(Foto: Ferrari)

Carreira de Bearman e futuro após estreia surpresa pela Ferrari

Entre as muitas notícias de bastidores e a pouca movimentação dentro da pista, o GP da Arábia Saudita de 2024 ganhou um personagem extra inesperado. Oliver Bearman se preparava para a classificação da F2 na sexta-feira quando foi convocado de última hora para substituir Carlos Sainz na Ferrari e fazer sua estreia na F1.

O espanhol precisou realizar uma cirurgia de emergência por conta de uma apendicite e ficou sem condições de competir. Sem alternativas, a Ferrari apelou para o britânico de 18 anos, piloto de sua Academia que já tem Superlicença e estava em Jeddah para competir pela categoria de acesso.

Sem muito tempo para se preparar, Bearman teve apenas um treino livre na sexta-feira para se adaptar ao carro antes de partir para a classificação, poucas horas depois do chamado. Ele ficou com a 11ª posição no grid, perdendo o Q3 por apenas 36 milésimos.

Na corrida, fez uma prova tentando evitar erros e foi crescendo em termos de ritmo aos poucos. Ele se beneficiou de problemas na estratégia de Lando Norris e Lewis Hamilton e mostrou velocidade para se manter à frente de ambos nas voltas finais e fechar a corrida em uma boa sétima posição, marcando seis pontos em sua primeira corrida na F1.

Em uma prova com poucas emoções, a estreia de Bearman chamou a atenção do público que o elegeu piloto do dia com 48,3% dos votos. O segundo colocado na eleição foi Lewis Hamilton com 7,3%.

E claro que essa repercussão da atuação de Bearman também fez barulho no paddock da F1 (principalmente por parte da imprensa britânica), com cumprimentos de Hamilton assim que o compatriota saiu de seu carro, elogios de diversos pilotos, e também do chefe da Ferrari, Fred Vasseur.

“Como você pode imaginar, quando eu pedi que Ollie pulasse no carro na sexta-feira para a classificação, eu não esperava um final de semana robusto. Ele foi muito bem ontem [na classificação], dando passo por passo no treino livre e fazendo uma classificação forte, pois ficou fora do Q3 por alguns centésimos”, disse o dirigente francês para a emissora britânica Sky Sports.

“Hoje [no dia da corrida], eu estava com um pouco de receio com o procedimento de largada, pit stop e tudo mais que ele nunca fez antes, mas ele foi sólido e não cometeu um erro na corrida. Ele ainda conseguiu ganhar velocidade no final quando o avisamos que Norris e Hamilton estavam atrás dele. No geral, ele fez um trabalho fantástico”, continuou.

Oliver Bearman conversa com engenheiros da Ferrari durante final de semana do GP da Arábia Saudita
Oliver Bearman conversa com engenheiros da Ferrari durante final de semana do GP da Arábia Saudita (Foto: Ferrari)

A carreira de Bearman

Assim como foi com alguns outros prodígios do automobilismo, as coisas vem acontecendo de forma bastante rápida na carreira de Bearman. O britânico estreou no kart aos oito anos, passando por diversos campeonatos de seu país e em nível europeu com destaque.

A estreia nos carros aconteceu em 2020, aos 15 anos, em que ele terminou com a sétima posição no campeonato da F4 Alemã. No ano seguinte, ele foi campeão da categoria e de sua versão italiana. No final daquela temporada, após avaliações, ele foi escolhido para entrar na Academia Ferrari, que passaria a gerenciar sua carreira e desenvolvimento técnico.

Bearman então deu um salto em 2022 para a F3 FIA e não decepcionou. Ele fechou o campeonato na terceira posição geral, com uma vitória e oito pódios, superando seus companheiros de equipe Prema, Arthur Leclerc e Jak Crawford.

