Apesar de congelamento dos carros, equipes da F1 têm como desenvolverem seus modelos para 2021
(Foto: Pirelli)

Carros da F1 em 2021 serão os mesmos de 2020? Não é bem assim

A temporada de 2021 estava marcada para ter uma grande virada no regulamento da F1. É uma enorme revolução que já explicamos aqui na F1. Mas por conta do impacto da pandemia de 2020, que além do abalo financeiro nas equipes também limitou a produção nas fábricas pela necessidade do isolamento social, essa mudança ficou para 2022.

Além disso, com a intenção de reduzir custos em um momento difícil e imprevisível da economia mundial, a F1, com apoio das equipes, também resolveu “congelar” os carros das equipes. Isso significa que os modelos que foram para a pista em 2020 serão os mesmos de 21, certo? Mais ou menos.

A palavra “congelamento” que foi utilizada não só nas manchetes, mas no próprio regulamento da categoria para este próximo campeonato engana um pouco. Os times usarão no geral a mesma base, porém, podem sim fazer alterações consideráveis em seus carros para 2021, utilizando um sistema de tokens, que iremos explicar mais abaixo.

Além disso, a própria FIA mudou parte das regras técnicas, o que exigirá ainda mais alterações nos carros. Essa medida foi tomada por uma questão de segurança apontada pela Pirelli, já que a evolução dos carros sob atual regulamento está exercendo cargas laterais cada vez maiores em pneus que são basicamente os mesmos desde 2019.

Como no regulamento de 22, a F1 irá adotar as novas rodas de aro 18, o que fará com que os compostos já sofram uma enorme mudança, fazer um produto totalmente novo para 21 ficou inviável. A Pirelli até irá trazer ajustes em seus pneus em relação aos de 20, mas apenas para diminuir a chance de estouros.

Desta forma, entende-se que com todos esses fatores na mesa, dizer que os carros de 2021 serão os mesmos de 20 não só é um exagero como é errado. Mas vamos entender melhor o que vai mudar.

Homologação, congelamento e o sistema de tokens da F1

A primeira grande notícia que saiu após o adiamento do novo regulamento técnico da F1 para 2022 foi que os carros seriam congelados de 2020 para 21. Só que a FIA abriu uma forma do desenvolvimento continuar existindo dentro de uma certa limitação.

Três datas diferentes para homologação de cada parte do carro foram definidas. E os times só podem fazer alterações dentro deste período gastando “tokens”, uma espécie de moeda de troca que já foi utilizada pela FIA no tempo do congelamento dos motores.

O máximo que pode ser gasto em cada peça é de dois tokens. Porém, algumas partes ganharam o peso de um token, podendo então serem modificadas até duas vezes após a homologação, e outras dois, o que significa que só podem ser alteradas uma vez.

Exemplos: a estrutura frontal do assoalho que fica embaixo do bico foi homologada na data “R1-2020” (primeira corrida de 2020, na Áustria) e tem um custo de um token para ser trocada. Ou seja. Entre o GP da Áustria de 2020 e a última corrida de 21 (por enquanto prevista para Abu Dhabi), as equipes só podem mudar esta parte do carro duas vezes, e sempre avisando a FIA com antecedência.

Já a parte interna da suspensão dianteira (que fica dentro do carro e inclui amortecedores, molas e barras estabilizadoras) teve seu projeto homologado no “mid-2020”, no dia 30 de setembro, semana seguinte ao GP da Rússia. Esse sistema tem o valor de dois tokens e só pode ser alterado uma vez desde então até o final de 2021. Importante destacar aqui que estamos falando do projeto e desenho, não das peças em si, que tendo as mesmas especificações, podem ser trocadas.

E aí, temos o exemplo dos “membros da suspensão traseira”, que passarão por homologação na data “R1-2021” (primeira etapa de 2021, marcada por enquanto para o GP do Bahrein) e que depois disso não poderão mais ser mudadas. Nem usando tokens. Isso porque as peças congeladas nesta última data, por terem passado por mais tempo de desenvolvimento livre, não poderão ter seu projeto alterado durante a temporada.

