Tragédia e vitória: a empreitada de Roger Penske pela F1 anos 70
Roger Penske é um ícone do automobilismo americano. Grande piloto, se tornou proprietário de uma das principais organizações do esporte a motor local com sua equipe conquistando vitórias importantes em diversas categorias, especialmente Nascar e Indy, as duas mais importantes dos Estados Unidos.
Pouca gente lembra, no entanto, que ele também chegou a se aventurar na F1. E, se não foi um estrondoso sucesso, passou longe de ir mal, conquistando, inclusive, uma vitória na categoria com o seu próprio carro.
O interesse começou ainda no começo dos anos 70, na passagem da série pela América do Norte. Penske resolveu patrocinar uma segunda entrada da McLaren e colocou seu piloto de confiança, Mark Donohue, para pilotar um modelo M19A, pintado com o azul e amarelo da parceria Penske/Sunoco e sob o nome do time americano.
Donohue não fez feio e subiu ao pódio na terceira posição em Mosport, à frente inclusive do piloto oficial da McLaren, Denny Hulme. Na etapa seguinte, ele não poderia correr por conta de um conflito de agenda, e Penske, que até chegou a pensar em competir com dois carros, seguiu para Watkins Glen com David Hobbs ao volante. O pacote terminou a prova em décimo.
No mesmo final de semana, o empresário anunciou que iria correr na F1 de forma regular o mais breve possível. E ainda resolveu não seguir a receitinha básica de muitos times clientes, que normalmente compravam um chassi pronto com um motor Cosworth e iam para a pista. Ele apostou em ser um verdadeiro construtor na categoria, o que parece óbvio nos dias de hoje, mas que não era a forma mais comum de entrar no certame.
Assim, o projeto teve início em 1973, com a compra de uma pequena fábrica na Inglaterra de Graham McRae, um piloto neozelandês que usava o local para construir carros de F5000. Foram contratados seis empregados e Penske incumbiu Heinz Hofer, que gerenciava sua equipe na Cam-Am, de administrar a construção do carro e toda operação da nova equipe. Geoff Ferris foi contratado para projetar o primeiro modelo.
O americano ainda mandou para a Inglaterra seu chefe de mecânicos, Karl Kainhofer, homem de confiança desde seus tempos de piloto e que foi uma das primeiras contratações do time nos anos 60, para construir o carro.
Em meados de 1974, o PC1 estava pronto. O carro foi enviado em setembro aos Estados Unidos para uma espécie de lançamento, em um evento para patrocinadores e imprensa. Donohue, que tinha se aposentado das corridas e passou a trabalhar como administrador da equipe Penske nos Estados Unidos, pediu para pilotar o modelo nos testes. Diante da ideia, Roger e Kainhofer logo pensaram: por que não o colocar para correr de uma vez?
Desta forma, a Penske estrou na F1 como construtora no GP do Canadá, penúltima etapa de 1974. Após largar em 24º, Donohue terminou a prova em 12º. Na etapa seguinte, em Glen, o resultado final foi um 14º.
Em 1975, o time partiu para sua primeira – e difícil – temporada completa na F1. Os primeiros pontos vieram apenas na sétima prova, com um quinto lugar na Suécia. Mas depois da oitava corrida, e ainda fora do ritmo, Penske e Fred Stecher, chefe do patrocinador da equipe, o Citibank, resolveram que era hora de trocar o PC1 por um March e adquiriram um modelo 751 para o GP da Inglaterra.
Em uma das corridas mais malucas da história, Donohue terminou em quinto lugar, sob muita chuva em Silverstone, em uma prova em que apenas o vencedor, Emerson Fittipaldi, completou todas as voltas.
No GP da Áustria, em Osterreichring, uma grande tragédia impactou a equipe. Durante o warmup, no domingo de manhã, Donohue bateu de forma bastante violenta, com seu March passando pelo guardrail e se chocando na cabine dos comissários de prova. O piloto sofreu uma concussão.
Ele foi levado para um hospital, reclamando de uma forte dor de cabeça. Alguns dias depois, ele perdeu a consciência e foi submetido a uma cirurgia para baixar a pressão intracraniana. Os médicos, no entanto, não conseguiram reverter o quadro, e ele morreu na quinta-feira. Um comissário de corrida também perdeu a vida.
O drama fez Kainhofer também desistir de sua carreira, pedindo a Penske para não participar mais de equipes de competição. O empresário o transferiu para um posto em sua loja de motores nos Estados Unidos.
Para 1976, o time voltou a apostar em sua própria expertise e construiu o PC3, seu novo modelo, também projetado por Geoff Ferris. Para o volante, Penske contratou o norte-irlandês John Watson.
De cara, o novo modelo não se mostrou muito competitivo. Por isso, a equipe passou a trabalhar em uma evolução, o PC4, que estrearia na Suécia, sétima etapa. E a aposta deu certo. Logo vieram dois pódios, na França e Inglaterra, e na quinta corrida do carro o time conquistou sua primeira vitória, no mesmo GP da Áustria em que um ano antes foi palco da morte de Donohue.
Ao final da temporada, a Penske terminou na quinta posição no campeonato de construtores, à frente, por exemplo, de Ligier, March e Brabham. Promissor, não? É, mas também foi o fim para a empreitada do time na F1.
O Citibank resolveu ao final do ano não seguir com o patrocínio, e Penske decidiu o focar o dinheiro que tinha para investimento em sua equipe na Indy. E assim terminou a equipe, apesar do nome seguir nos chassis PC4 que a empresa vendeu para a ATS e Interscope, que competiram em 77 com pouco ou nenhum sucesso.
De qualquer maneira, a Penske é até hoje o último construtor americano a vencer na categoria.
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