus na F1. 

Lotus Racing 2010
Lotus Racing, de Tony Fernandes, entrou na F1 em 2010 (Foto: Bridgestone)

Kenchington e Judge conversaram com David Hunt, que deu permissão para que a empreitada usasse o nome Team Lotus. O Grupo Lotus, por sua vez, repudiou a ideia e prometeu tomar medidas na justiça para que isso não acontecesse. Porém, o plano não saiu do papel, já que a Litespeed não esteve na lista final de equipes selecionadas. Em vez disso, quem conseguiu uma vaga na F1 em 2010 foi o projeto chamado de 1Malaysia Racing Team, encabeçado pelo malaio Tony Fernandes. 

Fernandes, empresário do ramo da aviação, aproveitou suas conexões na Malásia para entrar em contato com a Proton, com o objetivo de realizar um acordo para usar o nome do Grupo Lotus em sua nova equipe de F1. A ideia foi bem aceita, até porque o grupo havia contratado um novo diretor executivo, Dany Bahar, que tinha o projeto de aumentar o envolvimento da empresa com o automobilismo. 

Foi assim que nasceu a nova Lotus Racing, que traria de volta o tradicional nome à F1. A pintura também tinha bastante significado, ostentando o verde dos carros britânicos combinado com o amarelo, uma marca registrada da equipe nos velhos tempos.

Uma “segunda” Lotus entra em cena 

Assim como todas as equipes novatas da F1 em 2010, a Lotus enfrentou muitas dificuldades. O carro, o modelo T127-Cosworth desenhado por Mike Gascoyne, tinha linhas bastante básicas se comparado até mesmo aos modelos do pelotão intermediário. Ao longo do ano, os veteranos Jarno Trulli e Heikki Kovalainen eram presença constante no fundão e passaram longe dos pontos. 

Mesmo que a equipe tenha sido a melhor entre as escuderias estreantes daquele ano, batendo HRT e Virgin, o rendimento de uma forma geral deixou a fabricante de carros insatisfeita. Alegando que a equipe de F1 estava descumprindo os termos do acordo, o Grupo Lotus suspendeu a licença para o uso do nome e rompeu com a empreitada de Fernandes. 

Como reação à notícia, Fernandes fez um movimento decisivo nos bastidores: em setembro de 2010, adquiriu o nome Team Lotus, de David Hunt, e passaria a batizar assim sua equipe em 2011, usando exatamente a mesma identidade do time fundado por Colin Chapman e que competiu na F1 até 1994. É claro que isso não ficou barato. A Proton contestou a notícia, já que ela se considerava dona de todos os envolvimentos do nome Lotus no setor automotivo, o que, na sua argumentação, também incluía a F1. 

Para aumentar ainda mais a confusão, o Grupo Lotus continuava com sua intenção de ampliar sua participação nas competições. Ela já patrocinava a equipe KV na Indy, com o plano de construir seu próprio motor em 2012 (o que se mostraria um tremendo fiasco), e também apoiaria a ART GP na GP2 e GP3. Todos estes carros usavam o verde e amarelo, igual à Lotus de Fernandes. 

Duas equipes em conflito

A F1 não ficou de fora dos planos do Grupo Lotus. Em dezembro de 2010, a empresa anunciou um grande acordo de patrocínio com a equipe Renault, o que deixaria o carro preto e dourado (também cores tradicionais do time), e que mudaria o nome da operação para Lotus Renault GP.

Lotus Renault preta esteve presente no grid em 2011 (Foto: Pirelli)

Desta forma, a F1 se preparava para ter duas equipes Lotus na temporada de 2011: a verde, de Tony Fernandes, e a Renault preta e dourada. Obviamente isto gerou uma polêmica e tanto. A família Chapman expressou seu apoio ao Grupo Lotus, do carro preto, e pediu para que Fernandes não usasse este nome em sua equipe durante o ano. A Proton, como já era de se esperar, acionou a justiça na Inglaterra para resolver o assunto, mas isso levaria algum tempo até haver uma solução. 

Em maio, a justiça britânica decidiu que a equipe de Fernandes tinha o direito de continuar utilizando o nome Team Lotus. Por outro lado, o tribunal também esclareceu que a Proton tinha propriedade exclusiva do nome Lotus quando adotado isoladamente, o que também tornava legal o acordo de patrocínio com a Renault. Ou seja, na prática nada mudava, e a F1 continuaria com as duas equipes praticamente homônimas no grid. A Proton ficou insatisfeita com o veredito e recorreu da decisão. 

O fim da saga e o nascimento da Caterham

Dentro da pista, a equipe do carro preto até que começou a temporada de 2011 chamando a atenção, com pódios de Vitaly Petrov e Nick Heidfeld. Ela terminou a campanha em quinto na tabela de construtores, com pontos em 14 das 19 etapas. Já o time verde não conseguiu sair do fundo do pelotão. O time obteve três 13º lugares como melhores resultados e mais uma vez terminou zerada, embora novamente à frente das outras duas novatas de 2010. 

Foto: Pirelli

A saga pelo uso do nome chegou ao fim em novembro de 2011. Um comunicado conjunto da Proton e Tony Fernandes anunciava que a s partes chegaram a um acordo, e o Grupo Lotus passaria a ter o controle do nome Team Lotus. Desta forma, a equipe do carro verde se chamaria dali em diante de Caterham, uma fabricante britânica de carros que nasceu vendendo e preparando projetos de Colin Chapman. Fernandes havia adquirido a empresa ao longo de 2011. Já o time preto e dourado passaria a se chamar Lotus F1 Team, e a novela estava definitivamente encerrada. 

A Lotus fez fortes campanhas em 2012 e 2013, conquistando duas vitórias neste período e terminando por duas vezes em quarto lugar no Mundial de Construtores. Porém, a equipe entraria em dificuldades financeiras, e em 2016 voltou ao controle da Renault, na equipe que hoje se chama Alpine. A Caterham não conseguiu superar a barreira dos pontos, e também com problemas financeiros encerrou suas atividades no fim de 2014.  

A F1 mostrou como que a luta pelo uso de um nome e de uma marca pode causar muita confusão no público e dor de cabeça para todos os envolvidos. Para você que é empreendedor, o registro de marca é um serviço fundamental, já que isto protege a sua empresa e seus produtos e serviços. Conheça a Locus Iuris, que facilita o registro de marca da sua empresa e auxilia em todas as etapas do processo – desde a pesquisa até o registro no INPI. 

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