(Foto: Reprodução/Twitter Piastri)

Novela explicada: como a Alpine perdeu Oscar Piastri para a McLaren

Oscar Piastri protagonizou um dos capítulos mais tumultuados do mercado de pilotos da F1 para a temporada de 2023. O promissor australiano chegou a ser anunciado como novo titular da Alpine, mas pouco depois desmentiu a informação em público, o que deu início a uma disputa jurídica por seu passe.

No fim das contas, Piastri acabou confirmado na McLaren para o ano que vem, o que deixou a Alpine em uma situação constrangedora. Mas o que foi que aconteceu de fato?

Para entender a história, precisamos saber quem é o personagem principal. Oscar Piastri nasceu no dia 6 de abril de 2001, em Melbourne, um mês depois de Fernando Alonso fazer a sua estreia na F1 naquela mesma cidade.

Em 2020, pouco depois de ganhar o título da F-Renault Europeia, o australiano passou a integrar o programa de pilotos da Renault, e sua carreira seria gerenciada por seu compatriota ex-F1 Mark Webber.

Depois disso, Piastri continuou com sua ascensão rápida: emendou títulos consecutivos na F3 e F2, feito que, nos moldes atuais, só foi obtido por nomes do calibre de Charles Leclerc e George Russell.

Mesmo assim, Piastri não conseguiu uma promoção imediata para a F1. A Alpine nunca colocou na F1 um piloto de sua academia, e ela já estava comprometida com dois nomes: Fernando Alonso já tinha contrato para 2022, enquanto que o acordo de Esteban Ocon vai até o fim da temporada de 2024.

O contexto na Alpine

Coube a Piastri permanecer no posto de reserva, realizando testes privados com modelos antigos para ganhar experiência, e também foi disponibilizado para a McLaren como uma opção de substituto caso algum de seus titulares estivesse indisponível para correr.

Mas a Alpine ainda precisava definir sua situação para 2023. Ocon já estava garantido, mas o outro cockpit em tese ainda seria disputado entre Alonso e Piastri. E, nas negociações, tanto o piloto espanhol quanto a equipe mostravam a intenção de renovar a parceria, sendo que a Alpine planejava então emprestar Piastri para correr na Williams em 2023.

Só que as conversas entre Alonso e Alpine chegaram a um impasse: a duração do contrato. O bicampeão priorizava um acordo mais longo, de pelo menos dois anos. Já a equipe, tendo em vista os 41 anos de idade do espanhol, insistia que a renovação fosse apenas por uma temporada, com a opção de extensão por mais um ano caso Alonso não mostrasse sinais de declínio.

Essa discordância fez com que as conversas estagnassem, e parecia que a novela se estenderia por mais um tempo. Mas a história ganhou uma reviravolta. No dia 28 de julho, Sebastian Vettel anunciou que iria se aposentar da F1 ao fim da temporada de 2022, o que abria uma vaga na Aston Martin.

Apenas quatro dias depois, a equipe anunciou a contratação de Alonso, oferecendo ao espanhol o que ele procurava com um contrato de dois anos. Era algo que a Alpine definitivamente não esperava, já que o chefe do time, Otmar Szafnauer, revelou que só ficou sabendo que Alonso sairia pelo comunicado de imprensa emitido pela Aston Martin.

Como Piastri surpreendeu a McLaren

No dia seguinte ao anúncio de Alonso, a Alpine anunciou Oscar Piastri para 2023. Mas, por mais que parecesse um caminho natural dos fatos, o comunicado da Alpine não contava com nenhuma declaração do piloto australiano, o que era algo estranho.

Horas depois, ficou explicado: Piastri afirmou que o anúncio foi feito sem o seu consentimento, e que ele não estaria competindo pela Alpine em 2023. Começava ali uma guerra de narrativas entre a Alpine e Piastri.

Segundo a equipe, Piastri foi avisado de sua promoção um dia antes, quando ele fazia testes no simulador da fábrica da equipe, e que sua reação foi “sorrir e agradecer”. Mas, na versão do australiano, ele se sentiu intimidado por isso ter acontecido na frente de outros membros da Alpine, e que, em um ambiente privado, reforçou qual era a sua real posição.

Mas, se não era a Alpine, qual seria então o seu destino? A possibilidade que se abriu foi na McLaren. Daniel Ricciardo tinha contrato para 2023, e ainda em julho ressaltou a sua intenção de cumprir este contrato até o fim, mas o mau desempenho estremeceu sua relação com a equipe.

Então, no dia 24 de agosto, a McLaren anunciou que Ricciardo deixaria o time após o fim da temporada de 2022, o que abria o caminho para Piastri. Porém, faltava haver a definição sobre quem teria direito aos serviços de Piastri.

O imbróglio na FIA

O assunto sobre quem teria direito de ter os serviços de Piastri seria decidido pela FIA por meio de seu Conselho de Reconhecimento de Contratos, um grupo de advogados que resolve disputas contratuais de forma mais rápida do que a justiça comum.

No dia 2 de setembro, veio o veredito: o CRB decide por unanimidade a derrota da Alpine, reforçando que a McLaren é a única que possui contrato válido com Piastri para 2023 e 2024. O acordo do australiano com o time foi assinado no dia 4 de julho, ou seja, antes de Alonso anunciar sua mudança para a Aston Martin.

Do lado da Alpine, havia apenas uma espécie de “carta de termos”, datada de novembro de 2021, época em que Szafnauer sequer havia chegado ao comando da Alpine. Esta carta estabelecia termos para o futuro, mas perdia seu caráter oficial ao dizer que o conteúdo ainda “estaria sujeita ao contrato”.

Este contrato definitivo só foi oferecido a Piastri em maio, citando que envolvia uma vaga de titular, mas não necessariamente com a Alpine – e é aí que surgiu a possibilidade de ser emprestado para a Williams em 2023 e possivelmente 2024, para correr pela Alpine apenas em 2025 e 2026.

Só que este acordo definitivo nunca foi assinado. Segundo Piastri, “faltou clareza na Alpine para a definição de seu futuro, o que resultou numa quebra de confiança”. A McLaren, por sua vez, foi mais objetiva em sua abordagem com o australiano, fator que se mostrou decisivo para a definição do caso.

O episódio de uma forma geral manchou a Alpine. Além de ter tido de pagar todos os custos legais dos envolvidos, o que se estima ter sido mais de 500 mil libras, ela perdeu dois pilotos fortes em poucas semanas.

O diretor executivo da Alpine, Laurent Rossi, criticou Piastri por sua “falta de lealdade”, e disse que o australiano nunca havia avisado a equipe de que estava de saída para a McLaren. Segundo ele, “como Piastri e a Alpine adotaram princípios diferentes, foi melhor que os dois seguissem caminhos separados”.

Assim, Piastri segue sua carreira na McLaren e a Alpine fica com a dor de cabeça de ter perdido em poucos dias dois pilotos que ela contava e estavam dentro do time, e agora precisar ir atrás de um novo nome para completar sua dupla para 2023.

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