(Foto: Aston Martin)

Por que o peso dos carros se tornou dor de cabeça para equipes em 2022

A F1 experimenta em 2022 uma das maiores mudanças de regulamento de sua história. Nada – ou muito pouco – dos carros de 2021 pôde ser carregado para essa nova temporada por conta das alterações técnicas. Sendo assim, em um primeiro ano das novas regras, é normal as equipes serem pegas de surpresa em alguns itens.

Uma dessas questões é o peso dos carros. Quase todas as equipes estão enfrentando dor de cabeça para chegar ao peso mínimo por diversas razões. E isso fez inclusive um grupo de times se juntar para convencer a FIA a aumentar o piso.

A alegação é desportiva, já que muitos times, com dificuldade para “emagrecerem” seus carros, alegaram que a diferença (que segundo relatos de paddock estaria chegando a mais de 10 kg entre alguns concorrentes) poderia desnivelar demais o grid. A grande exceção seria a Alfa Romeo, que teria sido a única a conseguir chegar no peso mínimo. A McLaren também teria chegado perto. Red Bull e outros times ainda apontaram que com o teto orçamentário, seria muito difícil aplicar recursos para a diminuição da carga dos modelos.

Uma reunião no Bahrein, durante a pré-temporada, fez com que os chefes de equipe e a FIA fechassem um acordo. Enquanto as outras oito equipes pediam um aumento maior do peso mínimo, chegou-se a um compromisso de aumentar a marca em apenas 3 kg, o que acabou sendo aceito pelas duas outras concorrentes. E aqui vale a história. Essa é a terceira mudança desde que as regras de 2022 foram publicadas.

Por que a F1 aumentou o peso mínimo dos carros

A mudança de peso para 2022 é brutal. Até a última temporada, os carros tinham que ter no mínimo 752 Kg. E já eram os modelos mais pesados da história com alguma margem.

No novo regulamento, esse piso subiria para Kg 775 Kg. Logo, os times e a própria FIA perceberam que por conta das alterações técnicas dos carros, esse peso seria inviável. Então, a entidade subiu o mínimo para 92 Kg. Com nova mudança acordada agora durante a pré-temporada do Bahrein, o peso mínimo será de 798 Kg. .

Desde 1995, o peso dos carros da F1 tem subido de forma constante. Um dos principais fatores para isso, que inclusive causou uma primeira alteração grande em relação a 1994, é o aumento dos itens de segurança e energia a que os cockpits são submetidos nos testes de segurança da FIA. Para se ter ideia, entre essas duas temporadas, o mínimo subiu de 515 Kg para 595 Kg.

Depois, até 2009, o peso subiu pouco, chegando a 605 Kg, mas a partir de 10, começou-se um aumento constante e mais forte, principalmente por conta da chegada da primeira geração de motores híbridos, que tinham o Kers e baterias. Entre 2010 e 13, o peso foi de 620 Kg para 642 Kg.

Em 2014, com a adoção obrigatória dos motores híbridos, agora utilizando dois sistemas de recuperação de energia, o MGU-K e o MGU-H, o peso disparou para 690 Kg. Nos anos seguintes, por conta da introdução do halo e também da preocupação em não punir pilotos mais altos e pesados, a carga mínima foi subindo até o nível de 2021.

O curioso em 2022, no entanto, é que mesmo o regulamento elevando o mínimo, com tantas mudanças técnicas, a maioria das equipes não está conseguindo chegar nele. Não existe um teto porque obviamente um carro mais pesado é uma desvantagem técnica e todos os times querem evitar isso. Ou seja, a equipe que tem um carro com mais peso, já paga por isso naturalmente dentro da pista.

O novo acréscimo para esse ano se dá por dois motivos principais. O primeiro é a introdução das novas rodas de aro 18 polegadas. Elas são maiores e, consequentemente, mais pesadas, assim como os novos pneus. Além disso, elas também usam calotas aerodinâmicas, o que também acrescenta peso extra. Pelas contas da FIA, a adição total aqui é de 2,5 Kg para cada roda dianteira e 3 Kg nas traseiras, o que já eleva o peso do carro em 11 Kg.

