O que era a regra “Max Verstappen” da F1 em 2016
A luta pelo título de 2021 entre Lewis Hamilton e Max Verstappen entra para a história como um dos duelos mais tensos que a F1 já viu. A disputa contou com vários momentos em que os ânimos saíram do controle, o que resultou em múltiplas colisões entre os dois. Na reta final da campanha, Verstappen tem sido criticado pelos rivais por seu excesso de agressividade em disputas por posição.
Já houve outros momentos em que a conduta de Verstappen foi questionada por pilotos rivais e comissários de prova. Em 2016, sua segunda temporada na F1, algumas manobras do holandês deram origem a queixas da concorrência, o que resultou na criação daquela que ficou popularmente conhecida como “Regra Max Verstappen”.
Já contamos aqui no Projeto Motor como que Max Verstappen teve rápida ascensão ao estrelato da F1. Depois de ser o piloto mais jovem da história a competir na categoria, o holandês fez apenas 23 corridas pela Toro Rosso até ser convocado pela Red Bull, onde venceu logo em sua primeira corrida, na Espanha. No entanto, Verstappen também passou por todo um processo de amadurecimento que é comum para os grandes pilotos, e isso esteve bastante presente em sua trajetória em 2016. Afinal, Verstappen passava a compor o pelotão da frente, onde ele receberia maior atenção e passaria a duelar contra os grandes nomes da categoria.
Uma polêmica foi vista no GP da Hungria, a 11ª etapa de 2016. Verstappen lutava com Kimi Raikkonen pela quinta posição, sendo que o finlandês da Ferrari tinha melhor rendimento com pneus mais macios e mais novos. Na curva 2 do circuito, Raikkonen primeiro tenta ir por fora, depois por dentro, mas Verstappen muda sua trajetória para bloquear as duas linhas. Raikkonen, na tentativa de desviar, acaba tocando sua asa dianteira no rival.
Algumas voltas depois, Raikkonen voltou a tentar um ataque, e Verstappen defendeu a linha de dentro de forma bem tardia, já na zona de frenagem. Raikkonen de novo tenta desviar, escapa da pista e não consegue a ultrapassagem.
Por mais que o lance não tenha sido investigado pelos comissários, ele gerou críticas a Verstappen. Raikkonen lamentou e disse que “teve de fazer tudo para evitar contato”, indicando que a mudança de direção de Verstappen foi muito em cima da hora. Outro campeão mundial, Jenson Button disse entender as frustrações de Raikkonen, reforçando que mudar a sua linha já na zona de frenagem “era a pior coisa que poderia ser feita”.
Duas corridas depois, na Bélgica, o problema voltou a aparecer, de novo com Raikkonen. O finlandês da Ferrari tentou uma ultrapassagem na reta Kemmel, usando o DRS, mas Verstappen mais uma vez mudou de trajetória bem tarde para cobrir o lado interno, o que obrigou Raikkonen a frear em plena reta para não haver uma colisão. Mais uma vez isso gerou protestos da concorrência, e mais uma vez o incidente não foi investigado pela direção de prova. No entanto, Charlie Whiting, na época diretor de provas da F1, recomendou que “Verstappen fosse mais cauteloso, sem cometer exageros, já que às vezes ele era um pouco agressivo demais”.
E ainda haveria tempo para mais uma controvérsia. No Japão, era Hamilton que tentava ultrapassar Verstappen na chicane, e, novamente, o holandês mudou de trajetória já na zona de frenagem e cobriu o lado interno quando o inglês já havia escolhido ir por dentro. A Mercedes cogitou protestar, sendo que Hamilton reforçou que não mudar de linha na área de frenagem era algo que os pilotos faziam há muitos anos, e que apenas os novatos não iam pelo mesmo caminho.
FIA age após reclamações contra Verstappen
Diante das repetidas reclamações da concorrência e das preocupações com a segurança, a FIA decidiu fazer algo. No dia 22 de outubro, pouco antes do GP dos Estados Unidos, foi publicado um adendo que complementaria o regulamento esportivo da F1, deixando algumas diretrizes mais claras. Este adendo seria informalmente conhecido como “Regra Max Verstappen”.
O artigo 27.5 do regulamento dizia que “nenhum carro deveria ser guiado de maneira desnecessariamente lenta, de maneira errática ou de maneira que poderia ser potencialmente perigosa para os outros”. Já o 27.8 proibia “manobras que poderiam prejudicar outros pilotos”, incluindo “qualquer mudança anormal de direção”. O que a nova “Regra Max Verstappen” fazia era esclarecer que “qualquer mudança de direção nas freadas, que resultem em outro piloto tendo de tomar uma ação evasiva seria considerada anormal, e, portanto, potencialmente perigosa aos pilotos”. E que “qualquer manobra do tipo seria reportada aos comissários de prova”. Ou seja, ficava mais claro que as mudanças de trajetória já em zona de freada não seriam mais toleradas.
E não demorou para que a nova regra fosse aplicada. No GP do México, Sebastian Vettel mudou a trajetória na freada em uma disputa com Daniel Ricciardo, recebeu 10s de punição e perdeu um pódio.
Mas, se por um lado a F1 queria deixar as regras mais claras, por outro ela temia que o esporte ficasse complicado e burocrático demais com as múltiplas regras escritas. Então, para 2017, a “Regra Max Verstappen” é eliminada, pelo menos da forma como vinha sendo aplicada até então. Tudo voltaria a ser incluído no artigo 27.5. Não seriam mais todas as mudanças de trajetória durante as frenagens que seriam investigadas e punidas, mas sim apenas as que fossem consideradas perigosas, e é basicamente esta a abordagem que é adotada até os dias de hoje.
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