Desta forma, Prema e Ferrari resolveram já promovê-lo para a F2 em 2023 para uma primeira temporada de experiência na última categoria de base da escada para a F1. Bearman terminou o campeonato na sexta posição, atrás do companheiro Frederik Vesti, mais experiente e que ficou com o vice. Mas apesar de certa inconstância, ele mostrou velocidade ao conquistar quatro vitórias e seis pódios.

Graças aos pontos coletadas pelos resultados nesta sua curta carreira nas categorias de base, Bearman não teve dificuldades para conquistar sua Superlicença para testes, participação em treinos livres e depois até para correr na F1. E isso resultou em boas oportunidades para ele começar a ganhar experiência com carros do Mundial pela equipe Haas, parceira técnica da Ferrari.

Assim, ele fez sua estreia em treinos do Mundial nos GPs do México e Abu Dhabi de 2023, e depois ainda participou dos testes de novatos em Yas Marina, em novembro, também pelo time americano.

Para 2024, ele foi confirmado para uma segunda temporada pela Prema, em que não teve um bom início na etapa de abertura do campeonato, com um 16º e um 15º na rodada do Bahrein. A expectativa era de uma reação na segunda etapa, na Arábia Saudita, quando veio o chamado às pressas da Ferrari para a participação na F1.

Futuro do britânico

Não é segredo que além da política da Ferrari de não promover novatos diretamente para sua equipe nas últimas décadas, os dois lugares da escuderia estão ocupados em 2025 e 26 por Charles Leclerc e Lewis Hamilton.

Mesmo assim, o bom desempenho não só em sua carreira até o momento como na própria estreia em Jeddah, pode ajudar Bearman a conseguir uma vaga na F1 para a próxima temporada. E isso pode acontecer, inclusive, com uma boa mãozinha da própria Ferrari, que deve estar atenta na possibilidade de promover seu piloto através de sua parceira, Haas.

Bearman em sua estreia na F1 no GP da Arábia Saudita de 2024
Bearman em sua estreia na F1 no GP da Arábia Saudita de 2024 (Foto: Antonin Vincent / DPPI)

O time americano hoje conta com dois pilotos experientes, Kevin Magnussen e Nico Hulkenberg. É uma receita utilizada na maior parte de sua história desde que entrou na F1, com a exceção de 2021, quando contratou os novatos Mick Schumacher (na época, também vindo da Academia Ferrari) e Nikita Mazepin (este em troca de um patrocínio).

Depois de duas temporadas, no entanto, a equipe voltou a adotar sua receita de corredores mais experimentados para focar nas suas próprias limitações técnicas e não ter que se preocupar por quem conduz o carro. Mas claro que um talentoso piloto como Bearman, que já mostrou poder se adaptar rapidamente ao desafio – além da proximidade com a própria Ferrari –, pode fazer o time rever esse conceito.

Mesmo tentando fugir de tal questionamento, o chefe da Haas, Ayao Komatsu, afirmou que ficou contente com o desempenho de Bearman na Arábia Saudita, lembrando que já tinha visto seu talento de perto nos momentos em que o britânico realizou treinos e testes pelo time. Além disso, o japonês ainda lembrou que o britânico voltará a andar com seus carros nas vagas obrigatórias para novatos em treinos livres em 2024.

“Ano passado quando tivemos ele em sessões de treinos livres no México e Abu Dhabi, ficou óbvio logo de cara que ele é um pacote completo. Ele é impressionante, então, fiquei contente que temos ele por seis treinos livres este ano. Estou contente por ele”, afirmou o dirigente.

Do outro lado, após tanta repercussão, Bearman não escondeu a satisfação pelo seu desempenho e confiança de que pode ter aberto um caminho para estar na F1 na próxima temporada.

“Não sei o que mais posso fazer, pois acho que não estarei na F1 pelo resto do ano. Esse era era o meu objetivo, fazer um ótimo trabalho durante este final de semana. Acho que fiz um trabalho decente, então, está bom. Tudo que posso fazer agora é continuar pressionando na F2 e cruzar os dedos”, declarou depois da corrida.”

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