Os ajustes da Pirelli para segundo ano dos novos carros e pneus da F1
A temporada de 2022 marcou uma das maiores revoluções da história da F1 em termos de mudança de regulamento. E se as equipes tiveram que trabalhar bastante no desenvolvimento de seus carros, a Pirelli também teve seus desafios para fabricar os novos pneus da categoria.
Isso porque além de enfrentar uma transformação radical no comportamento dos modelos com a reintrodução do efeito solo, a fornecedora única da F1 ainda partiu de uma base de dados quase zero também por causa da alteração dos próprios pneus. Em 22, o campeonato passou a adotar rodas maiores, de 18 polegadas, e compostos com o perfil mais baixo.
Com paredes laterais menores, os pneus passam por um estresse maior de absorção de energia tanto lateral nas curvas quanto no sentido vertical no trabalho que antes ajudava a suspensão. E isso ainda se agravou com algumas surpresas, como o porpoising, que causou dor de cabeça para as equipes no começo da temporada.
O Projeto Motor conversou de forma exclusiva com o diretor esportivo da Pirelli na F1, Mario Isola, que contou um pouco sobre como foi o desafio de criar um pneu totalmente novo para a categoria em uma temporada em que os carros também eram completamente novos.
“É sempre um grande desafio. Tenho que dizer que não foi a primeira vez. Em 2016, tivemos que desenvolver o pneu mais largo para 2017 e não tínhamos carros rápidos para testar os pneus. Os carros de 2017 eram cinco ou seis segundos mais rápidos que os antecessores nos testes [de pré-temporada] em Barcelona. O nível de energia colocada nos pneus não era comparável. Era como uma diferença entre um F2 e um F1. Não era uma boa comparação”, contou Isola.
“Nós começamos trabalhando muito com as equipes nas simulações. Nós recebemos as simulações das equipes em 2021, tínhamos um modelo de termodinâmica que fornecemos para as equipes, eles usaram nos simuladores e recebemos de volta as análises. E assim, pudemos fazer algumas previsões sobre o que esperar”, continuou.
Além do trabalho de simuladores, a Pirelli trabalhou durante 2021 com modelos mula, que são carros mais antigos adaptados para o novo regulamento com ajuda das equipes. Porém, por motivos óbvios de falta de desenvolvimento até mesmo parte dos times, que naquele momento ainda trabalhavam nos projetos básicos de seus novos carros, e a própria capacidade de produzir novos chassis para irem para a pista, esse tipo de teste impôs diversas limitações.
E a Pirelli acabou sentindo isso quando recebeu as primeiras impressões dos pilotos já com a temporada de 2022 em andamento. O comportamento dos pneus, principalmente os dianteiros, não foram exatamente dentro do que se viu nas simulações e testes em pista.
“Esses carros que trabalhávamos eram muito diferentes, principalmente no pacote aerodinâmico. Por exemplo, os pilotos reclamaram muito dos carros saindo de frente nas curvas de baixa, algo que não identificamos nos testes com carros mula. Isso é um efeito que os novos carros estão mostrando e por isso que para 2023 vamos criar pneus dianteiros mais fortes”, contou Isola ao Projeto Motor.
Mudanças da Pirelli para 2023
Para o segundo ano do novo regulamento da F1, a Pirelli agora tem mais dados não só de testes de pista, mas também em formato competitivo, com os pilotos brigando por poles e vitórias.
Mesmo assim, a fornecedora também precisa lidar com a questão da taxa de desenvolvimento dos carros. Como o próprio Isola explicou ao Projeto Motor, nos primeiros dois anos de um novo regulamento, a evolução dos modelos é muito alta, pois os times estão encontrando os caminhos dentro das novas regras. Pequenas mudanças, muitas vezes, resultam em grandes ganhos.
Isso impacta bastante os pneus, já que carros cada vez mais rápidos também exigem mais resistência em termos de estresse nos compostos, principalmente nas curvas, onde a energia lateral é bastante grande.
Para estar pronta para este desafio e fabricar em 2023 pneus dentro dos novos parâmetros que provavelmente irão surgir, a Pirelli criou um processo em que ela recebe dados dos times, que não serão compartilhados de forma pública ou entre os concorrentes, diretamente em seu servidor. Isso aconteceu em dois momentos: em junho e depois em novembro de 2022.
Com isso em mãos, Isola disse ao Projeto Motor que os alvos que a fornecedora precisa alcançar para 2023 ficaram mais claros e ajudaram no trabalho antes da nova temporada.
“Depois de um ano usando esses pneus de 18 polegadas, temos em mente o que fazer para o próximo ano. Um pneu dianteiro mais forte, queremos um composto C1 [o mais duro da gama] com um pouco mais de aderência. Aprendemos na pista”, afirmou.
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