(Foto: Sam Bloxham/McLaren)

Lando Norris: de campeão Mundial de kart à primeira vitória na F1

Lando Norris é daqueles pilotos que chegou na F1 causando muita expectativa em todos que acompanham a categoria por conta de seus vários títulos e boas atuações na base.

Existe uma lista imensa de nomes que chegaram ao ápice do automobilismo com o mesmo currículo e que não conseguiram cumprir o esperado. Por isso, os erros e momentos de uma certa falta de sorte de Norris durante os seus primeiros anos na F1 começaram a gerar certa preocupação sobre seu futuro.

O triunfo no GP de Miami certamente não coloca fim as possíveis dúvidas sobre onde Norris pode chegar na F1, porém, coroam essa primeira fase da carreira do britânico no Mundial. E vale aqui lembrar como foi essa trajetória até esse momento.

Norris nasceu na cidade de Bristol, na Inglaterra, em 13 de novembro de 1999, filho de um britânico local com uma belga. Quando criança, ele chegou a praticar hipismo e até motociclismo (seu primeiro ídolo no esporte a motor foi Valentino Rossi) antes de se apaixonar pelo kart, aos sete anos.

Pai do futuro piloto, Adam Norris é um ex-administrador de pensões que acumulou durante os anos um patrimônio de cerca de 200 milhões de libras [por volta de R$ 1,2 bilhão]. Após a venda da empresa que ele administrava, o que lhe rendeu boa parte de sua fortuna, ele se tornou um investidor em startups de tecnologia. Entre seus negócios mais importantes, está a Pure Electric, fabricante de patinetes elétricos.

Desta forma, a família Norris teve a chance de financiar praticamente toda a carreira de Lando até a chegada à F1. O combinado era que ele apresentasse resultados para justificar o investimento no longo prazo.

A base recheada de títulos de Norris

Desde que estreou no kart, Norris conquistou diversas vitórias e títulos que aos poucos criaram uma imagem de um talento promissor e futuro piloto da F1. Em 2014, ainda com 14 anos, ele conquistou o Mundial de Kart em uma temporada que, por ser mais jovem que os principais adversários, ainda não estava cotado entre os favoritos.

Lando Norris no pódio do Mundial de Kart de 2014
Lando Norris no pódio do Mundial de Kart de 2014 (Foto: CIK-FIA)

No mesmo ano, ele já estava pilotando carros de corrida na Ginetta Júnior, competição de formação do Campeonato Britânico de Turismo. Em 2015, ele deu o passo mais natural para quem sonha em chegar à F1 ao estrear nos monopostos. De cara, conquistou o título da MSA, campeonato que se tornaria depois a atual F4 Britânica.

Como era de se esperar, o investimento da família rendia a Norris boas oportunidades de competir em equipes de ponta da base e, principalmente, de acumular experiência e muita quilometragem ao poder competir em diversos campeonatos ao mesmo tempo.

Em 2016, por exemplo, ele correu e venceu a Toyota Series Neozelandesa (campeonato na Oceania que acontece entre as temporadas europeias), a F-Renault 2.0 Norte-Europeia e a F-Renault 2.0 Europeia.

Na sequência, em 2017, Norris teve talvez o ano que assegurou seu caminho d até a F1. Logo em fevereiro, através de um acordo de investimento do pai com Zak Brown, diretor geral da McLaren, Norris assinou o contrato como piloto júnior da equipe de Woking.

Isso lhe assegurou a possibilidade de começar a conviver dentro do time, utilizando simuladores e toda a estrutura, além de realizar seus dois primeiros testes com um carro de F1 durante uma sessão em Hungaroring.

Ao final do ano, ele ainda se sagrou campeão da a F3 Europeia (atual Freca – F-Regional Europeia) com nove vitórias em 20 pódios. Ele ainda ficou com o segundo lugar do tradicional GP de Macau de F3, derrotado por Dan Ticktum por apenas meio segundo. Norris ainda teve sua primeira experiência na F2 ao participar da rodada final da competição pela equipe Campos em Abu Dhabi.

Lando Norris conquistou o título da F3 Europeia em 2017
Lando Norris conquistou o título da F3 Europeia em 2017 (Foto: Thomas Suer/Hankook)

Com bons resultados e quilometragem, Norris então pulou a GP3 (atual FIA F3) para competir direto na F2 em 2018. E ele não decepcionou ao terminar com o vice-campeonato da competição, atrás de George Russell.

Chegada na F1 após proposta da Red Bull

Ainda em 2018, a McLaren resolveu promover Norris a piloto reserva de sua equipe na F1. Mas a situação do time estava bastante indefinida. Depois de três anos de uma parceria malsucedida com a Honda, a organização resolveu apostar na troca de fornecedor de motores e fazia sua primeira temporada com a Renault.

Os resultados até melhoraram, mas ainda muito longe das pretensões da equipe, que buscava voltar a seus momentos de brigas por vitórias e títulos de um passado que, na época, não era tão distante assim.

