O fim da carismática: por que a Minardi desapareceu da f1?

De todas as equipes que já passaram pela F1 ao longo da história, poucas tiveram tanto carisma com os fãs quanto a Minardi. O time italiano ficou na categoria por 20 anos, e sequer conquistou um pódio.

Mas, ainda assim, a Minardi é lembrada até hoje com muita nostalgia. Em seu período na F1, a Minardi passou por várias fases diferentes, com trocas de donos, crises e recuperações, e momentos que pareciam mais promissores.

O nome “Minardi” deixou de existir na F1 em 2006, quando virou Toro Rosso, dando origem à atual AlphaTauri. Como foi este processo de saída da Minardi da F1? E como que ela teve uma sobrevida em outras categorias do automobilismo?

O personagem que deu início a toda essa história foi Giancarlo Minardi, italiano nascido na cidade de Faenza. No ano de 1979, fundou a sua própria equipe no automobilismo, a Scuderia Minardi, que competiu nas categorias de base.

Já em 85, a Minardi enfim estreou na F1, e desde então se estabeleceu como um time de meio para fundo do grid. Os pontos altos da história vieram no início da década seguinte.

No GP dos Estados Unidos de 90, Pierluigi Martini colocou a Minardi na primeira fila do grid, inclusive à frente do campeão Ayrton Senna com a McLaren. Depois, entre 91 e 93, a equipe conquistou os melhores resultados de sua história, com três quartos lugares com o mesmo Martini, e com Christian Fittipaldi.

Porém, a esta altura, a Minardi já passava por sérias dificuldades financeiras. Assim, em 1994, veio a primeira grande mudança de olho na sobrevivência. A Minardi teve uma fusão com a Scuderia Italia, outra equipe que também sofreu financeiramente ao longo de 93.

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A frequente mudanças de acionistas

Giancarlo Minardi passou a ter apenas uma participação acionária reduzida, dividindo a direção do time com os antigos proprietários da Scuderia Italia. Nesta fase, a Minardi não mudou de patamar e continuou sendo uma equipe sem grandes ambições.

Mas, fora das pistas, havia quem visse muito potencial de negócios. Em dezembro de 1996, um consórcio liderado por três investidores entrou na jogada, e comprou a maior fatia que antes pertencia aos antigos donos da Scuderia Italia.

Um deles era o ex-piloto Alessandro Nannini, que correu pela Minardi nos anos 80. Outro era Gabriele Rumi, fundador da Fondmetal, uma das maiores fabricantes de rodas de alumínio do mundo, e que chegou a ter sua própria equipe de F1 no início da década de 90.

O terceiro era Flavio Briatore, chefe da equipe Benetton, e que havia há pouco deixado de ser dono da Ligier. Mas o que Briatore queria, exatamente, com a Minardi? O plano era simples.

Naquela altura, a gigante tabagista British American Tobacco queria entrar na F1 com uma equipe própria, e seu plano era adquirir alguma escuderia que já estivesse no Mundial. Briatore queria fazer este negócio, e vender à empresa a vaga da Minardi no campeonato.

Mas os outros sócios não apoiaram a movimentação, e, com isso, Briatore se desfez de suas ações. A British American Tobacco acabou fechando acordo com a Tyrrell, o que deu origem, em 99, à British American Racing, ou BAR.

No meio de todas essas mudanças, Gabriele Rumi se tornou sócio majoritário da Minardi, enquanto o restante das ações estava com Giancarlo Minardi. Na época, a Minardi recorria a pilotos pagantes, e sofria constantemente no fundão do grid.

Em busca de financiamento, Minardi teve diversos sócios durante a década de 90
Em busca de financiamento, Minardi teve diversos sócios durante a década de 90

A crise ficou ainda maior quando Rumi descobriu, no final do ano 2000, que estava com câncer, então ele deixou a Minardi para se afastar de vez da F1. Só que seria necessário encontrar um outro comprador.

O canal esportivo PSN, que patrocinava o piloto Gastón Mazzacane, fez uma oferta, mas desistiu de última hora da proposta e o negócio não saiu. Este seria o fim de nossa história se não tivesse surgido no caminho um personagem crucial: Paul Stoddart.

A luta da Minardo sob Paul Stoddart

Australiano, empresário do ramo da aviação, Stoddart era um grande apaixonado por automobilismo. A sua companhia aérea, a European Aviation, patrocinou a Tyrrell em 97, e ele até sondou a possibilidade de comprar a equipe.

Mas sua proposta foi financeiramente inferior à da British American Tobacco, então, como já dissemos, a Tyrrell virou BAR. Em 99, o patrocínio foi com a Jordan, e também tentou comprar uma parte do time, mas de novo sem sucesso.

