Sucesso e decepção: como se saíram os últimos chefes da Ferrari na F1?
A Ferrari terá mudanças importantes na temporada de 2023 da F1. Mattia Binotto deixará o posto de chefe de equipe, o que significa que a Scuderia estará sob nova gestão. O substituto será o francês Frédéric Vasseur, que estava na Sauber-Alfa Romeo desde 2017.
A decisão foi tomada depois de uma campanha complicada em 2022, marcada por erros da Ferrari em questões técnicas e operacionais em momentos críticos, o que fez o time que pintou nas primeiras etapas como um potencial favorito (pelo menos para brigar de perto com a Red Bull) perder de longe os títulos de pilotos e construtores.
Assim, Vasseur será o sexto chefe diferente da Ferrari em menos de 20 anos. De 2007 para cá, nomes diferentes passaram pelo comando do time, e o que se viu foram momentos de sucesso, e outros de decepção.
O Projeto Motor aproveita essa nova troca de comando na Ferrari para relembrar dos últimos cinco chefes de equipe que passaram pela equipe.
Jean Todt: 1993-2007
Curiosamente, começamos com o nome de maior sucesso da lista. O francês Jean Todt foi a mente por trás do período de conquistas da Ferrari nos anos 2000, que foi um dos maiores domínios da história da F1.
Todt se juntou ao time em 1993, com a missão de acabar com o jejum de títulos de pilotos que durava desde 79. Com um estilo rígido e estratégico, ele pouco a pouco juntou as peças que tornaram a Ferrari um conjunto imbatível.
Primeiro, veio Michael Schumacher em 96, logo após o alemão conquistar dois títulos seguidos pela Benetton. Em seguida, chegaram Ross Brawn e Rory Byrne, aliados de Schumacher na Benetton e que fortaleceriam o corpo técnico do time.
Mas a jornada rumo ao topo não foi fácil. A Ferrari sofreu derrotas doloridas, e bateu na trave nas campanhas de 97, contra Jacques Villeneuve, da Williams, e em 98 e 99, contra Mika Hakkinen, da McLaren.
Mas, a partir de 2000, as coisas deslancharam. Já com Rubens Barrichello no segundo cockpit, a Ferrari emendou uma sequência de cinco títulos consecutivos com Schumacher, estabelecendo um verdadeiro império na F1.
Só que, depois de atingir a glória, as figuras do sucesso gradativamente foram saindo. Schumacher e Brawn deixaram a Ferrari após a temporada de 2006, enquanto Todt se afastaria da chefia ao término de 2007, quando ainda conquistou mais um título com Kimi Raikkonen.
Desta forma, a Ferrari teria de passar por um período de adaptação, onde colocaria à prova sua capacidade de repor as importantes peças que deixaram o time.
Stefano Domenicali: 2008-14
Em sua nova fase, a Ferrari decidiu apostar em uma prata da casa. Stefano Domenicali ocupava a posição de diretor esportivo do time, e acompanhou de perto toda a fase de sucesso. Mas se tratava de um momento de transição, não apenas pela troca de chefia, mas também de todas as figuras de destaque.
Inicialmente, a Ferrari se manteve competitiva, e conseguia permanecer como força na luta por títulos. No entanto, alguns erros operacionais impediram conquistas, sobretudo com Felipe Massa, em 2008, e com Fernando Alonso, em 2010.
Sob a supervisão de Domenicali, a Ferrari passou por uma reestruturação interna, com a saída de Aldo Costa do posto de diretor técnico, e um espaço sendo dado a Pat Fry, James Allison e Nikolas Tombazis.
E, para piorar, paralelamente a isso havia uma outra equipe que estava em plena ascensão: a Red Bull, que passou a emendar uma sequência de títulos com Sebastian Vettel, sem dar muitas chances à concorrência. Alonso até tentou incomodar em 2012, mas acabou com o vice.
A crise apertou no início de 2014. Na transição para o regulamento V6 turbo híbrido, a Ferrari perdeu muito terreno e não foi nada competitiva, sendo constantemente superada por Mercedes, Red Bull e até pela Williams. Assim, em abril daquele ano, Domenicali pediu demissão, assumindo a responsabilidade pelo mau momento na pista.
Sob a sua gestão, a Ferrari obteve 20 vitórias, quatro vices entre os pilotos e um título de construtores, a sua última conquista até os dias de hoje. Atualmente, Domenicali ocupa o posto de diretor executivo da F1.
