Entenda a confusão da punição de Alonso na Arábia Saudita
Fernando Alonso conquistou no último domingo (20) o seu centésimo pódio na F1. Ele é apenas o sexto piloto da história a chegar a tal marca. Mas, por algumas horas, mesmo depois de ter subido à cerimônia de celebração e comemorado com a tradicional champanhe, ele chegou a perder a posição.
A confusão foi bem grande. A FIA mudou o resultado da prova por duas vezes depois da bandeira quadriculada, deixando muita gente sem saber direito o que estava acontecendo. Inlcuindo até mesmo equipes e pilotos. E não era para menos.
Tudo começou com uma punição a Alonso por ele ter parado de forma errada no grid na hora da largada. A F1 anda bastante exigente com este quesito e outras penalizações já foram dadas pelo mesmo motivo nos últimos tempos.
O piloto tem que parar seu carro exatamente dentro do colchete do grid. Mesmo que não fique à frente, ele também não pode ficar para os lados. Alonso ficou muito à esquerda, com uma roda quase inteira para fora da área.
Alguns pilotos têm reclamado que com as atuais dimensões dos carros e a total falta de visibilidade da frente (eles não enxergam as enormes asas dianteiras, por exemplo), é difícil estacionar o carro exatamente na posição, como a FIA exige.
A entidade aumentou a largura dos colchetes e a pintura no chão agora tem as linhas laterais mais compridas para o piloto já chegar posicionando seu carro. Para saber onde parar, uma linha amarela onde a roda deve ficar também é pintada na perpendicular em relação ao carro, dando mais um ponto de referência aos pilotos.
De qualquer maneira, é indiscutível que Alonso não parou dentro da posição e, assim, poucos minutos depois da largada, ele recebeu a punição de cinco segundos parado no pit que poderia ser paga em sua troca de pneus. E foi aí que começou a confusão.
A surpresa com a mudança inicial do resultado
Na 18ª volta da prova, Alonso veio aos boxes para fazer sua troca de pneus. Ele precisava pagar sua punição de cinco segundos quando chegasse à posição da Aston Martin no pit lane. A partir do momento em que parasse totalmente seu carro, o tempo começaria a contar e os mecânicos não podiam realizar nenhum tipo de trabalho no veículo. Ao final dos cinco segundos, a equipe fica liberada para mexer no carro.
E foi isso que aconteceu. A equipe se posicionou em volta da Aston Martin de Alonso, aguardou os cinco segundos, e então fez a troca de pneus e o espanhol retornou à pista. Depois disso, por quase toda a prova, não se falou mais disso.
Só que aí veio a surpresa. Faltando poucas voltas para o final, George Russell, que estava na quarta posição a pouco mais de 4 segundos de Alonso, terceiro, recebeu a mensagem de rádio de seu engenheiro pedindo para tentar não deixar o adversário abrir mais vantagem, pois existia a possibilidade de uma nova punição para ele.
Eles cruzaram a linha de chegada separados por 5s1. Alonso celebrou com sua equipe o terceiro lugar e subiu ao pódio pela segunda vez na temporada. Poucos minutos depois da cerimônia, a FIA anunciou uma decisão dos comissários que Alonso teria pago de forma incorreta sua penalização de cinco segundos no começo da prova e que, assim, receberia um acréscimo de 10 segundos ao seu tempo total de prova, o que lhe deixaria na quarta posição, atrás de Russell.
A Band até pegou ao vivo, de forma bastante curiosa, o momento em que o inglês é informado pela repórter brasileira Mariana Becker sobre a punição de Alonso e que ele tinha subido para o terceiro lugar.
Como foi a decisão de punir Alonso após a prova
Em 2022, motivada pelos erros acontecidos na decisão do título de 2021 no GP de Abu Dhabi, a FIA criou uma nova organização para ajudar diretor de prova e comissários nas decisões durante as corridas. Inspirado no VAR do futebol, o Centro Remoto de Operações (ROC) tem uma estrutura fixa em Genebra, na Suíça, onde revisa imagens e utiliza ferramentas tecnológicas para traçar linhas, conferir velocidades e realizar simulações de trajetórias.
O ROC segue um procedimento padrão de checar alguns momentos específicos com mais atenção e avisar se tudo correu bem para os comissários. É o caso de um cumprimento de punição. Alguns minutos depois do pit de Alonso em Jeddah no último domingo, a mensagem enviada pelo centro de Genebra foi de que tudo tinha ocorrido bem.
Só que depois de rever o lance por uma outra câmera, o ROC enviou durante a última volta da prova (31 voltas após o lance) um aviso de que um mecânico da Aston Martin teria encostado o macaco na traseira do carro do Alonso antes que os cinco segundos na punição terminarem. Assim, eles sugeriram uma revisão do lance por parte dos comissários.
Ao checarem o vídeo, os comissários em Jeddah identificaram que realmente o mecânico encostou o macaco na luz traseira do carro de Alonso. O regulamento da F1 afirma que é proibido trabalhar no carro durante o cumprimento de uma penalização.
Os comissários citam na decisão publicada pela FIA após a corrida que segundo um “acordo” que teria sido feito no Comitê Consultivo Esportivo (SAC), equipes e FIA teriam definido que “tocar no carro” seria considerado “trabalhar no carro”. Sendo assim, a punição do espanhol não foi cumprida de forma apropriada.
Os comissários ainda explicam que poderiam até mesmo desclassificar o espanhol, mas que, por perceberem nas cenas que nenhum trabalho realmente foi feito no carro, eles decidiram “apenas” puni-lo em 10 segundos em seu tempo de prova.
A reversão da punição e a manutenção do 100º pódio de Alonso
A Aston Martin foi pega de surpresa pela decisão nos minutos seguintes à corrida e resolveu apelar pelo seu direito de revisão. Para isso, ela precisaria levar ao conhecimento dos comissários alguma evidência nova.
E o time trabalhou rápido. Durante as horas seguintes à prova, a Aston Martin juntou e apresentou aos comissários gravação da reunião do SAC e vídeos de sete casos recentes em que os carros foram tocados pelo macaco durante o pagamento da penalização.
A alegação principal da Aston Martin foi de que a origem da decisão dos comissários estava errada, pois a alegação de que existiria uma definição que tocar de qualquer forma no carro seria considerado “trabalhar no carro” era errada. E mais, representantes da própria FIA que participam do SAC também prestaram depoimento embasando a defesa do time.
Diante das evidências mostradas pela equipe, os comissários não só aceitaram rever todo o lance e a decisão como reverteram o julgamento anterior. A alegação foi que a comunicação aos comissários sobre a definição de “tocar no carro” e “trabalhar no carro” foi errada e que claramente no caso específico de Alonso não houve nenhum trabalho ou ganho ilegal de tempo. Além disso, também se aceitou que, diante de vídeos de casos recentes, existe uma clara inconsistência sobre os julgamentos sobre esse tipo de lance.
A FIA, em novo comunicado oficial, admitiu que a situação acabou sendo bastante confusa e que todo o procedimento deste caso será revistado na próxima reunião do SAC, no próximo dia 23 de março. A entidade ainda prometeu que irá esclarecer dúvidas e apresentar possíveis readequações do protocolo no GP da Austrália, daqui a duas semanas.
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