Verstappen não consegue com sua Red Bull segurar a Mercedes de Hamilton no GP da Espanha de 2021
(Foto: Bryn Lennon/Getty Images/Red Bull Content)

Como a Red Bull ficou encurralada na estratégia do GP da Espanha

Max Verstappen assumiu a ponta do GP da Espanha na largada e liderou 54 das 66 voltas da corrida. Mas, no final, acabou ultrapassado por Lewis Hamilton e teve que se contentar com o segundo lugar em Barcelona. A perda da posição se deu principalmente por conta da estratégia de pneus da Mercedes que deixou o piloto inglês em condições muito melhores do que o rival da Red Bull no último trecho de prova.

Após a corrida, tomou conta das entrevistas e redes sociais a discussão sobre o que a Red Bull poderia ter feito para evitar o drible que acabou tomando da adversária. Parado antes? Parado imediatamente depois? As teorias e cálculos e críticas ao caminho escolhido pelo time austríaco não cessaram. Mas talvez faltou um pouco mais de tranquilidade para analisar a situação difícil em que Verstappen estava na tática.

O rádio de Christian Horner, chefe do time, para seu piloto após a bandeira quadriculada resumiu bem o sentimento que deve ter ficado na Red Bull: “Foi um ótimo esforço, Max. Não sei o que mais poderíamos ter feito, mas foi um bom esforço”.

A verdade é que mesmo com a liderança da corrida, a Red Bull estava encurralada na estratégia desde o começo da prova por diversos motivos. Tanto que a Mercedes teve duas chances para assumir a ponta, sendo que chegou a desperdiçar a primeira no final do primeiro trecho de corrida. E contra um conjunto como o que tem a organização alemã, de um carro ótimo e um piloto incrível, não dá para deixar tantas brechas.

O primeiro trecho e a chance desperdiçada pela Mercedes

Verstappen conseguiu uma bela largada da segunda posição do grid e pulou na ponta na primeira curva. Logo ficou claro que o ritmo de corrida da Mercedes tinha um potencial maior do que da Red Bull.

Nas 10 primeiras voltas, a diferença entre Verstappen e Hamilton flutuou entre 1s5 e 2s. Porém, a partir da 11ª, o inglês deu uma apertada e de repente trouxe a desvantagem para 0s5 e a manteve sempre próxima do 1s. A ultrapassagem não saía, porém, pela dificuldade de se realizar a manobra no traçado de Barcelona com carros que possuem desempenho próximo.

Boa largada de Verstappen chegou a dar pinta que a vitória da Red Bull poderia sair em Barcelona
Boa largada de Verstappen chegou a dar pinta que a vitória da Red Bull poderia sair em Barcelona (Foto: Mark Sutton / LAT Images/ Pirelli)

Mais atrás, o outro piloto da equipe alemã, Valtteri Bottas, sofria de problema parecido e até mais chamativo. Ele perdeu a terceira posição ainda na primeira volta para Charles Leclerc e mesmo a Mercedes tendo um carro muito melhor do que da Ferrari, a ultrapassagem não se mostrava viável. Por isso, o time resolveu antecipar a primeira parada do finlandês para realizar um undercut e assim recuperar a colocação no box.

Na volta seguinte, após um desentendimento no rádio entre Verstappen e o box da Red Bull, o holandês entrou para a parada sem a equipe estar devidamente pronta. Quando ele parou no local da troca, o pneu traseiro esquerdo ainda estava chegando e isso fez com que o pit stop tivesse uma duração de 4s2, cerca de segundos a mais do que média atual.

Ou seja, se por um lado a confusão na Red Bull poderia sem querer ter evitado um undercut de Hamilton como aconteceu no Bahrein, por outro, a troca mais lenta deixou o inglês em condição de ganhar a posição mesmo parando depois.

Na mesma hora, Hamilton avisou no rádio que os seus pneus estavam “ok”. Ele certamente não sabia do erro dos adversários na parada. Quando ele passava pela entrada do pit, a simulação da transmissão da F1 mostrava que se ele parasse naquele instante, ele poderia voltar 1s1 à frente de Verstappen com uma troca dentro do tempo médio.

Verstappen liderou o primeiro trecho de prova com Hamilton logo atrás. Leclerc segurou Bottas e Pérez não apareceu na briga com a outra Red Bull
Verstappen liderou o primeiro trecho de prova com Hamilton logo atrás. Leclerc segurou Bottas e Pérez não apareceu na briga com a outra Red Bull (Foto: Mark Sutton / LAT Images/Pirelli)

Mesmo assim, a Mercedes revolveu não alterar sua estratégia naquele momento e orientou Hamilton a continuar na pista. Ela perdeu ali a janela para assumir a ponta, já que na volta seguinte, com Verstappen andando com pneus novos, eles já não tinham mais a vantagem necessária para fazer o pit e retornar na frente.

