(Foto: Mark Horsburgh/Aston Martin)

A punição imposta a Alonso por batida de Russell em Melbourne

Fernando Alonso recebeu uma punição no último GP da Austrália (24) que chamou a atenção. O espanhol vinha à frente de George Russell, quando o britânico perdeu o controle e bateu na penúltima volta da corrida em Melbourne.

Após conversar com os dois competidores e analisarem a telemetria, os comissários da FIA chegaram à conclusão que Alonso, mesmo estando à frente, pilotou de forma “potencialmente perigosa” e causou o forte acidente do adversário pois ele diminuiu sua velocidade de forma fora do normal, pegando o piloto da Mercedes de surpresa.

Assim, ele recebeu uma punição de um drive through, que por não ter como ser cumprida durante a corrida, foi convertida na soma de 20 segundos ao tempo de prova do espanhol. Desta forma, o representante da Aston Martin caiu na classificação final da corrida da sexta para a oitava colocação.

A decisão criou certa polêmica após o GP da Austrália, já que a manobra que Alonso realizou (e ele não nega que tenha feito) é um artifício conhecido e que já foi utilizado por diversos pilotos. Eles diminuem a velocidade na entrada da curva para conseguirem sair mais lançados da tomada e ainda prejudicarem o contorno de quem vem atrás.

Em sua conta no Instagram, o bicampeão reclamou que os comissários teriam olhado muito para a batida de Russell e que não levado em conta que se o britânico não tivesse perdido o controle na área de escape e acertado o muro, a situação nem mesmo seria analisada.

“Acho que em uma curva sem brita, em qualquer outra curva do mundo, nem seríamos investigados”, esbravejou o espanhol antes de aceitar a punição e dizer que irá apenas seguir em frente para a próxima etapa mesmo com o direito de recorrer da decisão.

Uma das questões apontadas na reclamação é que existe uma resolução da FIA para que os comissários nunca avaliem as consequências de um acidente para impor uma sanção, e sim, apenas as causas e o quanto cada piloto poderia ter evitado o acontecimento.

No próprio comunicado da punição, no entanto, os comissários já vislumbravam a possibilidade de críticas por conta desse ponto e admitiram até que não possuíam informações suficientes para determinar se a ação de Alonso foi deliberada para prejudicar a pilotagem de Russell ou se apenas para fazer uma linha diferente. Mas que mesmo assim, ele tomou uma atitude por escolha consciente e que essa opção foi a causa do acidente.

O que aconteceu na pista

Alonso vinha sendo perseguido por Russell por várias voltas. Na penúltima, o britânico estava a uma distância de cerca de meio segundo, o que lhe daria a chance de usar a asa móvel no trecho entre as curvas oito e nove, que tem o ponto de detecção entre a seis e sete.

Segundo os dados de telemetria adquiridos pelos comissários, na aproximação para a curva seis, Alonso tirou o pé do acelerador mais de 100 metros antes do ponto em que normalmente vinha fazendo isso. Ele também freou um pouco antes do ponto em que normalmente vinha freando, apesar de ter aplicado carga parecida com as das voltas anteriores.

Os comissários também identificaram que o espanhol diminuiu a marcha em um ponto em que nunca tinha realizado essa operação. A diminuição da velocidade foi tão antecipada que, ainda antes da curva, o piloto da Aston Martin chegou a voltar a acelerar e subir novamente a marcha, para diminuir de novo na entrada da tomada.

Diante desta operação, foi constatado que Russell acabou se aproximando do carro de Alonso à frente de forma mais rápida e brusca. Desta forma, o piloto da Mercedes perdeu carga aerodinâmica extra ao chegar muito perto da Aston Martin e ficou sem poder de reação para contornar a curva seis. Ele acabou saindo da pista e batendo no muro.

A explicação de Alonso

Tanto na conversa com os comissários quanto nas entrevistas pós-corrida e em suas redes sociais, o espanhol admitiu que realmente diminuiu a velocidade em um momento diferente do usual, mas não para atrapalhar o adversário que vinha atrás, e sim, para carregar menos velocidade na entrada da curva e assim tentar uma saída da tomada melhor.

A ideia era tentar entrar mais lançado na zona de utilização da asa móvel e ter mais chance de se defender do potencial ataque de Russell. Alonso praticou manobra parecida no GP de São Paulo de 2023, quando se defendia de Sergio Pérez nas voltas finais.

Ele admitiu, porém, que percebeu que diminuiu um pouco antes do que precisava e por isso, teve que consertar a manobra ao acelerar de novo e voltar a frear mais próximo da curva. De qualquer forma, em sua publicação no Instagram, ele reiterou que mudar a forma de pilotagem durante uma corrida faz parte dos recursos técnicos de cada competidor.

“[Estou] na F1 com 20 anos de experiência, com duelos épicos como Imola 2005/2006 e Brasil 2023. Mudar linhas de corrida, sacrificando velocidade de entrada para ter boas saídas nas curvas é parte do automobilismo. Nunca pilotamos a 100% em toda volta da corrida e toda curva. Economizamos combustível, pneus, freios, sendo responsáveis por não fazer a mesma coisa toda volta como uma surpresa”, apontou o espanhol.

Os contra-argumentos dos comissários

Mesmo levando em conta toda explicação de Alonso sobre o lance e não constatando provas claras de uma intenção de prejudicar diretamente Russell, os comissários do GP da Austrália argumentaram que o acidente na curva seis aconteceu por conta de escolhas feitas de forma consciente pelo experiente piloto espanhol.

Confira a explicação dos comissários:

“Alonso tinha o direito de tentar uma abordagem diferente da curva? Sim.

Alonso é o responsável pelo ar sujo que acabou causando o acidente? Não.

No entanto, ele escolheu algo, seja qual foi a intenção, que foi extraordinário, como desacelerar, frear, baixar a marcha e todos os outros elementos da manobra mais de 100 metros antes do que anteriormente, e de forma mais brusca do que era necessário para simplesmente diminuir antes da curva? Sim, segundo o seu próprio relato do acidente, ele fez.

E pela opinião dos comissários, ao fazer essas coisas, ele pilotou de forma que foi no mínimo potencialmente perigosa dada a natureza de alta velocidade daquele ponto da pista.”

Diante desta análise, mesmo admitindo que Alonso tinha o direito de realizar uma manobra diferente das voltas anteriores naquela curva, os comissários enquadraram o espanhol no artigo 33.4 do regulamento desportivo da F1 que indica que nenhum piloto deve “pilotar de forma desnecessariamente devagar, errática ou de uma maneira que possa colocar em potencial perigo os outros pilotos ou qualquer outra pessoa.”

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