A dupla de pilotos era formada pelo experiente Fernando Alonso e o belga Stoffel Vandoorne, uma promessa da base apoiada pela McLaren e que não estava mostrando bom desempenho em suas duas primeiras temporadas na F1.

Em meio a toda esta confusão, o time tinha na F2 o talentoso Norris, que parecia ser um bom nome para uma emergência. Só que ainda durante 2018, quando o britânico brigava ponto a ponto pelo título com Russell, surgiu uma ameaça importante para o time de Woking que acelerou muitos de seus planos.

A Red Bull, dona de um dos programas de formação de pilotos mais fortes da F1, estava passando por um período meio estranho com uma entressafra de talentos, causada principalmente por promoções antecipadas que não deram certo após a perda de Sebastian Vettel em 2015. E a iminente saída de Daniel Ricciardo ao final de 2018 acendeu nova luz de alerta.

Na Toro Rosso (atual RB – Racing Bulls), equipe B do grupo, a Red Bull tinha o jovem Pierre Gasly e o experiente Brendon Hartley, que aos 27 anos e vindo das corridas do endurance, não tinha o perfil do time de formação de jovens.

A Red Bull então resolveu olhar para fora dos nomes que tinha em casa e Norris entrou no radar. E como ele já tinha Superlicença por conta de seus resultados antes da F2, a equipe fez uma proposta para que o britânico estreasse na F1 já no GP da Áustria de 2018 no lugar de Hartley.

O grande problema é que a proposta do grupo austríaco não foi um simples empréstimo, mas de um acordo definitivo com Norris. Diante dessa proposta, a McLaren se apegou ao contrato de piloto reserva para não liberar o piloto.

De qualquer maneira, a questão estava colocada. O interesse em Norris era aberto e o contrato de reserva não o seguraria por muito tempo. Assim, ainda em setembro de 2018, aproveitando também a vontade de Alonso deixar naquele momento a F1, a McLaren resolveu apostar em uma reformulação interna que incluía a troca de seus dois pilotos, e Norris passaria a ser companheiro de Carlos Sainz no time a partir de 2019.

Norris na F1

Novato em uma equipe de muita história, mas em crise e passando por reformulação, os primeiros anos da Norris na F1 exigiram paciência. O britânico, com 19 anos na época, vivia a pressão de mostrar o que seu antecessor, Vandoorne (também um multicampeão da base), não conseguiu.

No geral, em suas duas primeiras temporadas, Norris acabou sendo superado pelo companheiro Sainz, piloto com quatro temporadas a mais de experiência. Mas de forma indiscutível, a diferença caiu entre a primeira (96x 49 pontos) e a segunda (105×97) temporadas, o que indicava uma evolução por parte do novato.

O primeiro pódio de Norris na F1 aconteceu com um terceiro no GP da Áustria de 2020, 22º GP de sua carreira. Naquele mesmo ano, ele ainda marcaria duas voltas mais rápidas em corridas.

Em 21, Sainz deixou a McLaren rumo à Ferrari e Norris passou a ter como companheiro o ainda mais experiente Daniel Ricciardo, que trazia no currículo sete vitórias e três pole positions na F1.

Norris, no geral, dominou Ricciardo, mas curiosamente no final de semana em que o time teve sua grande chance de voltar a vencer um GP, o australiano era quem estava melhor posicionado e acabou liderando uma dobradinha que parecia pouco provável da McLaren em Monza, com o britânico em segundo.

Apenas duas semanas depois, no GP da Rússia, Norris ainda teve sua grande chance de vencer pela primeira vez na F1. No sábado, em uma classificação com bastante chuva, ele cravou a primeira pole position de sua carreira. No dia seguinte, ele liderou 30 das 53 voltas da prova.

Uma chuva intermitente chegou ao circuito de Sochi no terço final da corrida, e em uma confusão de comunicação com seu engenheiro sobre os dados meteorológicos, Norris revolveu seguir na pista com pneus de traçado seco enquanto os adversários seguiram para a troca por compostos específicos para o asfalto molhado.

O resultado foi devastador. Além da perda de desempenho quando a chuva aumentou, Norris acabou ainda rodando e perdendo todo o trabalho que tinha feito durante a maior parte da prova. E assim, ele terminou apenas na sétima posição, com uma chance clara de vitória perdida.

Os ecos da derrota no GP da Rússia de 2021 perseguiram Norris nos anos seguintes, mesmo quando ele apresentava bom desempenho. Quando chegou ao GP de Miami de 24, ele já somava 15 pódios em 109 corridas na carreira, mas os olhares de certa desconfiança ao seu entorno nunca sumiram completamente.

Agora que finalmente se tornou um vencedor de GPs da F1, o triunfo nos EUA cria a expectativa sobre se Norris definitivamente se livrou do peso de suas derrotas e, aos 24 anos, até onde ele ainda pode chegar no Mundial.

Antiga interessada, a Red Bull já demonstrou novo interesse em Lando Norris nos últimos tempos. O atual contrato do britânico com a McLaren não é público, mas especula-se que tem duração até o final de 2027.

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