(Foto: Clive Mason/Getty Images/Red Bull Content)

Mercedes podia ter vencido na Holanda? Entenda a briga tática na prova

Com curvas de média e baixa velocidade e retas curtas, Zandvoort é um dos circuitos que mais se encaixa ao estilo do modelo W13 da Mercedes em 2022. E por isso, a equipe, em especial Lewis Hamilton, conseguiu até flertar com a vitória, sem precisar que os principais rivais sofressem problemas extras na corrida.

Existem, no entanto, questões. Mesmo em uma pista em que ela é mais forte, a Mercedes ainda enfrenta alguns dificuldades que diminuem consideravelmente suas chances de triunfo. A primeira é que ela ainda tem problemas para andar no ritmo das rivais em classificação (e na Holanda, Hamilton e Russell ainda tiveram a falta de sorte de uma bandeira amarela que não deixou eles completarem a última tentativa no Q3), o que sempre faz os dois pilotos largarem da segunda fila para trás.

A outra é a falta de velocidade de reta, o que dificulta as ultrapassagens, mesmo quando o carro está rápido. Considerando que o time sempre precisa ultrapassar alguém, pois não tem ritmo de classificação, isso tudo dificulta muito as coisas. Por isso, a necessidade de ser criativo.

Desta forma, a grande chance da Mercedes surgiu principalmente por conta da estratégia de uma parada, contra a de duas de Ferrari e Red Bull, que era inclusive a sugerida pela fornecedora de pneus, a Pirelli.

Para se ter ideia, entre as quatro opções de táticas colocadas pela Pirelli no sábado, as duas de uma parada eram consideradas a terceira e quarta alternativas, atrás das outras de duas paradas, mas com compostos diferentes. E da forma como a Mercedes fez, saindo com médios e depois passando aos duros, nem era cogitada.

Por isso que pode ser considerado que, mesmo não conquistando o resultado, de forma geral, a Mercedes conseguiu surpreender. Só que, além de largar mais atrás ter dificultado as coisas, a sorte também não esteve ao lado da equipe alemã.

A situação estratégica durante a primeira metade de corrida

Saindo na quarta e sexta posições e com velocidade de reta consideravelmente mais baixa do que Ferrari e, principalmente, Red Bull, a Mercedes resolveu fazer uma estratégia totalmente alternativa desde o início. Em vez de sair com os pneus macios, como os rivais, a equipe colocou os médios nos carros de Hamilton e Russell.

A princípio, ela correu o risco de ter uma largada pior por conta de ter um pneu com menos tração. Hamilton ficou mais exposto porque tinha Sergio Pérez, logo ao lado, de macios. Já Russell teve Lando Norris e Mick Schumacher de médios logo atrás.

Estratégias sugeridas pela Pirelli no sábado para o GP da Holanda. A mais rápida no alto, a mais alternativa, embaixo. A da Mercedes, com médio-duro, não foi cogitada pela fornecedora
Estratégias sugeridas pela Pirelli no sábado para o GP da Holanda. A mais rápida no alto, a mais alternativa, embaixo. A da Mercedes, com médio-duro, não foi cogitada pela fornecedora (Fonte: Pirelli)

Ainda existia outra preocupação de sofrer um ataque nas primeiras voltas, especialmente de Hamilton em relação a Pérez. Isso porque um dos principais problemas da Mercedes na temporada de 2022 é justamente o de demorar para colocar os compostos na melhor faixa de temperatura. E os médios, por característica própria, também demoram mais que os macios.

Hamilton conseguiu driblar as duas questões e após algumas voltas até começou a pressionar o terceiro colocado, Carlos Sainz. Neste momento, a falta de velocidade de reta ficou evidente quando mesmo com a utilização da asa móvel, o inglês não conseguia sequer obrigar o espanhol a fazer alguma manobra defensiva. Para piorar, ele se viu preso atrás de um adversário que não acompanhava os dois primeiros colocados, Max Verstappen e Charles Leclerc.  

Sainz e Pérez partiram para o primeiro pit stop na volta 14. Hamilton já estava neste momento a 10s de Verstappen. Mas, com pista limpa, tanto ele quanto Russell conseguiram instantaneamente melhorarem seu ritmo. Ficaram mais próximos do passo do holandês da Red Bull e, com uma melhor duração dos médios, começaram a descontar a vantagem de Leclerc..

Desta forma, a Ferrari resolveu chamar logo o monegasco na volta 17. Mesmo com mais de 4 segundos de vantagem, para não arriscar tomar um undercut, a Red Bull também parou Verstappen no giro seguinte (18). Ambos voltaram com pneus médios, como sugeria a estratégia que a Pirelli considerava a mais rápida, e que previa uma segunda parada entre as voltas 43 e 49 de um total de 72.

Neste momento, Hamilton passou a liderar com 8s7 de margem para Verstappen enquanto Russell era o segundo, 3s1 à frente do holandês. Com pneus novos, o piloto da Red Bull se aproximou rapidamente e ultrapassou Russell na abertura da volta 28. No final da 29, Hamilton vai para o pit e retorna a 19s9 do líder. O outro piloto da Mercedes fez a troca duas voltas depois. Ambos retornaram com pneus duros com a ideia de não pararem mais.

