(Foto: Carl Bingham / LAT / Pirelli)

Porpoising: entenda o “efeito golfinho” que causa dor de cabeça na F1

O regulamento técnico da F1 mudou significativamente para a temporada de 2022. E, com o retorno do efeito solo e a pressão aerodinâmica sendo gerada pelo assoalho dos carros, um novo problema tem dado dor de cabeça às equipes: o porpoising, que em português também pode ser chamado de “efeito golfinho”.

Trata-se de uma tendência que faz os carros trepidarem quando estão em alta velocidade, como se estivessem quicando no chão, sobretudo ao fim de retas e em curvas mais velozes. E isto está diretamente ligado ao novo regulamento.

Para entender o motivo deste efeito é preciso entender um pouco sobre como a atual aerodinâmica dos carros da F1 funciona e o que mudou para criar esse problema nos modelos de 2022.

Quem acompanha o automobilismo com alguma regularidade com certeza já ouviu falar da palavra em inglês “downforce”. Trata-se da forma como o desenho dos carros aumenta o seu desempenho através da forma como atravessa o ar. Como se fosse um avião mesmo. Esta pressão aerodinâmica empurra o carro para baixo, o que proporciona maior aderência nas curvas e aumenta o rendimento.

E, para obter o tão desejado downforce, as peças são concebidas para fazer com que, em movimento, o fluxo de ar percorra a parte de baixo em maior velocidade do que na parte de cima. Com isso, a pressão do ar fica menor na parte inferior do que na parte superior, então a tendência é de que esta peça seja empurrada para baixo, e é isto que gera downforce.

Acontece que o regulamento mudou drasticamente para esta temporada. Até 2021, a pressão aerodinâmica de um carro de F1 era obtida basicamente por meio das asas, carenagem e difusor. Mas, para 2022, o regulamento coloca maior foco no assoalho, que conta com os chamados “túneis venturi”.

Túnel venturi nos novos carros da F1 em 2022 (Imagem: FIA)

Isso acelera a passagem do ar pelo assoalho, criando, assim, uma zona de baixa pressão, e faz com que o carro como um todo seja sugado para baixo, gerando o famoso efeito solo. Só que durante o processo, algo que vai contra o objetivo do projeto pode acontecer.

O problema do efeito golfinho

Quanto mais rápido o carro anda, maior será a velocidade do ar por baixo do assoalho, o que empurra mais e mais o modelo em direção ao solo. Porém, em determinado momento, o carro fica tão perto do chão que faz com que o fluxo de ar seja interrompido.

E, sem haver a diferença de pressão entre as partes superior e inferior, o carro deixa de ser puxado para baixo, então a sua altura de repente sobe. O espaço do carro para o asfalto volta existir, o efeito solo passa novamente a funcionar, o modelo é puxado para o solo e o ciclo se repete.

Este efeito ficou conhecido como “porpoising”, ou, em uma tradução livre para o português, “efeito golfinho” devido ao movimento feito quando este nada no mar – embora o animal não seja exatamente um golfinho (o porpoise é da mesma família do golfinho, mas na verdade é uma espécie diferente, menos conhecida no Brasil).

Isso afeta a aerodinâmica do carro, deixando mais instável, e faz com que o piloto tenha um modelo menos equilibrado nas zonas de frenagem e nas curvas. Sem falar no desconforto de ter um carro trepidando em todas as retas em uma longa corrida.

Movimento do efeito golfinho - ou porpoising - no carro de F1
Movimento do efeito golfinho – ou porpoising – no carro de F1 (Foto: Pirelli / Montagem: Projeto Motor)

Como solucionar o problema do porpoising?

A resposta não é tão simples e depende um pouco do projeto base do carro. Como a maioria das equipes não esperavam enfrentar a questão em 2022 porque ela não apareceu nas simulações virtuais durante a fase de projeto, muita gente está precisando correr atrás de soluções com o carro já na pista. O que sempre dificulta as coisas.

Uma solução mais óbvia seria simplesmente aumentar a altura do carro, deixando o assoalho mais distante do chão, de modo que o fluxo de ar na parte de baixo nunca seja interrompido. Só que, ao adotar uma altura maior, o carro também perde muito rendimento porque vai diminuir o próprio efeito solo. Então, é preciso fazer algo além disso.

Algumas equipes modificaram o desenho dos sidepods e assoalho, o que cria vórtices de ar que ajudam a manter a parte de baixo “selada”. Ou seja, o ar que está ao lado gira de tal maneira que mantém o fluxo rápido em linha reta embaixo do assoalho.

Vórtice lateral sela a lateral dos assoalhos, o que permite os carros andarem mais altos sem perderem o efeito solo e sofrerem com o efeito golfinho
Vórtice lateral sela a lateral dos assoalhos, o que permite os carros andarem mais altos sem perderem o efeito solo e sofrerem com o efeito golfinho (Foto: Pirelli / Montagem: Projeto Motor)

O problema do “efeito golfinho” tem afetado mais uns do que outros. Por exemplo, a Aston Martin tem enfrentado bastante este problema no início do ano, e no GP do Bahrein, a equipe precisou fazer várias alterações em seu acerto para diminuir o incômodo do porpoising.

Tudo isso tudo gerou uma perda que a Aston Martin estima ser de entre 0s5 e 0s7 por volta. Ou seja, é uma significativa dor de cabeça, que é um dos principais efeitos colaterais do novo regulamento. Quem conseguir sanar o problema de vez primeiro estará em grande vantagem.

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