O quão diferente era a F1 quando Fernando Alonso estreou em 2001?

No fim de semana do GP do Bahrein de 2023, Fernando Alonso celebrou uma ocasião marcante: sua carreira na F1 completou incríveis 22 anos. O espanhol fez sua primeira largada em março de 2001, dando início à trajetória mais longeva que a categoria já viu.

Como você deve imaginar, a F1 mudou profundamente do GP da Austrália de 2001 para cá, e nos mais diferentes aspectos. Assim, a categoria em que Alonso estreou lá no começo do século é bem diferente da atual.

Isso vai desde as equipes e pilotos que compunham o grid, as regulamentações técnicas, as regras esportivas, entre outras coisas. O Projeto Motor vai detalhar as maiores diferenças da F1 da estreia de Fernando Alonso até os dias de hoje.

As equipes do grid

Das 11 equipes que a F1 tinha em 2001, apenas três continuam no grid até hoje com o mesmo nome: Ferrari, McLaren e Williams, que coincidentemente foram as maiores forças daquele ano, as únicas que venceram corridas e anotaram poles em 2001.

Das outras oito, ou as equipes mudaram de nome, ou desapareceram de vez. A começar pela equipe de Alonso na época, a carismática Minardi. A escuderia italiana, que àquela altura era a lanterna do grid, anos mais tarde viraria a Toro Rosso, e hoje é a AlphaTauri. Já a clássica Benetton, da qual Alonso era piloto de testes, fazia em 2001 a sua última temporada na categoria – depois ela viraria Renault, e trocaria de nome algumas vezes até se tornar Alpine.

A atual Aston Martin, equipe de Alonso em 2023, na época era a Jordan, que almejava se desvencilhar do pelotão intermediário. Outros times que tinham ambição parecida eram a Jaguar e a British American Racing, ou BAR. Estas duas só conseguiram crescer quando mudaram de gestão: a Jaguar depois se tornaria a equipe Red Bull, enquanto que a BAR teve proprietários diferentes até virar Mercedes.

Outras simplesmente sucumbiram no meio do caminho. A Prost enfrentava dificuldades financeiras, e decretou falência ao fim daquele ano. A Arrows durou um pouco mais, mas fechou as portas em meados de 2002.

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Troca de geração de pilotos

Em seu início na F1, Alonso dividiu o grid com alguns nomes que já parecem parte de uma F1 bem distante. O ano de 2001 foi o último de dois grandes personagens dos anos 90 – o bicampeão Mika Hakkinen, da McLaren, e Jean Alesi, que começou a temporada na Prost e se aposentou pela Jordan. Outras figuras que já eram experientes e que viviam a fase final de suas carreiras eram Eddie Irvine e Jos Verstappen, o pai de Max Verstappen.

Entre os brasileiros, o principal nome era Rubens Barrichello, que partia para sua segunda temporada com a Ferrari e estava em busca de sua segunda vitória na F1. Também estavam no grid Luciano Burti, que começou o ano com a Jaguar, o estreante Enrique Bernoldi, com a Arrows, além de Tarso Marques, que era justamente o parceiro de Alonso na Minardi.

Inclusive, houve dois GPs em 2001 que também tiveram a participação de Ricardo Zonta, reserva da Jordan, o que deixou o grid com cinco brasileiros, o recorde para o país. Quanta coisa mudou de lá para cá…

Alonso estreou em um regulamento técnico muito diferente

Tecnicamente a F1 tinha uma outra cara. Por regulamento, os carros de 2001 tinham dimensões muito mais reduzidas, além de serem quase 200 kg mais leves do que os modelos de 2023. Na época, os motores eram V10, de 3 litros, e havia alguns fornecedores que não estão mais na categoria.

O motor da Minardi era o European, um antigo motor Ford rebatizado, que chegava a aproximadamente 790 cv, com regime de giros de 16 200 rpm. Hoje, Alonso guia uma unidade de potência híbrida da Mercedes, com um motor a combustão de 1,6 litro e que gira a 15 000 rpm, mais uma unidade elétrica, em um conjunto que já supera os 1000 cv. Além disso, o câmbio da Minardi tinha seis marchas, enquanto que hoje o padrão é de oito.

Em 2001, os pneus contavam com frisos, na expectativa de reduzir a aderência e facilitar ultrapassagens – até porque o DRS, a asa traseira móvel, era uma ideia muito distante. Falando em pneus, a F1 tinha na época a concorrência de duas fabricantes diferentes, a Bridgestone e a Michelin – esta última que era a fornecedora da Minardi. Hoje, a fornecedora única é a Pirelli.

Alonso em sua Minardo durante a temporada de 2011
Alonso em sua Minardo durante a temporada de 2011

Em termos esportivos, a F1 passou por muitos ajustes nestes últimos 22 anos. Por exemplo, em 2001 não existiam punições de perda de posições no grid de largada por troca de motor ou de câmbio, ou por algum acidente causado pelo piloto na pista – isso só seria introduzido nos anos seguintes.

A sessão classificatória ainda não contava com Q1, Q2 e Q3. Na verdade, era uma hora de pista aberta, com cada piloto podendo dar um limite de 12 voltas, e indo à pista quando quiserem. E, no domingo pela manhã, os carros iam à pista para a sessão de aquecimento, o warm-up. Já na corrida, apenas os seis primeiros colocados pontuavam, o que dificultava a missão de Alonso em marcar pontos em sua campanha de estreia.

Em termos de calendário, muitas das pistas que hoje já são clássicas sequer haviam estreado: por exemplo, Bahrein, Azerbaijão, Singapura, Austin e Abu Dhabi. Em contrapartida, a F1 visitava outras praças, como Indianápolis, ou traçado antigo de Hockenheim, que ia por dentro da floresta.

Os recordes da F1 mudaram de patamar no período de Alonso

O grande nome de 2001 era Michael Schumacher, que havia acabado de se tornar tricampeão do mundo, e que ainda almejava quebrar os principais recordes da categoria. O que estava mais perto de seu alcance era o recorde de vitórias, que na época pertencia a Alain Prost, com 51. Schumacher superou este número ainda em 2001, no GP da Bélgica. Hoje, o recordista de vitórias é Lewis Hamilton, com 103 – ou seja, mais do que o dobro do antigo recorde de Prost.

Havia outras estatísticas que em 2001 pareciam inalcançáveis. O recordista de títulos era Juan Manuel Fangio, com cinco. Schumacher chegaria a sete em 2004, número que também foi igualado por Hamilton em 2020. Já em pole positions, o número a ser batido eram as 65 poles de Ayrton Senna. Estas Schumacher só bateu em 2006, mas também seria superado por Hamilton, que está com 103 no momento em que fizemos esta matéria.

Outra marca que parecia gigantesca eram os 256 GPs de Riccardo Patrese, que era o recordista de largadas da F1. Curiosamente, de 2001 para cá, nada menos do que oito pilotos superaram este número, sendo que o recordista atual é justamente Alonso, que chegou às 357 largadas no GP do Bahrein de 2023.

Já que estamos falamos de recordes, é importante reforçar o quão precoce o espanhol foi considerado na época. Alonso fez seu primeiro GP aos 19 anos, 7 meses e 4 dias, e era na época o terceiro piloto mais jovem da história a correr na F1.

De lá para cá, a categoria foi ficando mais e mais precoce, já que surgiram mais quatro pilotos que estrearam ainda mais jovens – Lando Norris e Jaime Alguersuari, com 19 anos e 4 meses, Lance Stroll, com 18 anos e 4 meses, e Max Verstappen, com incríveis 17 anos e 5 meses.

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