Entenda a punição de Norris em Montreal por “conduta antidesportiva”
Lando Norris recebeu uma penalização durante o GP do Canadá do último domingo (18) por uma conduta antidesportiva, o que chamou a atenção de muita gente. A própria McLaren demorou alguns minutos para entender o que estava acontecendo e precisou tirar a dúvida com a FIA.
O inglês recebeu cinco segundos que foram adicionados ao seu tempo total de prova após a bandeira quadriculada, o que o derrubou no resultado da nona para a 13ª colocação após o término da corrida, custando-lhe dois pontos.
O problema todo aconteceu quando o safety car foi convocado para entrar na pista na 12ª volta. Norris era o sétimo colocado, logo atrás do companheiro de equipe, Oscar Piastri. Para aproveitar o momento com os carros mais lentos, a McLaren resolveu parar os seus dois pilotos para troca de pneus.
Desta forma, a equipe enviou a seguinte mensagem de rádio para Norris: “Lando, safety car, safety car. Você é o segundo carro, você é o segundo carro. Oscar três”. A numeração era uma referência a distância entre os dois, que era de exatamente três segundos.
Logo atrás de Norris, vinham Charles Leclerc e Alex Albon. Os três estavam separados por apenas um segundo até o instante da entrada do carro de segurança na pista. O monegasco da Ferrari não foi chamado para o pit, mas a Williams também resolveu parar o seu piloto.
Desta forma, Norris corria o risco de perder algum tempo na parada, pois vinha pouco atrás de Piastri e assim poderia ter que esperar um ou dois segundos antes de se posicionar para a troca de pneus, enquanto Albon entraria direto no pit. Mesmo assim, a McLaren conseguiu fazer a troca de pneus de seus dois pilotos e devolver Norris à pista ainda à frente de Albon.
Só que ao analisar o aviso do rádio da McLaren a Norris, a FIA usou seus novos recursos de assistência em tempo real aos comissários e identificou na telemetria que entre o momento da mensagem a Norris e a entrada do pit lane, o piloto britânico andou até 50 km/h mais devagar que o companheiro, Piastri, que ia à frente. A diferença se deu principalmente entre as curvas 10 e 13, as últimas do traçado canadense antes da entrada do pit lane.
A velocidade média que deve ser seguida nestes momentos de intervenção da corrida é mostrada aos pilotos no painel do volante, em que uma indicação do delta de tempo fica positiva ou negativa, avisando se ele deve acelerar ou diminuir.
Além disso, como a pista estava em regime de safety car e as ultrapassagens ficam proibidas, ele teria segurado Leclerc e Albon atrás, em um ritmo mais lento do que o necessário na pista.
Andando mais devagar, Norris ficou com uma distância maior em relação ao companheiro de equipe e assim a McLaren teve um tempo mais seguro de realizar a troca de pneus de Piastri e já se aprontar para receber em seguida o piloto britânico.
Por que os comissários usaram expressão “conduta antidesportiva”
Com esses dados em mãos, os comissários resolveram punir Norris. Mas o que mais chamou a atenção foi o motivo principal pelo qual foi chamada sua penalização: “conduta antidesportiva”.
Os comissários da FIA no GP do Canadá poderiam ter enquadrado Norris no artigo 55.5 do regulamento esportivo da F1, dentro do capítulo que regulamenta o comportamento dos pilotos quando o safety car é acionado.
Neste trecho, a regra é clara ao apontar que “nenhum carro deve ser pilotado desnecessariamente devagar, erraticamente ou de maneira que pode levar a um potencial perigo outros pilotos ou pessoas a qualquer momento durante o uso do safety car. Isso será aplicado a qualquer carro que estiver sendo pilotado na pista, na entrada do pit ou no pit lance”.
Porém, os comissários preferiram enquadrar o britânico no artigo 12.2.1.l do Código Esportivo Internacional (ISC) da FIA, que regulamenta o comportamento dos pilotos de todas as categorias homologadas pela entidade.
O texto, citado na íntegra na própria decisão dos comissários, aponta que os pilotos devem ser punidos no caso de “qualquer violação dos princípios de justiça na competição, comportamento antidesportivo ou tentativa de influenciar o resultado de uma competição de forma contrária à ética desportiva.”
Ou seja, mais do que o fato de Norris simplesmente andar devagar na pista, o que seria uma pilotagem potencialmente perigosa, os comissários julgaram que ele, ao segurar o ritmo de Albon durante o safety car, estaria utilizando de uma manobra que pode ser considerada ilegal para prejudicar de forma proposital um adversário. Seguindo essa interpretação, os comissários julgaram que ele faltou com ética desportiva e por isso classificaram a manobra como conduta antidesportiva.
Reação de Norris e da McLaren
Esse tipo de análise feita pelos comissários do GP do Canadá para tal manobra não é comum nas corridas de F1. Outros pilotos já foram investigados e até penalizados por entrarem devagar demais no pit segurando rivais atrás enquanto um companheiro fazia a parada à frente. Mas nunca por uma “conduta antidesportiva” prevista no ISC, e sim pelas regras de conduta no período de safety car no regulamento específico da F1.
Obviamente, Lando Norris não aceitou bem a penalização e disse que não fez nada de errado. “Me disseram para entrar no box uns três segundos antes do pitlane. Na hora, eu estava acelerando tudo, então, não faz sentido para mim. Muitas vezes você vai devagar durante o safety car virtual. Se eu sou punido aqui, eu deveria ser punido pelos últimos três anos também. E todo mundo também. Não sei, não fiz nada de errado”, reclamou.
O chefe da McLaren, Andrea Stella, acredita, no entanto, que Norris pode ter sido vítima de uma mudança de interpretação que a FIA pode estar querendo impor para a análise de casos como este a partir de agora.
“Na verdade, fomos conversar com os comissários logo depois da corrida porque achamos que estas velocidades sob safety car ou até mesmo no safety car virtual não deveriam ser uma infração razoável”, disse o dirigente ao site Motorsport.
“Existe a possibilidade de os comissários quererem definir novas referências. Discutimos com eles. Em última análise, confiamos no julgamento deles, mas estamos revisando mais uma vez agora enquanto conversamos o comportamento do Lando porque saímos dessa corrida muito surpresos que isso tenha resultado em uma penalização.”
De qualquer forma, assim como fez em vídeo pós-corrida para as redes da McLaren, Stella disse que a equipe não vai brigar parar reverter a punição por entender os argumentos apresentados pela FIA, apesar de realmente acreditar que a equipe foi pega de surpresa com a mudança de interpretação.
“Entendemos a posição dos comissários. Entendemos que eles querem definir um precedente então é uma nova maneira de interpretar a maneira como você tem que pilotar sob o safety car. Se essa é a abordagem, tudo bem. Mas é uma pena que estajamos envolvidos no estabelecimento deste novo precedente”, concluiu.
Certamente o assunto será abordado durante a reunião de pilotos e equipes com a direção de prova no GP da Áustria, em 10 dias. De qualquer forma, também vai ser necessário (e a McLaren certamente vai ficar de olho) verificar não só se esse tipo de manobra em pit stops duplos vai voltar a ser monitorada e se irá voltar a ser rotulada de “conduta antidesportiva”.
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