Uma das surpresas da corrida foi então que os pneus duros começaram a mostrar um bom desempenho contra os médios, que eram considerados os melhores pneus para a prova após os experimentos dos treinos. Nas 17 voltas seguintes ao pit, Hamilton fez 14 delas na casa de 1min15s enquanto Verstappen, no mesmo período, fez só quatro.

Hamilton teve um bom desempenho com pneus duros em Zandvoort
Hamilton teve um bom desempenho com pneus duros em Zandvoort (Foto: Steve Etherington/Mercedes)

A diferença entre os dois caiu para 13s7. Russell também seguiu o companheiro, e ficou a 16s1 do líder. E como a perda média de tempo no pit stop estava em 18s5, Verstappen fatalmente cairia para terceiro após seu segundo pit.

Mesmo em situação aparentemente desconfortável, a Red Bull seguiu com a aposta em seu plano inicial. A ideia, bastante plausível, era de que Verstappen pararia entre as voltas 43 e 47 (dependendo do desgaste e da administração da vantagem) e voltaria cerca de 8s atrás de Hamilton e 5s de Russell. Por outro lado, ele teria pneus cerca de 15 voltas mais novos e mais de 20 voltas para tirar a diferença e fazer as ultrapassagens.

Pela condição melhor de pneus e a grande vantagem de cerca de 10 km/h na reta (sem contar a asa móvel), Verstappen ainda tinha boa chance de recuperar as posições na pista, apesar de estar em uma situação de ter que correr atrás. Do outro lado, a Mercedes contava principalmente na habilidade de Hamilton administrar bem o desgaste de pneus para ter chance de se defender no final.

De qualquer forma, a situação ainda era longe de tranquila para qualquer um dos lados, com

Como os planos da Mercedes desmoronaram de vez

As chances da Mercedes praticamente sumiram com as duas neutralizações da prova que aconteceram na segunda metade da corrida. Na volta 48, Tsunoda parou sua AlphaTauri com problemas na beira da pista e causou um Safety Car Virtual.

Desta forma, Verstappen teria tempo de parar e voltar na frente. Assim, a Mercedes preferiu também fazer um segundo pit para garantir a segunda e terceira posições. Os três retornaram à frente de Leclerc, que caiu para quarto.

Verstappen e Leclerc voltaram com pneus duros por não gostarem do ritmo dos médios. As duas Mercedes preferiram apostar nos médios. E o holandês passava a ter 12s8 para Hamilton ao final do período de safety car virtual sem agora precisar fazer uma nova parada.

Nas cinco voltas seguintes com pista liberada, Hamilton conseguiu ser mais rápido que Verstappen e reduziu a desvantagem para 10s7, faltando então 17 voltas. É difícil saber se ele teria condições de se aproximar e arriscar uma ultrapassagem, mas, de qualquer jeito, mais uma vez o acaso foi contra o inglês.

Na volta 56, a Alfa Romeo de Bottas quebrou e ficou parada no final da reta principal. Desta vez, a direção de prova acionou o safety car, o que juntaria todo o pelotão. Temendo ficar em desvantagem do pneu duro contra o médio, a Red Bull rapidamente chamou Verstappen ao box para colocar compostos macios para as 16 voltas finais.

O holandês voltou atrás das duas Mercedes. Já o time alemão, a princípio, não chamou seus pilotos pensando em manter sua posição de pista. Mas depois, Russell pediu para fazer a parada e colocar pneus macios. A equipe o atendeu, e ele caiu para terceiro ainda durante o período de safety car, mas agora com compostos mais aderentes.   

Hamilton seguiu em frente e questionou o fato da Mercedes ter feito a parada do companheiro, já que, na visão dele, seria importante os dois carros do time manterem a posição de pista. Desta forma, Russell seguiria entre ele e Verstappen com a chance de fazer o rival perder algum tempo para Hamilton tentar abrir alguma vantagem na frente enquanto recuperava a temperatura dos compostos.

Como ficaram as estratégias do GP da Holanda ao final da prova
Como ficaram as estratégias do GP da Holanda ao final da prova (Fonte: Pirelli)

Quando o safety car foi recolhido, como foi previsto por ele mesmo, com pneus médios mais desgastados e mais dificuldade de chegar na temperatura ideal contra macios dos rivais, Hamilton foi presa fácil para Verstappen, Russell e Leclerc, e acabou fora do pódio.

Considerando todas as possibilidades, a Mercedes precisaria de um pouco de sorte para sair vitoriosa. Mesmo sem o Safety Car Virtual, com pneus cerca de 15 voltas mais novos, Verstappen teria boa vantagem técnica para atacar no final, apesar de certamente ter um desafio maior. Com as duas neutralizações, mesmo que Russell ficasse entre Hamilton e Verstappen, dificilmente as Mercedes se manteriam à frente do piloto da Red Bull.

Hamilton ficar na pista no final foi uma tentativa meio suicida, mas, considerando a diferença entre os carros da Mercedes e Red Bull, possivelmente a única chance de vitória, contando talvez com alguma sorte. Russell entrar no pit foi a segurança de conseguir um segundo lugar, mesmo que dificultando ainda mais a vida de Hamilton.

De qualquer forma, a situação da Mercedes sempre foi difícil em Zandvoort.  

Confira nossa análise sobre o GP da Holanda no podcast do Projeto Motor:

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