Afinal, por que um motor de F1 explode quando quebra?
É uma imagem bastante corriqueira nas corridas de F1 e de outras categorias: um piloto acelera seu carro em plena reta quando, de repente, há um enorme estrondo, que é sucedido por fumaça e chamas. Um motor estourado que, de maneira dramática, pode fazer evaporar a conquista de uma vitória ou até mesmo da chance de levar o título.
A falha mecânica mais teatral do automobilismo esteve presente em diversos momentos cruciais das disputas da F1. Quem não se lembra do abandono de Lewis Hamilton no GP da Malásia de 2016, quando, ali, deu praticamente adeus à disputa pela taça? Ou de Felipe Massa na Hungria, em 2008, quando perdeu pontos preciosos? Ou de Michael Schumacher no Japão, em 2006, quando parecia colocar uma mão no octacampeonato nas vésperas de sua aposentadoria?
Sim, a imagem da explosão de um motor aparece em várias corridas, em toda parte do mundo, o que torna o lance algo absolutamente corriqueiro. Mas por que isso acontece? Por que uma quebra de motor quase sempre termina em um show pirotécnico?
Explicando conceitos da quebra do motor
Dizer que “um motor explode” é apenas um recurso de linguagem que simplifica uma quebra que virou comum no automobilismo. A rigor, um propulsor não chega a explodir durante uma falha, embora o dano e as chamas em si quase sempre são irreversíveis para a unidade.
Então, o que acontece de fato? Para entendermos, é importante ter em mente o funcionamento básico de um motor a combustão: a mistura de ar e combustível passa pelas válvulas e chega aos cilindros; a combustão pressiona o pistão e movimenta a biela, o que faz o virabrequim girar.
Ricardo Penteado, chefe de operações de pista da Renault na F1, contou ao Projeto Motor que essas peças são as que mais tendem a apresentar problemas. “Quando o motor quebra, com certeza são peças móveis. É difícil ter uma quebra em algo que não se mexe – até acontece de ter fissuras quando a peça é muito solicitada, quando os pilotos pulam a zebra ou coisas assim. Mas, normalmente, quando a gente vê fogo é porque alguma coisa aconteceu na câmara de combustão”, explica.
Existem algumas quebras que são mais convencionais. “O fogo pode acontecer, por exemplo, ao quebrar uma válvula. Quando é assim, isso fura o pistão, o óleo do carro sai pelo escapamento e pega fogo, ou acontece de quebrar a válvula e o pistão a enfia no cabeçote e a água que tem por lá entra no pistão e sai no escapamento como uma fumaça branca”, detalha o engenheiro.
É por isso que há quebras com aspectos visuais diferentes. “Se for fumaça muito branca, é água, se for algo mais denso, é óleo. Quando é água, tem muita fumaceira na imagem, mas não é fogo”, continua Penteado.
Em resumo: caso uma das peças móveis quebre, o virabrequim continuaria girando e empurraria o item danificado a outras áreas de motor, o que poderia atingir partes com óleo (o que produziria a fumaça negra) ou água (o que faria a dissipação de vapor).
Outras possibilidades
O cenário descrito acima é um dos mais convencionais para uma quebra de motor. No entanto, há outras ocasiões que podem terminar com um carro de corridas em chamas.
Um desses casos é um acidente, o que pode causar um incêndio dependendo do ponto de impacto. “Se o lado da batida for o que tiver o radiador de óleo, isso pode afetar o circuito de óleo e pegar fogo. Se for no lado que tiver água, aí não tem problema nenhum”, explica Penteado.
Além disso, também há casos em que o fogo aparece de maneira um pouco mais espontânea, dependendo da especificidade do projeto. Foi o que aconteceu com Nick Heidfeld no GP da Hungria de 2011, a bordo do Renault R31.
“Estávamos com a estratégia de gás de escapamento muito agressiva e, no pitstop, para não soltá-lo em uma condição insegura, pedimos para ele ficar em primeira marcha, segurando. Ele ficou no cortador de giro por muito tempo. Isso esquentou o escapamento e pegou fogo no carro inteiro”, lembra.
Como limitar os danos no motor?
Quando um carro é tomado por chamas, como vimos no vídeo acima, as consequências podem ser catastróficas. Poucos segundos podem destruir, de forma irreversível, peças importantes – algo que ganha ainda mais gravidade nos tempos de hoje, com limitação de componentes do motor a serem usados ao longo de uma temporada.
Contudo, quando o fogo aparece, há poucas formas de minimizar os danos. “Não fazemos nada para tentar salvar o carro se ele pegar fogo. É mais uma coincidência, também com o fato de o conjunto ser tão compacto. Por exemplo, o sistema que falhou queima no início, mas, depois, quando não tem mais nada para queimar em volta, ele apaga caso não tenha combustível ou óleo nessa área. Isso acaba ‘estufando’ o fogo. Mas não tem concepção nenhuma na parte do design para tentar salvar”, completa Penteado.
Então agora você já sabe: sempre que a corrida de seu piloto favorito acabar em chamas, a explicação vai além de uma simples explosão.
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