Le Mans é uma das provas mais desafiadoras do automobilismo mundial
(Foto: WEC)

Le Mans: a história e os desafios da pista das 24 Horas

Além do desafio de uma prova longa de 24 horas sem interrupções, Le Mans também se tornou um ícone da modalidade de endurance no automobilismo por causa de seu circuito.  Veloz, com alguns trechos mais técnicos incluídos nas últimas décadas, o traçado marcou época com suas diferentes formatações.

Mesmo com a evolução por mais segurança, a pista ainda mantém algumas características do esporte a motor mais tradicional, andando ainda hoje em vias públicas. O que não deixa de ser um embate interessante entre um estilo mais raiz do automobilismo, mas com alguns dos carros mais modernos que existem hoje em todo o mundo, desde os protótipos até os GTs.

Ela carrega o nome da região em que fica localizada, La Sarthe, no noroeste da França, a 213 quilômetros de Paris. Fica nas cercanias de Le Mans, uma pequena cidade de cerca de 150 mil habitantes e cuja economia gira em torno da agricultura e do turismo local, em especial a corrida de 24 Horas.

Desde o começo do século 20, a região logo mostrou sua vocação para sediar corridas de carros. O GP da França de 1906 aconteceu lá em um trajeto semelhante a um grande triângulo, com longas retas das estradas locais.

O traçado usado atualmente teve uma primeira versão em 1920 para uma corrida de motos, com uma extensão de aproximadamente 16 quilômetros. Foi nessa versão que, em 1923, foi realizada a primeira edição das 24 Horas de Le Mans.

As alterações, no entanto, foram muitas. E um circuito em que basicamente só existiam longas retas, foram nascendo curvas para diminuir um pouco a velocidade dos carros e aumentar a segurança, mas sempre mantendo o nível de desafio aos pilotos e máquinas.

O traçado atual de Le Mans e a pista que recebeu o GP da França na mesma região, em 1906
O traçado atual de Le Mans e a pista que recebeu o GP da França na mesma região, em 1906

Todos se lembram sempre um dos acidentes mais marcantes da história do automobilismo, em plena reta de Le Mans durante a edição de 1955, em que o carro do francês Pierre Levegh foi arremessado em direção a arquibancada principal. Além do piloto, 83 espectadores morreram, além de 180 ficarem feridos.

Com uma repercussão muito negativa e que resultou até na proibição do automobilismo em alguns países e a desistência de diversas marcas de investimento no esporte (a Mercedes deixou todas as competições por quase 30 anos), os organizadores precisaram se mexer e modernizar a pista.

Em sua quarta grande atualização, em 1972, o circuito começou a tomar o formato que temos atualmente, com a introdução de alguns “esses” bastante técnicos no trecho final. A grande mudança que até hoje ainda causa alguma tristeza nos fãs foi em 1990, quando a antológica reta Mulsanne, que tinha seis quilômetros, foi dividida em três através da inclusão de duas chicanes. A intenção foi de diminuir a velocidade no local, que teve um recorde cronometrado de 407 km/h em 1988.

Le Mans atual e o acerto do carro

O traçado de hoje tem 13,6 quilômetros com muita variação entre trechos bastante técnicos e outros só de pé embaixo. Ter um carro muito bem acertado é essencial, pois você precisa de um equilíbrio entre boa velocidade de reta para os primeiros setores, mas pressão aerodinâmica suficiente para conseguir passar pela parte final, com curvas de média e baixa bem desafiadoras.

Ao contrário de outras modalidades, no entanto, esse comprometimento entre os setores não pode ser exagerado de uma forma que force demais a pilotagem, pois é preciso considerar que o carro precisa estar confortável o bastante para que os pilotos o dirijam por 24 horas consecutivas sem cometer grandes erros que comprometam a corrida. Um pequeno deslize, os muros próximos podem acabar com todo o esforço e jogar fora os meses de desenvolvimento e preparação.

E também existe a questão de buscar um carro neutro dentro do estilo dos três pilotos que competem juntos. Nunca existirá algo ideal para todos, por isso a importância de encontrar uma equipe de pilotos com bom entrosamento. Muitas vezes, algum dos pilotos da equipe precisa adaptar seu estilo ao dos parceiros para que o acerto não seja comprometido.

Equilíbrio dos carros para estilos diferentes dos pilotos, mistura de trechos de longas retas com curvas desafiadoras e mudanças de temperatura entre a noite e o dia é o grande desafio em Le Mans
Equilíbrio dos carros para estilos diferentes dos pilotos, mistura de trechos de longas retas com curvas desafiadoras e mudanças de temperatura entre a noite e o dia é o grande desafio em Le Mans (Foto: WEC)

A mudança da luz também é algo com que pilotos e equipes precisam lidar. A noite chega cerca de 6 horas de prova e a volta do sol, pelas cinco e meia da manhã. Especificamente em 2021, inclusive, o horário da prova foi atrasado em uma hora, das 15 horas locais para as 16h, a pedido da televisão. Isso vai diminuir o primeiro trecho com sol e também iniciar a prova já em um momento de menos calor.

Importante ressaltar que a mudança entre noite e dia não mexe apenas com a visibilidade dos pilotos, mas temperatura ambiente e do asfalto. Por conta desta variação, o comportamento dos carros muda muito durante as 24 Horas, com parte do dia, em que a pista está mais quente, para a noite, mais fresco. Ao mesmo tempo, a pista também vai ficando mais emborrachada com o passar da prova. Por conta de todas essas variáveis, as equipes usam pneus desenvolvidos especialmente para Le Mans, que não necessariamente utilizados em outras etapas do Mundial de Endurance.

Por conta dessas características de temperatura e pressão aerodinâmica, o carro acaba ficando mais veloz na parte noturna, por isso se vê muitas vezes as voltas mais rápidas da corrida neste trecho, mesmo que fique mais difícil para o piloto enxergar.

Por conta de todas essas características, além de sua história, as 24 Horas de Le Mans é uma prova sem igual no automobilismo mundial.

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