Marco Mattiacci: 2014
Após a saída de Domenicali, a chefia foi parar nas mãos de Marco Mattiacci. Tratava-se de uma mudança na abordagem da Scuderia, pois o novo chefe ocupava o posto de diretor executivo da Ferrari nos Estados Unidos, e não tinha familiaridade alguma com a F1. Tanto que ele mesmo pensou que a oferta da vaga inicialmente era uma piada.
A missão principal de Mattiacci era colocar a casa em ordem, com uma restruturação no departamento de motores, tido como o grande calcanhar de Aquiles da Ferrari no novo regulamento. Além disso, foi na gestão de Mattiacci que Alonso acertou sua rescisão com a Ferrari para a chegada de Sebastian Vettel em 2015.
A questão é que a Ferrari passava por uma mudança muito mais profunda, e neste processo sobrou para o próprio Mattiacci. Em novembro de 2014, apenas sete meses após assumir o cargo, o italiano foi desligado da chefia, muito por conta de sua pouca integração com o mundo da F1, o que a Ferrari temia que poderia enfraquecê-la nos bastidores. Isso fez com que a passagem de Mattiacci fosse a mais curta pela posição nos últimos tempos.
Maurizio Arrivabene: 2015-18
Como falamos há pouco, era um período de mudanças mais profundas na Ferrari. Em 2014, Luca di Montezemolo deixou a presidência da empresa, e em seu lugar entrou Sergio Marchionne.
E partiu do novo mandatário a decisão de trocar o chefe da Scuderia, já que Marchionne considerava fundamental que quem assumisse o cargo tivesse mais intimidade com o universo do automobilismo.
O seu escolhido foi Maurizio Arrivabene, que era representante da Marlboro, a principal patrocinadora da Ferrari. Nesta posição, o italiano era frequentador assíduo dos bastidores da categoria, e inclusive fez parte da Comissão da F1 nas vagas destinadas a grandes patrocinadores.
Sob sua gestão, as coisas até que começaram bem, com três vitórias de Sebastian Vettel em 2015 e a recuperação da Ferrari na era turbo híbrida. Mas em 2016 mais uma vez as dificuldades apareceram, então Arrivabene supervisionou mudanças: James Allison deixou o posto de diretor técnico e foi substituído por Mattia Binotto, que até então era o encarregado do departamento de motores.
Dali em diante a Ferrari teve duas campanhas fortes, em 2017 e 2018, quando foi força constante na luta por vitórias. Mas, em ambos os campeonatos, faltou fôlego para Vettel lutar pelo título contra Lewis Hamilton da Mercedes. E, em meio a falhas técnicas e operacionais, a Ferrari sofreu um duro golpe: em julho de 2018, Marchionne faleceu, o que novamente colocava a Scuderia em fase de mudanças.
Diante de todo este cenário, e com mais uma derrota para a Mercedes, Arrivabene deixou o cargo antes do início da temporada de 2019, encerrando uma passagem que deu 14 vitórias à Ferrari e dois vice-campeonatos.
Mattia Binotto: 2019-22
A partir de 2019, o novo chefe da Ferrari era Mattia Binotto, continuando a sua ascensão por diferentes cargos em Maranello.
Na primeira temporada, já com Charles Leclerc a bordo, a Ferrari novamente não fez frente à Mercedes. Mas ela teve como ponto alto nove pole positions e três vitórias, incluindo em Monza, em um triunfo amplamente creditado à forte unidade de potência da Ferrari. Mas justamente este se tratou de um tópico que causou dor de cabeça a Binotto nos bastidores.
Na verdade, desde 2018 o motor da Ferrari era alvo de investigações, mas nenhuma irregularidade havia sido comprovada. Só que o tema voltou a esquentar depois de 2019, o que no fim resultou em um acordo entre Ferrari e FIA, que explicamos na época neste vídeo abaixo.
Coincidência ou não, depois disso a Ferrari teve duas temporadas bastante apagadas em 2020 e 2021, quando passou em branco e não venceu corridas. A aposta para a recuperação veio em 2022, com a mudança profunda no regulamento técnico. E a Ferrari começou o ano como força, com vitórias para Leclerc e a promessa de enfim voltar a lutar pelo título.
Mas não foi o que aconteceu. Ao longo da temporada, a equipe cometeu uma série de erros operacionais e estratégicos, além de falhas técnicas, e a acabou amplamente ofuscada pela Red Bull e Max Verstappen. Foi a gota d’água. Depois do término do campeonato, Binotto renunciou ao cargo, o que vai colocar a Ferrari novamente em uma fase de mudanças.
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