A confusão de Button com Williams e BAR que quase mudou a carreira do inglês

Em 2021, Jenson Button foi anunciado como novo consultor sênior da Williams, retornando à equipe que lhe deu a primeira chance de correr na F1, em 2000. O curioso é que o piloto e a equipe também protagonizaram com a BAR uma das maiores confusões de contratos da história.

E é maluco pensar que caso as coisas tivessem seguido como Button tinha pensado em um primeiro momento, trocando a BAR pela Williams, ele muito provavelmente não estaria em 2006 na Honda (sucessora da BAR) quando venceu sua primeira corrida, ou em 2009 na Brawn GP (que sucedeu a Honda), ano de seu título mundial.

E as idas e vindas de Button e a Williams começaram cedo, quando ele foi dispensado após apenas uma temporada pela equipe de Grove para dar lugar a Juan Pablo Montoya. Ralf Schumacher foi mantido. O inglês então foi em 2001 para a Benetton, que estava em vias de se tornar equipe oficial da Renault em 2002.

Durante os dois anos por lá, os resultados foram medianos, com alguma melhora em 2002. Para 2003, a Renault resolveu investir no jovem Fernando Alonso, que vinha de uma temporada da Minardi e outra como piloto de testes da equipe francesa, e Button teve mais uma vez que achar uma nova casa. Ele se arrumou na BAR, time que depois de um começo difícil na F1, passava por uma reformulação com novo corpo técnico e administrativo, além de assinar um contrato para aumentar seu envolvimento com a Honda.

E o time realmente evoluiu, terminando em quinto no campeonato de construtores de 2003, e começando muito bem em 2004, com Button conquistando cinco pódios nas sete primeiras etapas. Só que nos bastidores, o inglês começou a fazer uma enorme confusão.

A briga com a BAR para voltar à Williams

Button tinha receio que a parceria da BAR com a Honda não fosse ser prolongada além de 2005. Ele recebeu uma proposta durante a temporada de 2004 e logo aceitar se transferir para a Williams, que tinha um acordo com a BMW de fornecimento oficial de motores na época.

Button estreou na F1 aos 20 anos pela Williams
Button estreou na F1 aos 20 anos pela Williams

Ele anunciou em 6 de agosto de 2004 que mudaria de casa no ano seguinte e chocou muita gente, principalmente os dirigentes da BAR. A questão é que apesar de seu contrato com sua então equipe estivesse por terminar no final daquele ano, a BAR alegava que tinha uma opção de renovação por mais uma temporada.

Do outro lado, Button e seus empresários responderam tentando utilizar uma brecha no contrato que dizia que o inglês não era obrigado a permanecer caso existisse a chance da Honda não permanecer como fornecedora de motores. Os japoneses tinham assinado em julho, um mês antes, um contrato para 2005 com a BAR, porém, a alegação do piloto é que este acordo não era definitivo.

O resultado é que Button, Williams e BAR foram brigar nos tribunais. No caso, o Painel de Reconhecimento de Contratos (CRB, na sigla em inglês), uma mesa da FIA formada por advogados independentes que analisava e resolvia litígios deste tipo, para que as partes não precisassem ir à justiça comum. O quadro tinha sido criado pela entidade em 1991, após a enorme polêmica do contrato que teoricamente Michael Schumacher quebrou com a Jordan para se transferir para a Benetton após apenas uma corrida, alegando uma interpretação de uma palavra.

Depois de uma extensa análise e discussões entre advogados, no dia 20 de outubro, alguns dias antes do GP do Brasil, o CRB anunciou que o contrato de Button com a BAR ainda era válido para 2005 e por isso ele não poderia se transferir para a Williams.

Todos os lados aceitaram a decisão, mas a Williams não desistiu de voltar a contar com o piloto. E isso abriria mais uma discussão.

Button se arrepende de acordo com a Williams para ficar com a BAR

Como a opção de renovação da BAR era de apenas mais um ano, no caso de 2005, Button e Williams logo assinaram um pré-contrato para que ele corresse na equipe a partir de 2006. Tudo certo e tudo muito bom, só que durante o ano, a BMW anunciou que estava deixando a Williams para montar sua equipe própria.

Por outro lado, no final de 2004, a Honda comprou 45% das ações da BAR, estreitando ainda mais sua relação com a equipe e demonstrando a vontade de criar uma operação oficial com o time. Button, assim, viu a mesa virar. O que seria melhor agora: ir para a Williams sem apoio de uma montadora ou ficar com a BAR, que tinha a Honda como sócia?

O arrependimento bateu e ele procurou os dirigentes da BAR para saber se existia chance dele ficar. A resposta foi positiva e Button foi comunicar a Williams que não iria mais correr pela equipe no ano seguinte, como tinha acordado. Só que Frank Williams disse que dessa vez era ele que tinha um contrato e exigia o cumprimento.

Em um primeiro momento, Button e seus empresários alegaram que o acordo com a Williams era na verdade um pré-contrato não definitivo e que apenas indicava uma intenção, não se caracterizando como um documento vinculante. Quando eles perceberam que a conversa não ia colar com Frank Williams, muito menos na justiça (seja na comum ou num processo prévio na FIA), iniciou-se então uma conversa sobre o quanto custaria a liberação do inglês.

Depois de tanta indefinição sobre o futuro de sua carreira, Button conquistou sua primeira vitória na F1 em 2006, pela Honda (Foto: Honda)
Depois de tanta indefinição sobre o futuro de sua carreira, Button conquistou sua primeira vitória na F1 em 2006, pela Honda (Foto: Honda)

Como a BAR e a Honda tinham enorme interesse na permanência do inglês para formar com Rubens Barrichello, a essa altura já contratado, uma grande dupla para 2006, eles aceitaram se envolver nas tratativas. Frank Williams usou de toda sua experiência e rejeitou as duas primeiras propostas.

No final, em setembro de 2005, a BAR concordou comprar o contrato de Button por £18 milhões e assinou com o inglês um novo acordo para os anos seguintes. Poucos meses depois, a Honda anunciaria que estava adquirindo 100% do time e o renomeando com sua marca, mantendo a dupla já definida com Button e Barrichello.

Button venceria sua primeira corrida no GP da Hungria de 2006 com o carro do time japonês, porém, os dois anos seguintes seriam de sérios problemas de desempenho da Honda. No final de 2008, a montadora resolveu deixar a F1 e fez um acordo para que seu espólio ficasse com Ross Brawn, o que deu origem à Brawn GP. Com o carro da “nova” escuderia equipado com motor Mercedes, Button foi campeão mundial de 2009.

Comunicar erro

Comentários