Naquele mesmo ano, se tornou sócio de uma equipe da F3000, criando a European Racing, que se tornou afiliada da Arrows em 2000. Falando nisso, Stoddart também cogitou adquirir a Arrows, mas o acordo não avançou.

A chance de realizar o sonho de ser dono de equipe na F1 apareceu justamente em dezembro de 2000. Naquela altura, a Minardi negociava com a Supertec, empresa de Flavio Briatore, para usar os antigos motores Renault na temporada de 2001.

Só que a Minardi estava em crise, e não conseguiu honrar o acordo. Vendo essa situação, Briatore contactou Stoddart, e deu a dica de que ele conseguiria comprar a Minardi por um preço bem barato. Não demorou muito para toda a negociação ser concluída.

Então, a partir de 2001, a Minardi sobreviveria, e com uma cara nova. Os carros passaram a ser pretos, e a levar a sigla “PS”, de Paul Stoddart, em seus nomes. Naquele ano, ela contaria com o estreante Fernando Alonso, mas, com um carro montado às pressas, não conseguiu resultados de destaque.

Emprestado pela Renault, Alonso deu seus primeiros passos na F1 pela Minardi
Emprestado pela Renault, Alonso deu seus primeiros passos na F1 pela Minardi

Só que, nos anos seguintes, a Minardi teria alguns momentos memoráveis. Em 2002, passaria a ter o apoio financeiro do governo malaio, e teve como ponto alto o quinto lugar de Mark Webber em Melbourne, com direito a festa no pódio com os australianos. Um ano depois, ajudados pela chuva, lideraram a pré-classificação na França. Em 2004, marcou mais um pontinho, enquanto que, em 2005, anotou com os dois carros no fiasco de Indianápolis.

No entanto, em termos financeiros, a situação continuava precária. A Minardi aumentou o seu orçamento ano após ano, mas ainda assim eram cifras insuficientes para uma F1 cada vez mais cara. E, neste período, houve alguns desentendimentos no meio do caminho. Por exemplo, em 2004, perdeu o contrato com sua patrocinadora principal, depois de ter decidido correr sem patrocinadores em Silverstone, para homenagear o seu diretor esportivo John Walton, que havia falecido pouco antes.

A situação da Minardi era tão crítica que, para reduzir os seus custos, ela havia recebido uma permissão especial para continuar a usar motores V10 a partir de 2006, quando a F1 adotaria motores V8. Nós já contamos essa história por aqui.

Mesmo assim, Stoddart sabia que os dias estavam contados, então ele queria dar um jeito de vender o time. No total, recebeu mais de 40 propostas, mas uma delas chamou a atenção. No fim de semana do GP da Turquia, Bernie Ecclestone apresentou Stoddart a Dietrich Mateschitz, fundador e dono da Red Bull, que estava em busca de adquirir uma segunda equipe.

Do lado de Stoddart, havia algumas poucas condições – como, por exemplo, que a equipe continuasse com sede em Faenza, na Itália, e que, caso a Red Bull precisasse se desfazer de algum funcionário, que ela pagasse um ano inteiro de salário no ato da demissão.

Não houve objeção alguma, então, em setembro, a Minardi anunciou que havia sido comprada pela Red Bull, o que dava início à Scuderia Toro Rosso. Mas a nossa história não acaba por aqui.

A sobrevida da Minardi fora da F1

Na virada para 2006, tanto Paul Stoddart quanto Giancarlo Minardi detinham o direito do uso do nome “Minardi” no automobilismo. E aí tivemos duas trajetórias paralelas. Do lado de Stoddart, ele cogitou a possibilidade de inscrever a Minardi como uma nova equipe na F1 a partir de 2008, mas o plano não foi para a frente.

Em vez disso, continuou com o programa com um carro de F1 de dois lugares para levar convidados. Da parte competitiva, olhou para os Estados Unidos: se tornou sócio da equipe HVM da Champ Car, e a operação foi rebatizada de Minardi Team USA.

Ali, venceu duas corridas, e viu Robert Doornbos fechar em terceiro no campeonato. Porém, quando a categoria se fundiu com a IRL para 2008, para formar a composição da atual Indy, Stoddart se retirou da operação e levou junto o nome da Minardi.

Do lado de Giancarlo Minardi, ele se associou com uma equipe da EuroSeries 3000, e viu a Minardi conquistar o título de 2007. Naquele mesmo ano, se aliou à equipe Piquet Sports na GP2, criando a Minardi Piquet Sports, que durou só uma temporada.

Atualmente, a história da Minardi é celebrada no Minardi Day, quando os antigos carros da escuderia desfilam na pista. E Giancarlo Minardi segue envolvido diretamente no mundo do automobilismo, já que é atualmente, o presidente da Comissão de Monopostos da FIA.

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