Adrian Newey: inovações e efeito de suas mudanças de equipe
A Aston Martin é o próximo destino de Adrian Newey a partir de março de 2025. O britânico, considerado um dos melhores projetistas da história da F1, ainda não pode assumir seu novo cargo porque precisa cumprir uma quarentena de seu contrato com a Red Bull para assumir o projeto do time rival.
Com este processo, ele deve chegar à nova equipe em tempo de focar no carro de 2026, primeiro do novo regulamento da F1, quando a Aston Martin espera dar um salto para lutar por vitórias.
A carreira de Newey é inquestionável e seus números falam por si. Nas quatro equipes em que trabalhou como responsável pelo desenho dos carros, ele conquistou títulos em três.
Depois de uma passagem como recém formado em engenharia pela Fittipaldi em 1980, mas como parte do time de engenharia liderando por Harvey Postlethwaite, o primeiro trabalho como responsável técnico na F1 foi na March, construtora tradicional, mas que andava no meio pelotão da categoria.
Newey ainda era jovem, mas vinha respaldado por trabalhos de sucesso nos EUA com vitórias tanto na Indy como na IMSA. E logo mostrou o que seria sua assinatura: a inovação.
O britânico mostrou que investia em soluções bastante inventivas e radicais para questões aerodinâmicas. Na March, por exemplo, além de inovar no refinamento do desenho dos endplates das asas dianteiras (que até então eram normalmente peças retas), ele trabalhou com a posição do cockpit e do próprio piloto para potencializar o desenho do carro.
Assim, ele adotou o desenho em que colocava os pés do piloto e pedais em uma posição mais alta, deixando o competidor inclinado e com a cabeça mais baixa em relação à linha média do carro.
Isso fez com que ele tivesse mais liberdade no desenho do bico, diminuísse o arrasto aerodinâmico do capacete, além de deixar o centro de gravidade do chassi mais baixo. Estes conceitos introduzidos por ele seguem na F1 até hoje.
Só que os pilotos tiveram que se adaptar a posições novas de pilotagem e uma visibilidade menor da pista. Além disso, com tanta dependência aerodinâmica, os carros de Newey na March se mostraram muito eficientes em algumas pistas, mas em circuitos com mais ondulações ou que exigiam menos pressão, sofriam para ter desempenho.
Depois de turbulências por conta de resultados claudicantes, ele acabou sendo desligado do time durante a temporada de 1990. Mas sua carreira daquele ponto em diante seria sempre brigando por grandes resultados.
E o efeito que ele teve em cada uma das equipes por qual passou foi enorme, criando máquinas vitoriosas em campanhas arrebatadoras em Williams, McLaren e Red Bull.
Passagem de Newey pela Williams
A Williams se tornou uma grande equipe durante os anos 80 conquistando seus primeiros títulos mundiais. Porém, o time passou momentos difíceis no final da década, incluindo a o acidente que deixou seu principal fundador, Frank Williams, tetraplégico, e principalmente quando perdeu os motores Honda para a McLaren, em 1988.
A reconstrução incluiu a contratação da revelação Adrian Newey, que tinha chamado a atenção pelos seus projetos na March. Assim, ele foi chamado para trabalhar ao lado de Patrick Head, diretor técnico e um dos proprietários. E o que os dois fizeram foi uma grande revolução na F1.
Já contamos em detalhes aqui no Projeto Motor da história do modelo FW14 e suas variantes. Newey e Head trabalharam pesado no refinamento aerodinâmico, novidades eletrônicas como câmbio borboleta semiautomático (na época, só a Ferrari usava) e outros sistemas mecânicos para tirar o máximo potencial do motor Renault V10.
O carro estreou em 1991 e sofreu em seus primeiros meses com a falta de confiabilidade. Mas na metade daquela temporada já mostrou parte de seu potencial ao colocar Nigel Mansell para pressionar a McLaren e Aryton Senna, conjunto que dominava a categoria.
No final do ano, os pontos perdidos nas primeiras corridas pelas quebras principalmente no câmbio, fizeram a diferença, mas a base estava construída para o ano seguinte.
Para 1992, Newey convenceu o time a investir em uma série de sistemas eletrônicos que chocariam a F1. Ele recuperou os experimentos que a Williams tinha feito com suspensão ativa na década de 80 e conseguiu elevar o dispositivo a um estado de arte da engenharia. Além disso, o FW14B também ganhou controle de tração, uma novidade na categoria.