Ferrari de 2022 com novas rodas de 18 polegadas e calotas que acrescentaram peso ao modelo
Ferrari de 2022 com novas rodas de 18 polegadas e calotas que acrescentaram peso ao modelo (Foto: Ferrari)

Para diminuir o custo de desenvolvimento nesta nova era de teto orçamentário, além de atenuar a diferença entre equipes com departamentos de pesquisa mais avançados em relação aos times com estrutura menor, a FIA também padronizou diversas partes e peças dos carros e ainda baniu algumas ligas e materiais mais caros. Isso também acrescentou mais alguns Kg aos modelos.

O resto do ganho de peso é por questões de segurança. Após o acidente falta da Anthoine Hubert na F2, em 2019, e de Romain Grosjean no GP do Bahrein de 2020, em que o carro pegou fogo após o tanque de combustível se romper, novos padrões foram adotados.

Célula de sobrevivência, barra de impacto lateral e tanque de combustível foram reforçados e passaram a ser mais exigidos nos testes da FIA. Isso, claro, levou a um ganho de peso.

Qual a influência do peso e porque os pilotos se incomodam

Com certeza você vai ler e ouvir alguns pilotos reclamando um pouco do peso dos carros. Obviamente que isso faz com que os modelos fiquem menos ágeis e prazerosos de pilotar. Em circuitos mais sinuosos, como Mônaco e Hungria, carregar esse peso extra no volante não é fácil.

A FIA pesa cada carro com o piloto e seus equipamentos, porém, com o tanque vazio. Como os modelos atuais têm capacidade de carregar até 110 Kg de combustível, no momento da largada, os carros pesarão, no mínimo, 905 Kg. Sim, é bastante…

As equipes buscam ficar o mais próximas possível do peso mínimo ou às vezes até um pouco abaixo para não correrem o risco de alguma desvantagem para as rivais. No caso de estarem mais leves, elas podem utilizar lastros para ficarem acima do piso.

Os lastros são peças que servem apenas para acrescentar peso. Por regulamento, devem estar presas com parafusos ao cockpit (na célula de sobrevivência) de forma que podem ser soltas com ferramentas a qualquer hora, em caso de pedido dos comissários.

A distribuição de peso entre a parte dianteira e traseira do carro é regulamentada pela FIA (proporção de 0.445 e 0.540, respectivamente). Mas os lastros podem ter influência lateral (dependendo do circuito e tipo de curvas) e principalmente na questão de centro de gravidade, na área central. Por isso, depender de lastros não é ruim para os times.

Por outro lado, estar acima do peso quer dizer uma óbvia desvantagem. Por isso as equipes que estão com esse problema em 2022 estão tão preocupadas. Além de terem que empurrar esse peso a mais, isso ainda pode causar gasto extra de combustível e pneus.

Futuro do peso na F1

A verdade é que nem pilotos e nem equipes gostam de lidar com carros tão pesados. Um peso tão grande acaba influenciando na capacidade de manobras mais rápidas, causa mais travamento de rodas e desgaste geral do equipamento.

A próxima grande mudança de regra da F1 está prevista para 2026. A maior alteração será na unidade de potência, que deve perder o MGU-H, o que já deve economizar algum peso com um conjunto motriz com menos peças.

Além disso, Ross Brawn disse recentemente que existe um estudo para diminuir a dimensão dos carros, que hoje são os maiores da história, o que dificulta ultrapassagens em circuitos mais sinuosos. É outro fator que pode diminuir um pouco o peso.

O último item é a pesquisa por novas ligas metálicas e outros materiais a serem utilizados nos carros, que podem também contribuir para a emagrecer um pouco os modelos da F1, desde que sejam adotadas em conjunto e de forma padrão.

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