(Foto: Clive Mason/Getty Images /Red Bull Content)

Na reta final de 2022, pilotos opinam se F1 melhorou com novas regras

A F1 passou anos se preparando para a grande mudança de regulamento técnico que viria em 2022 (era em 2021, mas adiada por conta da pandemia). A expectativa criada foi grande por ser uma das maiores mudanças que a categoria já passou em sua história, e, desta vez, vinda com objetivos esportivos muito claros.

O novo regulamento foi resultado de uma intensa pesquisa realizada por um time técnico formado principalmente pela F1 e em parceria com a FIA, com o objetivo de fazer com que os carros sofressem menos turbulência e conseguissem andar mais próximos. Assim, acreditava-se que seria possível propiciar corridas com os pilotos brigando mais próximos e com mais ultrapassagens.

Quando os novos carros finalmente foram para a pista no começo da temporada, o sentimento geral dos pilotos e dirigentes era de otimismo, porém, ainda cauteloso por conta da baixa amostragem nas primeiras etapas.

Chegando agora para as duas corridas finais do campeonato, após passarem por 20 pistas diferentes, o Projeto Motor questionou alguns dos competidores em Interlagos para saber se eles tinham uma conclusão mais sólida sobre se as novas regras realmente ajudaram a melhorar as corridas.

E a resposta geral dos pilotos ouvidos pela nossa reportagem foi bastante positiva sobre o ponto principal da mudança, que era de tentar permitir com que os carros andassem mais próximos.

Carlos Sainz, da Ferrari, foi um dos questionados sobre o assunto e disse estar bastante contente com o resultado das mudanças para 2022. “Acho que a F1 acertou no princípio. No geral, o novo carro nos permite andar mais próximos, de conseguirmos ultrapassar em lugares e curvas que antes eram mais difíceis. Acho que a corrida está mais excitante”, respondeu o espanhol ser questionado em coletiva pelo Projeto Motor.

Pierre Gasly, que atualmente está na AlphaTauri e que vai se transferir para a Alpine em 2023, concordou que os principais objetivos do regulamento foram alcançados pelo novo regulamento.

“Acho que no geral foi positivo. Em termos de corrida, vimos mais ultrapassagens. Do ponto de vista do piloto, está mais fácil de seguirmos em algumas pistas. Definitivamente, deste lado, melhorou a categoria”, disse.

Campeão do campeonato com quatro corridas de antecipação e novo recordista de vitórias em uma mesma temporada (14 e contando), Max Verstappen também acha que as disputas dentro da pista ficaram melhores. Ele ainda apontou que as corridas em que não se sentiu essa evolução foram mais por conta das características de traçado do que qualquer outra coisa que se pode mexer nos carros.

“Definitivamente, as corridas melhoraram. Em algumas pistas ficou melhor do que em outras. Mas em algumas pistas é difícil ultrapassar independente do carro que você usa. Mas acho que esse foi o principal objetivo de qualquer maneira”, analisou o bicampeão da F1.

Vácuo perdeu força com novos carros

Apesar do sentimento de melhora das disputas como um todo, alguns pilotos apontaram uma deficiência dos novos carros da F1 que, ao contrário do que se desejava, deixou as ultrapassagens um pouco mais complicadas em diversas pistas: um menor efeito do vácuo.

Acontece que o trabalho feito para que os carros andam à frente causarem menos turbulência para os de trás foi tão grande, que eles também passaram a gerar menos vácuo por movimentarem menos o ar na parte superior dos modelos.

Pilotos da F1 conseguiram andar mais próximos com a menor turbulência dos carros de 2022
Pilotos da F1 conseguiram andar mais próximos com a menor turbulência dos carros de 2022 (Foto: Mark Thompson/Getty Images/Red Bull Content)

Essa é uma influência grande em traçados de alta em que a asa móvel não consegue sozinha resolver a diferença de velocidade por conta das características de configuração aerodinâmica. Isso acontece, por exemplo, em Monza, em que o vácuo é mais determinante para uma ultrapassagem.

Kevin Magnussen, da Haas, e Esteban Ocon, da Alpine, chegaram a dizer que, apesar de no geral seguir os carros à frente nas curvas ficou mais fácil, as tentativas de ataque ficaram até mais complicadas em alguns circuitos pela falta de vácuo.

“Em algumas pistas, na verdade, a ultrapassagem não ficou melhor porque o efeito do vácuo neste carro ficou menor do que era. Então, em pistas em que seguir de perto não era um problema antes, acho que a ultrapassagem ficou agora mais difícil por conta disso”, explicou o dinamarquês.

Diferença entre as equipes continua grande na F1

Apesar de quase todos os pilotos concordarem que os novos carros entregaram o que se esperava deles, com mais possibilidade de se andar perto dos adversários, existe meio que um consenso que a F1 ainda precisa fazer mais para aproximar mais o desempenho geral das equipes.

Um dos que mostrou decepção com o cenário, que teve durante todo o ano apenas Red Bull e Ferrari brigando por vitórias, com a Mercedes mostrando alguma aproximação na segunda metade da temporada, foi Gasly.

Ele lamentou que o novo regulamento não resultou em um grid mais próximo, lembrando que apenas Lando Norris, da McLaren conseguiu subir no pódio fora das três equipes da frente.

“Pessoalmente, eu achava que veríamos mais variedade nos resultados nos primeiros colocados. Com mais times do meio de pelotão tendo a chance de brigar por pódios. Acho que isso é algo que podemos melhorar para os próximos anos. Ter mais equipes brigando por pódios. Você vai ter sempre uma ou duas equipes dominantes, mas pelo menos não deixar ter uma vantagem tão grande que não permite as equipes médias brigarem por pódios.”

Ocon concorcou com a visão do compatriota e opinou que com o relativo sucesso do regulamento técnico de 2022, a F1 deve trabalhar agora para aumentar as chances de mais equipes brigarem por resultados entre os primeiros.  “O último carro ainda está muito longe do primeiro. Isso é o próximo passo”, disse.

Os franceses realmente têm razão ao apontar que – com pouco sucesso por enquanto – a F1 tenta diminuir essa diferença com o novo regulamento, já que resolveu padronizar diversas peças e fornecedores e ainda criou as normas financeiras, que buscam nivelar a capacidade de investimento das equipes.

Sem discordar da visão dos franceses, Sainz acredita, no entanto, que essa distância entre as equipes da frente e o pelotão intermediário deve diminuir com o passar do tempo e as equipes começando a trabalhar em soluções mais parecidas.

“A diferença entre o grid ainda é relativamente grande. Mas acredito que quando as regras se estabilizarem, todos vamos convergir e o campeonato vai ficar mais interessante com o passar dos anos. Acho que foi a direção correta”, disse.

Lance Stroll, da Aston Martin, por outro lado, lembrou que essa diferença de desempenho entre as equipes sempre foi uma das principais características históricas da F1 pelo fato de cada time construir seu próprio carro e ter suas próprias soluções.

“Acho que com o tempo do regulamento, provavelmente todo mundo vai alcançar. Mas também acho que é a natureza da F1. Tem sido assim há anos. Algumas equipes acertam mais que outras”, afirmou o canadense.

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