Somados à base do modelo do ano anterior, esses novos artifícios deixaram a Williams em um nível quase inalcançável. A equipe conquistaria com facilidade os campeonatos de 92 e 93 com esses projetos em que Newey era um dos grandes protagonistas.
Só que uma grande mudança de regulamento, que proibiu vários dos recursos que utilizados no carro, deixou a equipe meio perdida. As derrotas de 1994 e 95 para a Benetton causaram certos questionamentos internos na Williams enquanto Newey se via bloqueado para se tornar o diretor técnico de todo o projeto pelo fato do cargo estar com Head, um dos proprietários.
Ele trabalhou no modelo FW18, introduzindo como grande novidade um novo difusor que usava uma brecha no regulamento para aproveitar melhor o fluxo de ar na traseira do carro. Apesar de testado ainda em 1995, as rivais não perceberam a invenção que seria uma das grandes vantagens da Williams em 96, ano que o time retomaria a dominância da F1.
Mas ainda no meio da temporada de 1996, Newey entrou em período de quarentena para se transferir para a McLaren, onde teria a chance de ser o diretor técnico sem ter que responder ao um chefe no departamento.
Novo projeto para recuperar uma gigante
Assim como aconteceu com a Williams, Newey chegou a McLaren em um momento em que a equipe andava por baixo e longe das brigas pelos títulos. Só que dessa vez, ele passaria a comandar todo o projeto como diretor técnico da equipe.
Ao chegar no começo de 1997, ele teve pouca influência no modelo daquela temporada. Mas o campeonato serviu para alguns experimentos focando o ano seguinte. E assim nasceu o modelo MP4-13, que Newey liderou o desenvolvimento ao lado do projetista Neil Oatley.
O novo carro seguiu as características de Newey de refinamento e soluções fora do convencional. O projetista investiu em um entreeixos mais longo para aproveitar melhor as oportunidades de geração de pressão aerodinâmica através da carroceria.
Sob sua liderança técnica, a McLaren voltaria a vencer o campeonato em 1998 e 99. Mas no começo da década de 2000, seria dominada pela Ferrari que enfileirou conquistas até 2004.
Um clima ruim no time e a difícil relação com o então chefe da organização, Ron Dennis, fizeram Newey pensar com carinho em seu próximo passo e chegar à conclusão que estava na hora de um novo desafio.
Newey com uma folha em branco
A contração de Adrian Newey pela Red Bull para 2006 foi um choque para a F1. A equipe tinha sido formada apenas um ano antes e ainda estava longe de brigar sequer por pódios.
O projetista foi seduzido justamente pela chance de fazer um novo trabalho com carta branca, fugindo das disputas internas que aconteciam na McLaren. Seriam algumas temporadas formando seu time de engenheiros e apontando onde o investimento de infraestrutura precisaria ser feito até a grande virada em 2009.
Newey e a Red Bull se aproveitaram da mudança de regulamento daquela temporada para darem o salto que a equipe aguardava para o primeiro pelotão da F1. O que talvez não esperassem era a surpresa da Brawn GP, que como um cometa conquistou o título daquele ano.
Mas a Red Bull de Newey deixou sua marca ao conquistar suas primeiras vitórias e fazer de Sebastian Vettel vice-campeão mundial. E a base estava formada para o que viria a seguir: quatro títulos consecutivos do time da empresa de energéticos.
Para 2010, Newey trabalhou de forma muito próxima com a Renault para aproveitar gases do escapamento de forma aerodinâmica mesmo quando o piloto não estava acelerando.
Assim, quando o carro estava na curva, mesmo que teoricamente em desaceleração quando o escape solta menos gases, ele conseguia utilizar o sistema para soprar no difusor traseiro, o que amentava a pressão aerodinâmica na traseira.
O sistema deu muito certo também por conta da boa adaptação de Vettel, que precisou muitas vezes pilotar de forma não convencional para otimizar a ideia do projetista.
Uma nova mudança de regulamento em 2014 que aumentou a influência das novas unidades de potência híbridas no desempenho dos carros tirou quase toda a vantagem que as ideias de Newey davam ao time.
E assim, passaram-se anos até que ele pudesse fazer novamente a diferença como aconteceu em 2022, após uma nova grande mudança de regulamento que reposicionou a Red Bull como time a ser batido.
Só que um clima interno ruim após um escândalo envolvendo o chefe da equipe, Christian Horner, no início de 2024 fez Newey optar em deixar a organização após 18 anos.
Depois de alguns meses de especulações, o britânico fecha agora com a Aston Martin para iniciar mais um capítulo dessa sua história.
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