Vale destacar também que as equipes podem sempre retornar aos desenhos originais de suas peças, porém, o token utilizado na modificação não tem volta. A lista de componentes é vasta, passando por cada pequena peça do carro, e está publicada no regulamento técnico da F1, com especificações de cada uma delas sobre o que é considerado uma mudança, as exceções, data da homologação e tokens.

Mudança no regulamento que irá alterar os carros

Mas não é só uma questão de desenvolvimento (mesmo que controlado) que irá fazer os carros da F1 serem diferentes em 2021. Também existem alterações nas regras que podem e devem (mesmo que de forma tímida) ter algum impacto nos modelos.

Para começar, existe algo que cai diretamente no carro da campeã Mercedes: o sistema DAS, que já explicamos os detalhes aqui no Projeto Motor, está proibido. O artifício foi importante para o time alemão, principalmente nas classificações.

Depois vamos para as alterações pedidas pela Pirelli, com objetivo de diminuir a pressão aerodinâmica dos carros e assim os pneus sofrerem menos. Uma das mais importantes neste ponto é a nova limitação que o assoalho terá.

As equipes terão que fazer um recorte triangular na parte da peça que fica à frente das rodas traseiras. Além disso, aberturas, buracos e aletas para direcionar o ar estão proibidos na área. Esse é um ponto do carro em que nos últimos anos vem sendo bastante explorado pelos projetistas para desviar o fluxo de ar dos pneus e jogá-lo para debaixo do carro e para o difusor, deixando os modelos mais “pregados” no chão.

Em destaque na primeira imagem, o ponto do assoalho que será recortado e as aberturas que serão proibidas. Na segunda imagem, como o regulamento prevê o desenho do assoalho (Foto 1: Pirelli / Imagem 1: Regulamento F1)

Além dessa modificação os assoalhos também terão ficar mais rígidos, com a tolerância de movimento caindo de 10mm para 8mm quando os pesos da FIA são colocados sobre as peças.

O difusor, que direciona o ar no final na traseira do carro ao final do assoalho, teve suas aletas encurtadas em 50mm. Finalizando a parte aerodinâmica, os projetistas não poderão mais utilizar aletas na metade de baixo dos dutos de freios traseiros, normalmente instaladas para ganho aerodinâmico.

Em destaque na foto 1, o difusor do modelo de 2020 da McLaren. Abaixo, as notas limitações da peça (Foto 1: Pirelli / Imagem 2: Regulamento F1)

Os carros também ficarão três quilos mais pesados pela elevação do peso mínimo das unidades de potência para 150 kg, como forma de diminuir o desenvolvimento de novos materiais leves destes sistemas.

Quem pode ganhar ou perder com tudo isso?

É difícil dizer. A Mercedes obviamente perde uma de armas de 2020, o DAS, e como carro que mais produzia pressão aerodinâmica, pode ser impactado pelas mudanças aerodinâmicas. O problema é que não necessariamente as alterações feitas pela FIA sejam nos pontos em que a equipe alemã mais ganha, e, pelo contrário, pode até afetar outros times.

Além disso, como a base dos carros não muda e o desenvolvimento é limitado, a Mercedes já sai na frente por possuir um modelo que sobrou em 2020.

Desta forma, mesmo com o chamado “congelamento” dos carros, precisaremos, como todos os anos, esperar não só a pré-temporada como a primeira corrida do ano para entendermos quem se adaptou melhor à nova situação.

Importante ressaltar também que muitos dos times vão rapidamente voltar seus engenheiros para a enorme mudança de 2022 e temos já em 21 o novo regulamento financeiro em vigor, que limita o orçamento das equipes em U$ 147 milhões (no caso do calendário de 23 corridas seja confirmado).  

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