DeltaWing foi um dos projetos surpreendentes que andaram em Le Mans

Garagem 56: a vaga para experimentos inovadores nas 24h de Le Mans

Le Mans sempre esteve antenada nas novas tendências da indústria automotiva e tentou durante os anos estimular que o desenvolvimento dessas tecnologias acontecesse na pista.

Algumas vezes, a aposta atraiu montadoras e se mostrou válida, em outras, nem tanto. Nesta edição do WEC em 5 minutos, vamos falar um pouco da relação de desenvolvimento tecnológico e competição da categoria.

O endurance sempre foi visto pelas principais montadoras como um bom laboratório para seus produtos. É um tipo de corrida muito exigente, que leva os carros ao limite por um longo período, o que exige um modelo rápido e também muito confiável.

Discos de freios, uma série de novos combustíveis e arquitetura de motores, e até faróis de neblina foram testados neste tipo de competição antes de irem às ruas. Só que esta não é uma equação muito fácil de se resolver do ponto de vista dos promotores.

Por um lado, existe um desejo pelos carros mais incríveis participando de seu evento. Por outro, é preciso ficar de olho nos custos para não assustar os potenciais inscritos.

Desde seu ressurgimento, no começo da década de 2010, o WEC tem apostado na fórmula em que grandes marcas e equipes independentes são separadas nas classes. Havia, por exemplo, a LMP1, com carros híbridos e desenvolvimento aerodinâmico bastante aberto para que as montadoras investissem seus grandes orçamentos. Já os times privados poderiam comprar pacotes de protótipos LMP2 para competirem na classe secundária.

Foi neste momento que vimos a vitória do primeiro carro híbrido em Le Mans na história, usando tecnologia de recuperação de energia que recarrega motores elétricos, combinada a um motor a combustão interna.

O auge dessa era foi quando tivemos a briga entre Porsche, Audi e Toyota na LMP1. Mas com o alto custo, e diante do surgimento de categorias mais baratas e com um foco de mercado diferente, como a Fórmula E, esta conta ficava cada vez mais difícil de fechar.

Le Mans e WEC, no entanto, não desistiram. Resolveram jogar suas fichas em uma nova classe principal moldada para montadoras, a Hipercarros, que já explicamos os detalhes neste outro vídeo aqui da série abaixo.

Por enquanto, a ideia parece estar dando certo. Até 2024, já temos confirmadas Toyota e

Glickenhaus, além da entrada de Peugeot e Ferrari, e dos modelos LMDh, que incluirá a Alpine, Porsche, Audi, Lamborghini e Cadillac.

A Garagem 56 de Le Mans

A Garagem 56 é um braço de desenvolvimento tecnológico de Le Mans.  Essa vaga nas 24 Horas foi criada para projetos de inovação. O carro não entra na classificação oficial da prova, mas também não precisa se adequar ao regulamento técnico.

A ideia é mostrar algo de novo ao mundo. Em 2012, o ocupante da vaga foi o carismático protótipo DeltaWing. O modelo era um experimento aerodinâmico que foi apresentado primeiro para a Indy, mas que, após ser rejeitado, ganhou desenvolvimento para correr em provas de endurance.

Ele era inovador porque buscava diminuir ao máximo o arrasto aerodinâmico, inclusive abrindo mão de asas e outros dispositivos do tipo, aproveitando ao máximo a eficiência de seu assoalho.

Além disso, ele era extremamente leve por ser pequeno e usar materiais e ligas especiais. Isso tudo fazia com que ele tivesse uma relação de peso, potência e consumo de combustível muito boa, indicando novas possibilidades para a área.

Em 2016, o projeto que ganhou espaço teve foco em pilotos deficientes. Quatro anos antes, o piloto Frédéric Sausset teve seus quatro membros amputados por conta de uma infecção bacteriana.

Mesmo com o sério problema, ele não desistiu de seu sonho de correr em Le Mans, e investiu no desenvolvimento de um sistema para poder competir. Um protótipo LMP2 Oreca 7 foi adaptado de forma que os pedais de acelerador e freio ficassem conectados em suas coxas e um mecanismo fosse ligado diretamente ao seu braço direito para que ele pudesse virar o carro.

A transmissão era automática. Ele dividiu o carro com outros dois pilotos sem nenhuma deficiência. Quando a troca de era feita entre eles, todo o equipamento de auxílio a Sausset era retirado junto.

E não para por aí. Para algum caso de situação de emergência como um incêndio, o modelo ainda contava com um banco ejetável para tirá-lo do carro em menos de sete segundos sem a necessidade de retirada de todos os cintos e equipamentos.

Sausset e sua equipe tiveram sucesso ao conseguirem terminar as 24 Horas daquele ano. E o time seguiu seu desenvolvimento retornando a Le Mans em 2021, desta vez com dois pilotos paraplégicos.

O sistema utilizado desta vez tinha acelerador em forma de aletas atrás do volante e o freio em alavanca ao lado do piloto, que também contava com uma espécie de gatilho para trocar as marchas.

O time recebeu a bandeira quadriculada mais uma vez, completando 334 voltas. Para se ter uma ideia do ritmo, eles ficaram seis voltas à frente do último colocado da classe LMP2 e apenas duas atrás do penúltimo da classe.

O próximo passo com foco em avanço tecnológico de Le Mans está marcado para 2024, quando a prova pretende abrir toda uma classe para carros movidos a hidrogênio.

A Red Bull e a fabricante de protótipos Oreca já fizeram um acordo para projetarem e construírem o chassi. Outras empresas estão envolvidas no desenvolvimento da parte de estrutura para armazenagem e reabastecimento de hidrogênio, além do trabalho feito na unidade de potência.

Diversas montadoras, como a Hyundai, já mostraram interesse em participar do experimento, que pode se tornar inclusive uma classe fixa do WEC a partir de 2025.

E quem sabe é até o começo de uma nova área do automobilismo, o que certamente representaria um espaço importante para o desenvolvimento voltado para carros  de rua do futuro.

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