(Foto: Paulo Maria/ DPPI/ Alpine)

O piloto que correu as 24 Horas de Le Mans sozinho

Será que é possível guiar uma prova de 24 horas do nível de Le Mans sozinho? A ideia pode parecer absurda no papel, mas isso resultou em algumas das histórias mais incríveis da tradicional prova.

Parece loucura, mas já houve dois casos bastante emblemáticos de pilotos que andaram sozinhos nas 24 horas de corrida. E nesta edição do WEC em 5 minutos, série sobre o Mundial de Endurance e as 24 Horas de Le Mans que o Projeto Motor produz em parceria com o piloto André Negrão, titular da equipe Alpine, contamos os detalhes.

O primeiro aconteceu em 1950, e com sucesso. O britânico Edward Hall era de uma família rica que ganhou dinheiro na indústria têxtil. Desta forma, ele teve oportunidade de se dedicar desde muito cedo para sua grande paixão, o automobilismo.

Hall se especializou em corridas de longa duração, como a famosa Millie Miglia. Durante a década de 30 e 40, quando estava em seu auge, ele manteve um grande interesse em competir em Le Mans. Ele chegou até a comprar um Bentley de corrida para participar, mas por conta de uma forte crise financeira na França e depois da segunda guerra mundial, diversas edições de Le Mans foram canceladas e a oportunidade não surgiu.

Enquanto aguardava uma chance de realizar o sonho de Le Mans, Hall seguiu ainda com duas carreiras paralelas ao automobilismo. Como fotógrafo, publicou um livro com imagens de corridas de carros. E ainda fez parte da equipe britânica de Bobsleigh, aquela competição de trenó em uma pista de gelo, participando até dos Jogos Olímpicos de inverno em 1928.

Mas foi em 1950 que ele finalmente conseguiu participar de Le Mans. Ele inscreveu uma equipe própria com seu velho Bentley, que agora já estava com 16 anos, e, por obrigação do regulamento, tinha um companheiro de equipe, o também britânico Tom Clarke.

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As regras de Le Mans exigiam que todos os carros tivessem pelo menos dois pilotos inscritos, mas não falavam nada sobre ambos precisarem dirigir durante a corrida. E Hall, aos 50 anos de idade, partiu para o seu desafio. Ele pilotou durante todas as 24 horas de prova, sem deixar seu parceiro entrar no carro. E não fez feio.

Mesmo com um carro bastante desatualizado, ele conseguiu terminar em um bom oitavo lugar na classificação geral entre os 29 carros que completaram a corrida. Até hoje, Edward Hall é o único piloto da história que realizou tal feito.

Pierre Levegh flertou com a vitórias em Le Mans

Ao contrário de Hall, o francês Pierre Levegh era um piloto de um nível mais profissional, chegando a competir por equipes da Mercedes e da Talbot, e até com participações em duas temporadas da F1.

Por algum tempo, Levegh manteve um sonho de vencer as 24 Horas de Le Mans com um carro francês. O mais perto que passou, no entanto, foi com um quarto lugar na edição de 51, com um Talbot.

No ano seguinte, ele voltou a Le Mans novamente com um modelo Talbot e René Marchand como companheiro. Levegh colocou um ritmo bastante regular. E aos poucos foi se beneficiando de problemas mecânicos dos favoritos da Mercedes, Ferrari e Gordini. No meio da noite, ele assumiu a liderança.

A esta altura, todas as outras equipes já tinham feito trocas de pilotos, mas Levegh se recusava a sair de seu carro. Após 12 horas de prova, quando parava para reabastecimento e troca pneus, ouviu apelos de seu chefe de equipe e até de sua esposa. O parceiro de time, Marchand, chegou a tentar arrancá-lo do carro à força, mas foi empurrado pelo piloto francês, que queria seguir em frente.

A questão que ninguém sabia é que Levegh tinha sentido um problema no motor de seu Talbot, e achava que o estilo de pilotagem de Marchand, que forçava mais o ritmo, podia causar um abandono.

Levegh quase conseguiu chegar ao final, o que o transformaria em um herói. Só que faltando apenas uma hora e 20 minutos para o final da corrida, o motor quebrou e ele abandonou a corrida enquanto ainda estava na liderança. E o que poderia ser um momento histórico para as 24 horas de Le Mans, acabou se tornando uma frustração.

Hoje, por conta das regras, não é mais possível esse tipo de iniciativa. Cada equipe deve ter três pilotos que se revezam no carro. Nenhum deles pode ficar mais de quatro horas consecutivas no carro e 14 horas durante todo o período da prova.

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