ASA CDG: a estranha ideia da F1 na busca por mais ultrapassagens
A F1 vive uma busca constante por soluções para aumentar as ultrapassagens e deixar as corridas mais dinâmicas. É esta, por exemplo, a grande ideia por trás do revolucionário regulamento de 2022, que mudará drasticamente o conceito dos carros para tentar proporcionar mais disputas na pista.
Só que esta busca não é de agora – na verdade, ela é bem antiga, sendo que, em décadas anteriores, algumas ideias bastante inusitadas já foram seriamente consideradas. Uma delas é a asa CDG, um conceito radical que propunha substituir o aerofólio traseiro por duas peças menores. Isso chegou a ser proposto oficialmente pela FIA, até com data de estreia prevista. Porém, o projeto perdeu força com o passar do tempo e depois caiu no esquecimento.
O ano era 2005. Fernando Alonso havia acabado de conquistar seu primeiro título mundial, naquela que foi a última temporada em que o regulamento previa o uso dos adorados motores V10. No entanto, isso não significava que o público estava totalmente satisfeito com as dinâmicas da pista. Em uma pesquisa realizada com a sua audiência, a F1 viu que 94% dos fãs acreditavam que a categoria precisava ter mais ultrapassagens na pista.
O desejo por mais ultrapassagens é algo que vem de muito tempo. Já naquela época, a turbulência gerada pelos carros era considerada um problema, pois o conceito aerodinâmico da F1 provocava uma grande área do chamado “ar sujo”. Este ar turbulento impedia que o carro de trás seguisse de perto o rival da frente, o que tornava as ultrapassagens ainda mais difíceis.
E, naquela época, havia alguns agravantes adicionais: primeiro, os modelos ainda contavam com muitos apêndices aerodinâmicos, os chamados “penduricalhos”, o que deixava o carro ainda mais sensível à turbulência. Segundo, a F1 usava pneus com ranhuras mesmo em pista seca, o que reduzia a superfície de contato da borracha com o solo, e deixava os modelos com menos aderência mecânica. Ou seja, esta menor aderência mecânica, somada com a turbulência, deixava tudo mais complicado.
A proposta da nova asa para a F1
Diante deste cenário tecnicamente tão complexo, o então presidente da FIA, Max Mosley, convocou seu aliado de longa data Nick Wirth para buscar uma solução para a falta de ultrapassagens. Seria feito um intenso estudo utilizando CFD, a fluidodinâmica computacional, para descobrir como que os carros poderiam competir livremente, sem sofrer tanto o efeito da turbulência.
E o resultado deste estudo foi divulgado no final de outubro, com um conceito um tanto revolucionário. Era a chamada “asa CDG”, sigla para Centreline Downwash Generating. A proposta radical consistia em substituir o aerofólio traseiro único dos carros de monoposto por duas asas menores, posicionadas atrás dos pneus. Uma ruptura visual enorme, mas, segundo a FIA, era por uma boa causa.
A asa CDG causaria menor turbulência, pois ela, como indica o seu nome, forçaria o efeito do downwash, ou seja, quando o ar volta à sua posição original depois de ser perturbado pelo aerofólio. Em teoria, o conceito deixaria mais fácil um carro seguir o outro, e até aumentaria o efeito do vácuo. Isso, aliado ao retorno dos pneus slick, deixaria as corridas muito mais movimentadas, pelo menos era o que defendia a FIA.
O plano era de que a asa CDG fosse implementada na F1 em 2008, mas poderia ser antecipada para 2007 se as equipes concordassem. Para Mosley, o conceito daria aos fãs “exatamente o que eles pediram, com disputas roda a roda e muito mais ultrapassagens”. Mas ainda havia muita gente cética.
Fracasso da ideia e novos estudos sobre ultrapassagens
Nick Fry, dirigente da então equipe BAR, defendia que era preciso fazer mais estudos sobre a asa CDG, já que todo o trabalho na concepção do dispositivo tinha sido feito em CFD. Desta forma, na visão do inglês, seria importante fazer também testes com modelos reais em túnel de vento. Em votação, as equipes rejeitaram a implementação da asa CDG para 2007, mas ela ainda não havia sido descartada para 2008.
Acontece que, ao longo de 2006, as equipes realizaram seus próprios testes em túnel de vento, e a conclusão não foi das melhores. Primeiro porque não havia garantias de que a asa CDG funcionaria como o previsto, pois as equipes poderiam anular o downwash por meio de outros componentes aerodinâmicos. Segundo, também havia um impacto negativo em caso de vários carros emparelhados. Então, a ideia perdeu cada vez mais força, até ser esquecida de vez e se tornar um inusitado capítulo da F1.
Mesmo com o fracasso do projeto da asa CDG, aquilo representou o início de algo maior, pois forçou a categoria a refletir sobre o assunto ultrapassagens. No começo de 2007, a F1 criou o Overtaking Working Group, o Grupo de Ultrapassagens. Membros do corpo técnico das maiores equipes do grid realizariam estudos e apresentariam ideias para deixar as corridas mais dinâmicas.
Este foi o embrião de novidades importantes que viriam nos anos seguintes, como as mudanças de regulamento de 2009, com a aerodinâmica mais simples e o retorno dos pneus slick, e o DRS, introduzido em 2011.
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