A ideia era ficar um pouco mais na pista para ter pneus melhores mais para frente. Hamilton parou apenas quatro voltas depois de Verstappen e voltou 5s6 atrás. Só que a Mercedes percebeu o problema para o segundo trecho da corrida e com um cenário extremamente favorável, consertou a tática no meio da corrida com uma opção diferente para o final da prova.

Segundo trecho e Red Bull encurralada

Hamilton voltou mais uma vez mostrando a superioridade da Mercedes sobre a Red Bull em ritmo de corrida, além de ter pneus quatro voltas mais novos. Ambos tinham largado com compostos macios e agora tinham médios, o preferido do carro do time alemão.

A desvantagem despencou e cinco voltas depois da parada, o inglês já estava a 1s de Verstappen. Só que aí caímos de novo na dificuldade vivida em Barcelona. Mesmo tendo um carro mais rápido, Hamilton não tinha uma vantagem de desempenho que lhe desse condição de superar a turbulência causada pela Red Bull à frente para entrar na reta próximo o bastante para realizar a ultrapassagem.

Hamilton ficou por nove voltas a cerca de 1s de Verstappen sem conseguir atacar. Mais atrás, ele tinha seu companheiro, Bottas, em terceiro, enquanto o quarto colocado, Charles Leclerc, já figurava a longínquos 27 segundos. Ou seja, se ele fizesse uma segunda parada, ele retornaria atrás apenas de seu parceiro.

A situação fez a Mercedes pensar: “por que não paramos agora e voltamos com pneus novos muito melhores para atacar no final?”. A ideia era boa porque daria uma chance de Hamilton estar em condição muito melhor de pneus no final, com tempo suficiente ainda para o inglês alcançar o rival. E como não tinha nenhum carro de outro time próximo atrás, na pior das hipóteses, o heptacampeão ficaria com o que já tinha, em segundo.

Além disso, a Red Bull não teria como reagir porque como Hamilton estava muito perto, se Verstappen parasse na volta seguinte, ele voltaria certamente atrás em uma pista em que a ultrapassagem é muito difícil e que a Mercedes estava mostrando um desempenho melhor. Ou seja, ela estava em uma verdadeira sinuca de bico.

Por que a Red Bull não tinha como reagir ou antecipar os rivais

A Pirelli tem uma gama de cinco compostos diferentes para pista seca na F1. Do C1, o mais duro, ao C5, mais macio. Para cada corrida, dependendo das características do traçado e do asfalto, ela leva três. Na decisão, ela tenta estimular trocas e variedade de estratégias, mas ao mesmo tempo limita os riscos para não sofrer com estouros que podem comprometer a segurança.

Dentro desta escolha da fornecedora, as equipes podem escolher de forma livre 13 jogos para cada um de seus pilotos. Exemplo: 5 macios, 4 médios e 4 duros, ou 4 macios, 6 médios e 3 duros, e por aí vai. É livre.

Esses jogos de pneus são utilizados desde os treinos livres, passando também pela classificação. Lembrando que os pilotos que passam ao Q3 na tomada de tempos precisam largar com o mesmo jogo que fizeram suas melhores voltas no Q2. Assim, as equipes planejam seu final de semana pensando em que tipo de compostos querem guardar para a corrida.

Após a primeira parada nos boxes na corrida, Verstappen tinha ainda à disposição um jogo de pneus macios novos e um de duros novos. O segundo foi o que teve o pior desempenho em Barcelona e não fazia sentido usar. Só que o segundo, se colocado no carro muito cedo, poderia deixar o ritmo comprometido nas voltas finais por ter um desgaste maior.

Já Hamilton, tinha um jogo de médio usado e um de duros novos. Assim como para o adversário, os duros estavam descartados por questão de desempenho. Os médios tinham sido usados por apenas três voltas nos treinos. Ou seja, eram quase novos e ainda os que estavam apresentando na Espanha o melhor custo-benefício em termos de desempenho e durabilidade. E por isso ele colocou esses em sua segunda parada, tendo a certeza que eles durariam até o final da prova.

Pneus que cada um dos pilotos do grid tinha à disposição para a corrida em Barcelona antes da largada. Branco: duro. Amarelo: médio. Vermelho: macio. “NEW” significa novo e “USED”, usado (Gráfico: Pirelli)

Quando Hamilton para, o undercut está colocado. A Red Bull não tinha como ter antecipado a manobra pois se fizesse seu pit antes, Verstappen teria que administrar seus macios por no mínimo 25 voltas até o final, correndo o risco de ficar vulnerável nas últimas voltas. A Mercedes ficaria com a opção de adiar a parada de Hamilton para atacar com compostos mais novos depois ou até arriscar de deixar o inglês na pista apostando que os pneus do holandês da Red Bull mais macios se desgastariam de qualquer jeito.

