Luca Badoer teve passagem pífia pela Ferrari em 2009
(Foto: Ferrari)

Por que Luca Badoer foi um fiasco na Ferrari em 2009?

Luca Badoer substituiu Felipe Massa na Ferrari, em 2009, e sua passagem pela equipe italiana foi considerada um tremendo fiasco. O piloto andou frequentemente nas últimas posições e perdeu a vaga somente depois de dois GPs. Mas por que ele enfrentou tanta dificuldade na F1? 

Existiu todo um contexto que não colaborou com a estreia do italiano na Ferrari, além, claro, de uma falta de desempenho do próprio piloto na hora que a chance lhe foi concedida.

Desde um momento conturbado da equipe, até o fato de que Badoer não estava na ativa e não conhecia o carro de 2009, que representava uma mudança bem radical dos que ele já tinha andado, por conta da mudança de regulamento da F1 naquela temporada.

Isso tudo acabou se tornando a receita para o fracasso de Badoer, que também não mostrou ritmo suficiente para justificar uma paciência maior por parte da Ferrari.

A carreira de Badoer

Luca Badoer começou a ganhar destaque ainda nos anos 90, quando se sagrou campeão da F3000 Internacional, inclusive superando Rubens Barrichello. Isso já o colocou a caminho da F1, onde ele acabou competindo por equipes como Scuderia Italia, Minardi e Forti Corse. Em 98, houve o início da aliança mais longa de sua carreira: Badoer se tornaria piloto de testes oficial da Ferrari.

No ano seguinte, quase que viria sua primeira grande oportunidade. Mesmo contratado pela Ferrari, ele foi emprestado à Minardi para competir em 99, e quando Michael Schumacher sofreu o acidente que lhe rendeu uma fratura na perna, em Silverstone, Badoer foi considerado um dos favoritos para assumir sua vaga. Mas a Ferrari acabou escolhendo Mika Salo por se tratar de um momento de “grande tensão e pressão”, o que não deixou Badoer nem um pouco feliz. 

Assim, o piloto permaneceu na Minardi até o fim daquela temporada e protagonizou momentos dramáticos. Um dos mais lembrandos foi quando ele abandonou em Nurburgring quando estava em quarto lugar, não aguentou e caiu nas lágrimas ao lado do carro. Ele terminou a temporada de 99 no zero, estabelecendo a marca de 49 corridas na categoria sem nunca conseguir marcar pontos, um recorde na F1.

Nos anos seguintes, Badoer se afastou de vez das corridas e se dedicou exclusivamente ao posto de piloto de testes da Ferrari, e inclusive foi considerado peça importante para a sequência de títulos de 2000 a 2004. A questão é que a F1 foi impondo mais e mais restrições aos testes realizados em pista, e 2009 foi o primeiro ano em que Badoer sequer conseguiu guiar o carro da Ferrari. Foi quando justamente surgiria a oportunidade de competir pelo time de Maranello. 

A chance na Ferrari em 2009

Na classificação para o GP da Hungria, Felipe Massa foi atingido na cabeça por uma mola, e as lesões que sofreu o deixariam afastado por um longo tempo. A primeira escolha da Ferrari para substituir o brasileiro era o até então aposentado Schumacher, que topou o convite, fez testes com carros antigos para facilitar sua readaptação, mas acabou não concretizando seu retorno pela Ferrari, alegando sentir efeitos de uma antiga lesão no pescoço. 

Coube à Ferrari, então, recorrer a Badoer, até para recompensá-lo pelo longo tempo de serviços prestados. O italiano voltaria a competir na F1 em uma situação longe da ideal: ele seria o mais velho do grid, com 38 anos; estava sem competir havia 9 anos e 9 meses, o que incluía não só a F1, mas também qualquer outra categoria de maior destaque; ele não guiava um F1 oficialmente desde dezembro de 2008; e a primeira corrida de seu retorno seria em Valência, um circuito de rua complicado que ele ainda não conhecia. 

Badoer cumprimenta Domenicali, então chefe da Ferrari, no grid do GP da Bélgica
Badoer cumprimenta Domenicali, então chefe da Ferrari, no grid do GP da Bélgica (Foto: Ferrari)

E Badoer se preparou como podia. A Ferrari o colocou para realizar um dia de filmagens em Fiorano, quando o italiano poderia dar algumas poucas voltas com o carro de 2009 para tentar se familiarizar. Mas, no geral, ele não estava preocupado, já que acreditava que não enfrentaria problemas ao voltar a competir nestas circunstâncias, pelo menos não do ponto de vista físico.

