Nelson Piquet conquistou sua primeira vitória na F1 em Long Beach

Como Piquet acabou com a primeira grande seca brasileira na F1

Em 30 de março de 1980, Nelson Piquet conquistava sua primeira vitória na F1, no GP dos EUA do Oeste, em Long Beach. Além de se tornar apenas o terceiro brasileiro a vencer na categoria, depois de Emerson Fittipaldi e José Carlos Pace, o carioca radicado em Brasília acabava também com a primeira grande seca do país no Mundial.

O último triunfo de um piloto tupiniquim na F1 até então tinha sido de Fittipaldi no GP da Inglaterra de 1975. Já se iam quase cinco anos sem um representante no lugar mais alto do pódio, enquanto o paulista tentava fazer engrenar seu projeto de uma equipe nacional, a Copersucar-Fittipaldi.

Depois de uma grande primeira metade de década de 70, com dois títulos mundiais, 14 triunfos de Fittipaldi e um de Pace, claro que o Brasil tinha ficado mal acostumado. Por isso, o período sem triunfos já incomodava.

Para se ter ideia do cenário, a TV Globo chegou a abrir mão de passar as corridas da temporada de 1980, deixando a Bandeirantes assumir por um ano as transmissões. Naquele ano, a TV Cultura também teve a chance de mostrar o GP do Brasil, em cadeia com a Band.

E foi o surgimento de Piquet que recuperou o orgulho brasileiro de acompanhar a F1. Após já mostrar uma boa evolução em 1979, ele acabou com a espera por uma nova vitória em 80, ano em que ainda disputaria o título.

O entrosamento com a equipe Brabham foi imediato, principalmente com o projetista Gordon Murray, e o brasileiro teve uma primeira temporada ao lado do bicampeão Niki Lauda para tirar algumas lições. Isso somado ao seu talento natural, não só de velocidade, mas de entendimento do carro, muito do aprendizado que teve em sua formação em oficinas em Brasília, o levaram ao encaixe quase perfeito para 80.

“Gordan Murray e Nelson formavam uma grande equipe, no mesmo nível de Colin Chapman e Jim Clark”, analisou Herbie Blash, chefe da equipe Brabham, em uma entrevista à revista inglesa Motorsport.

O crescimento de Piquet

A temporada de 1980 era apenas a segunda completa de Piquet na F1. E mesmo assim, ele já disputou o título, perdendo a disputa no final do ano por apenas 13 pontos para Alan Jones, da Williams. Isso porque a duas corridas do término do campeonato, ele liderava com um ponto de vantagem sobre o rival. Uma quebra de motor no Canadá e uma rodada em Las Vegas acabaram com suas chances.

Mesmo assim, o brasileiro não tinha do que reclamar. Cerca de seis meses antes, ele estava conquistando sua primeira vitória na F1, duas etapas depois de sua estreia no pódio. Nada mal.

Depois de dividir a Brabham com Lauda, que decidiu pendurar o capacete por algum tempo, Piquet passou em 80 a ter praticamente toda a atenção do time. Isso se vê até pelo nível de seus companheiros, como Ricardo Zunino e Hector Rebaque naquela temporada. Foi a maneira como o time encontrou para focar o estilo do carioca, após ele conquistar a confiança de todo o corpo técnico.

A base do carro era a mesma de 1979, o BT49, mas a versão B apresentava algumas inovações importantes. A principal era a caixa de câmbio transversal, desenhada por Pete Weismann, mais alta e estreita. O desenho permitiu modificações aerodinâmicas na traseira do carro, o que melhorou o aproveitamento do efeito solo. Uma nova suspensão, já desenvolvida com participação de Piquet, também teve que ser projetada para se enquadrar às novas peças.

Apesar dos ganhos aerodinâmicos, a nova transmissão mostrou durante a temporada problemas de confiabilidade e chegou a ser colocada de lado nas etapas finais, quando Piquet estava na briga pelo título.

A corrida em Long Beach

A corrida na Califórnia era a quarta da temporada de 80. Piquet vinha de um segundo lugar na Argentina, seu primeiro pódio, e um quarto na África do Sul. Em Long Beach, ele simplesmente dominou todo o final de semana. Marcou a pole position com sua Brabham-Cosworth com quase um segundo de vantagem para o segundo do grid, René Arnoux, da Renault.

Na corrida, ele liderou todas as voltas, terminando 49s2 à frente de Riccardo Patrese, da Arrows. O triunfo também marcaria o primeiro Grand Chelem da carreira de Piquet, já que ele também marcou a melhor volta da corrida. Ou seja, um desempenho praticamente perfeito.

Em terceiro, Emerson Fittipaldi completou a festa brasileira, com sua equipe própria. Aquela seria a última vez que o bicampeão terminaria na festa dos três melhores de um GP na F1, abandonando a categoria ao final do ano. Não poderia ser mais simbólica a troca de bastão entre o antigo e futuro campeão mundial.

Seca de vitórias

Depois da vitória de Piquet em Long Beach, a década de 80 não poderia ter sido melhor para o torcedor brasileiro. O carioca venceria três títulos mundiais, se tornando, ao lado de Alain Prost, o grande nome dos anos por vir.

E quase simultaneamente aos seus maiores feitos, outro grande piloto do país apareceu, Ayrton Senna, que no final da melhor fase de Piquet, deu continuidade ao grande momento do país na F1, com outros três campeonatos até 1991. O carioca deixaria a categoria justamente naquele ano, marcando inclusive a última suas 23 vitórias, no GP do Canadá, de Benetton.

Senna seguiria na F1 até seu acidente fatal, em 1994. Sua última vitória foi no GP da Austrália de 1993. Com o próximo grande nome brasileiro, Rubens Barrichello, ainda em fase inicial da carreira, o país teve que passar por uma nova fase sem triunfos, ainda maior do que a anterior.

Barrichello conseguiu acabar com o período apenas em 2000, quase sete ano depois, no GP da Alemanha, de Ferrari. O triunfo deu início a mais uma década que, se não vieram os títulos, ele e Felipe Massa conseguiram, com alguma constância, manter o Brasil na briga por vitórias, com 11 para cada.

Em 2009, Barrichello venceu o GP da Itália, pela Brawn GP, colocando fim a esta fase. Até hoje nenhum outro brasileiro conseguiu repetir o feito de vencer uma corrida na F1. Isso significa que, depois dos períodos de 1975 a 80 e de 93 a 2000, o Brasil já passa por sua maior seca desde que um representante ganhou pela primeira vez, com Emerson Fittipaldi, em 1970.

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