Só que se ele parasse imediatamente depois (como muita gente apontou após a prova), além de perder a primeira posição, ele ainda se colocaria na posição de perseguidor em um circuito de difícil ultrapassagem contra um adversário que estava com desempenho melhor e uma parada recente. Além disso, ele ainda teria o problema de levar os compostos macios até o final de qualquer jeito, com 23 voltas pela frente até a bandeira quadriculada.

É preciso pontuar que os macios durarem por mais de 20 voltas não era nada impossível, já que no primeiro trecho, em que os 10 primeiros largaram com eles, Verstappen deu 24 voltas com esse tipo de composto e com o carro mais pesado por conta da quantidade de combustível. O problema aqui é a condição em que o pneu estaria no final contra os médios de Hamilton.

Colocado tudo isso na mesa, a Red Bull estava de mãos atadas e não tinha o que fazer a não ser manter Verstappen na pista e torcer por algum problema de Hamilton para não alcança-lo ou um safety car que lhe desse a chance de fazer a troca de pneus e voltar ainda na frente. Foi o que ela fez. Só que Hamilton não teve problemas e o safety car não aconteceu. O resultado foi uma ultrapassagem fácil a oito voltas do final.

Hamilton completa a ultrapassagem sobre Verstappen em Barcelona (Foto: LAT Images/Mercedes)

O fator que faltou para a Red Bull: Pérez

Como a Red Bull poderia então vencer uma corrida que liderou praticamente inteira? Tendo um segundo carro que bloqueasse ou até atacasse a estratégia da Mercedes.

Desde a saída de Daniel Ricciardo, no final de 2018, a Red Bull tem tido problema com essa questão. Pierre Gasly e Alex Albon passaram pelo time principal da empresa sem conseguirem somar à tática do time para vencer corridas. Com Verstappen brigando sozinho contra os dois carros da Mercedes, ele sempre tinha sua estratégia marcada de um lado, com outro adversário (normalmente Hamilton) livre do outro na briga pelas vitórias.

Percebendo a necessidade de ter esse segundo carro nas corridas mais próximo da briga pela ponta, a Red Bull foi então atrás de um piloto mais experiente, fora de seu programa de formação, e trouxe Sergio Pérez. Seria injusto após apenas quatro corridas na equipe, dizer que o mexicano já não deu conta do trabalho. Porém, a verdade é que ele ainda não contribuiu como o esperado e isso está fazendo falta.

Caso Pérez estivesse em terceiro ou quarto, dentro da distância de menos de 20s atrás de Hamilton, a corrida poderia ser bem diferente por vários motivos. Para começar, a Red Bull poderia brincar com a estratégia de seu segundo piloto para o colocar em posição de ataque com pneus novos, obrigando a Mercedes a ficar mais preocupada em se defender do que pensar na liderança.

Em um segundo caso, a simples presença do mexicano naquele lugar, já faria a equipe alemã se questionar da possibilidade da tática da segunda parada de Hamilton, já que ele precisaria fazer uma ultrapassagem complicada sobre Pérez na pista, quando os pneus do mexicano ainda não estariam tão desgastados no começo do segundo trecho do inglês. Isso o faria perder segundos preciosos e talvez até inviabilizar a chance de tirar a diferença em relação a Verstappen na pista.

A análise não é feita apenas por nós, do Projeto Motor, mas até mesmo publicamente pela Red Bull, como pudemos ver na declaração do chefe da equipe, Christian Horner. “O fato é bem claro que os dois primeiros estavam tão à frente do resto do pelotão, que Lewis tinha um pit stop livre, como ele teve na Hungria [em 2019, quando o inglês passou Verstappen pela vitória usando a mesma estratégia de Barcelona]. Ele apenas precisou passar seu companheiro de equipe, o que nunca seria um problema. Então, é por isso que precisamos dos dois carros estrategicamente lá na frente, para que essa opção não seja viável para a Mercedes”.

E não ficou aí. Até mesmo Verstappen admitiu que sozinho, não vai conseguir bater de frente com a Mercedes e Hamilton para brigar por um campeonato, e não apenas por uma corrida ou outra. “No final, estou sempre sozinho na briga. Eles podem facilmente fazer outra parada, pois têm vantagem atrás deles. Isso não ajuda, com certeza”, lamentou o holandês após nova derrota.

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