Na prática, as coisas se mostraram bem diferentes. Em Valência, Badoer andou nas últimas posições durante os treinos e terminou o Q1 na lanterna, 2s5 atrás do parceiro, Kimi Raikkonen, e 1s4 atrás do penúltimo colocado, Jaime Alguersuari. Na corrida, o italiano rodou após tomar um toque do estreante Romain Grosjean e recebeu a bandeirada novamente em último, enquanto que Raikkonen subiu no pódio com a outra Ferrari. 

Mais do que isso. Durante o fim de semana, Badoer mostrou que seu problema ia muito além da falta de velocidade, já que ele também não estava familiarizado com os procedimentos de uma forma geral. Ele cometeu quatro infrações diferentes por excesso de velocidade no pitlane, totalizando 5400 € em multas e uma reprimenda, além de levar um drive through durante a corrida por atravessar a linha branca da saída dos boxes. Ele também deixou Grosjean passar depois de seu pitstop por conta de um mal entendido, e colidiu na traseira da Force India de Adrian Sutil no parque fechado, depois que a corrida acabou. 

O chefe da Ferrari, Stefano Domenicali, reconheceu que a situação estava longe da ideal, e abriu a possibilidade de substituir Badoer caso o mau rendimento persistisse. Já o piloto baixou a guarda, disse que não era “um robô ou o Super-Homem” e pediu paciência, até porque a corrida seguinte seria em Spa, uma pista que ele já conhecia. 

Estreia de Badoer pela Ferrari foi complicada em Valência
Estreia de Badoer pela Ferrari foi complicada em Valência (Foto: Ferrari)

Na Bélgica, Badoer até parecia estar mais à vontade, mas as coisas não mudaram muito. Ele continuou andando no fundão durante os treinos livres, e no Q1 ele bateu, terminando a fase mais uma vez em último, e 1s3 atrás do parceiro Raikkonen. Já na corrida, Badoer manteve a última colocação e recebeu a bandeirada 47s atrás do rival mais próximo, enquanto que Kimi venceu a corrida com a outra Ferrari. 

A situação ficava cada vez mais insustentável, mas Badoer mantinha o otimismo. O GP seguinte seria em Monza, uma pista que ele conhecia como a palma de sua mão, e por isso até projetava a possibilidade de marcar pontos.

Mas, para a Ferrari, tudo dependeria da situação de Massa. O brasileiro passaria por mais exames para verificar suas condições. Caso ele precisasse de mais tempo de recuperação, a Ferrari iria rever a posição do parceiro de Raikkonen. E foi o que aconteceu: quando foi confirmado que Massa de fato ficaria afastado até o fim de 2009, a equipe italiana decidiu sacar Badoer e colocar em seu lugar Giancarlo Fisichella, que havia feito pole e pódio na corrida em Spa. 

O resumo da participação de Badoer na Ferrari

A passagem de Badoer foi considerada um dos grandes fracassos da história recente da Ferrari. Mas por que isso aconteceu? O próprio piloto culpou a imprensa, a quem considerou ter tido um papel fundamental para sua substituição.

Mas, depois de relembrarmos a história, é possível chegar a algumas outras conclusões. 

O longo tempo de inatividade certamente não o ajudou, e a falta de oportunidades para testes, para voltar a pegar o ritmo, também representou um grande empecilho.

Além disso, o carro de 2009 da Ferrari era bem diferente de tudo aquilo que Badoer estava acostumado, não só pela mudança de regulamento e o uso dos pneus slick, como também pelo fato de o modelo contar com o KERS – um sistema de recuperação de energia cinética. Isso exigia uma tocada diferente e afetava bastante o comportamento do conjunto durante as freadas, tanto que Fisichella, apesar de estar ativo e passar por um bom momento, não conseguiu pontuar em nenhuma das cinco corridas que fez pela Ferrari e até chegou a andar em último em algumas oportunidades.

Por fim, o pelotão de 2009 era bastante concorrido e mais implacável para quem passava por dificuldades. Em Valência, por exemplo, apenas 1s3 separou o líder do Q1 para o 19º da mesma fase. Em Spa, o circuito mais longo do calendário, essa diferença foi de apenas 1s2. Para quem tinha tantos “poréns” jogando contra, era a receita para o fracasso, e foi o que aconteceu com Badoer.

O piloto permaneceu associado à Ferrari até o final de 2010, e recebeu homenagens do time quando saiu. O italiano nunca mais competiria em categorias de destaque no automobilismo, e permanece até hoje como o recordista de GPs na F1 sem conseguir pontos. Atualmente, ele se dedica ao desenvolvimento da carreira no kart de seu filho, Brando.

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