Nigel Mansell no GP do Canadá de 1991

Como Mansell perdeu uma vitória em Montreal para acenar para o público

Nigel Mansell sempre foi reconhecido como um dos pilotos mais rápidos e agressivos da F1 nos anos 80 e começo dos 90. Mas, ao mesmo tempo, tem um incrível histórico de trapalhadas. Uma das mais famosas aconteceu no GP do Canadá de 1991.

O começo daquela temporada vinha sendo marcado por total domínio de Ayrton Senna com sua McLaren-Honda. O brasileiro fez a pole e venceu as quatro primeiras corridas e já somava 40 pontos no campeonato contra 11 de seu rival mais próximo, Alain Prost, da Ferrari.

Já existia, porém, um olhar especial de todos para a Williams. O time tinha um carro completamente novo em 1991, o modelo FW14, o primeiro projetado na equipe por Adrian Newey, que chegava após bons projetos na March. A supervisão técnica, claro, era de Patrick Head.

O novo carro da Williams tinha uma revisão completa da parte aerodinâmica, além de investir bastante em eletrônica, com diversas tecnologias que eram novidade para época. O Projeto Motor já contou os detalhes do desenvolvimento deste modelo em outro artigo.

Só que nas primeiras etapas, a equipe pagou o preço pelo pioneirismo, e enfrentou diversos problemas que resultaram em abandonos, especialmente com o novo câmbio semiautomático. Tanto Mansell quanto Riccardo Patrese abandonaram o GP dos EUA por falha na transmissão. Em Interlagos, o inglês novamente ficou pelo caminho por falha no câmbio enquanto Patrese se arrastou nas voltas finais em segundo dificuldade em engatar as marchas.

Em San Marino, Mansell deixou a pista em um acidente enquanto Patrese sofreu uma pane elétrica. O primeiro resultado positivo surgiria apenas em Mônaco, com o segundo lugar do piloto britânico, enquanto o italiano deixaria a corrida após uma rodada.

Mansell na Williams FW14 de 1991 em Monânco
A Williams mostrava velocidade nas primeiras provas de 1991, mas sofria com a confiabilidade

Mas o GP do Canadá, quinta etapa do Mundial, parecia ser um ponto de virada. O circuito de alta velocidade destaca uma das melhores características do FW14: o motor V10 da Renault.

Logo na classificação, a Williams fez uma dobradinha no grid, com Riccardo Patrese na pole, seguindo pelo companheiro Nigel Mansell. Senna sairia apenas em terceiro, com um tempo 0s6 atrás do primeiro. Tudo indicava para um passeio das Williams no domingo.

Domínio de Mansell até a volta final

Mansell tomou a ponta logo na largada e sumiu na frente. Na 20ª volta, ele já tinha 6s5 de vantagem para Patrese, segundo, e 13s5 para Senna, terceiro. Para melhorar a situação, o brasileiro da McLaren ainda abandonou a corrida na 24ª passagem com problemas em seu alternador. Seria uma grande chance para descontar bons pontos para o líder do campeonato.

O cenário seguiu ficando mais favorável a Mansell quando seu companheiro sofreu um furo de pneu na 41ª volta e precisou realizar um pit stop que o derrubou para a sexta posição. O inglês tinha agora 51s de vantagem para o segundo colocado, Nelson Piquet, da Benetton, que precisava apenas administrar a liderança.

Nelson Piquet se beneficiou dos problemas dos rivais e foi a grande surpresa do GP do Canadá de 1991

Mansell seguiu toda a segunda metade da corrida apenas controlando o ritmo para evitar qualquer problema mecânico. Ele abriu a última volta com 57s de margem para Piquet e tirou ainda mais o pé. Foi então quando um lapso de concentração lhe custou a vitória.

Empolgado com o que parecia ser uma vitória iminente, Mansell desacelerou quase que totalmente sua Williams na região do hairpin de Montreal, a 10ª das 13 curvas do circuito. Ele acenava com as mãos cumprimentando o público já celebrando o triunfo.

Só que neste momento, ele tirou tanto o pé do acelerador, que os giros de seu motor despencaram a um nível que fez o sistema do carro entrar em colapso. O sistema hidráulico deixou de funcionar, o que também fez com que a caixa de câmbio não conseguisse engatar marchas.

O carro acabou parando a poucos metros da bandeira quadriculada. Nelson Piquet passou pelo inglês e partiu para o que seria a sua 23ª e última vitória na F1. Considerando as duas vitórias de Piquet no final de 1990 e as quatro de Senna no início de 91, o GP do Canadá também marcou uma sequência de sete conquistas consecutivas de pilotos brasileiros na F1.

O segundo lugar também teria um nome bastante improvável, de Stefano Modena, da Tyrrell. Patrese completou o pódio com sua Williams. Como tinha vantagem de mais de uma volta para o sétimo, Mansell ainda terminou na sexta posição da prova, o que na época significava um ponto para o campeonato.

Após a prova, a Williams de Mansell foi levada aos boxes e acionada normalmente pela equipe. Não existia nada de errado com o carro. O que provava que o inglês tinha perdido a vitória por um momento de empolgação com o público nas arquibancadas.

De qualquer forma, a Williams confirmou o seu potencial nas provas seguintes com seis vitórias nas oito etapas que viriam depois do GP do Canadá. Mas o começo difícil de temporada acabou dificultando uma briga pelo título, com Mansell terminando como vice-campeão, 24 pontos atrás de Senna. Mas a plataforma estava criada para um enorme domínio em 1992, com Mansell conquistando o título com sobras.

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