Danica Patrick venceu em grande estilo a etapa de Motegi da Indy
(Foto: IndyCar)

Danica e a afirmação das mulheres no automobilismo de alto nível

Danica Patrick não foi uma pioneira. Passou longe disso. Antes dela, diversas mulheres fizeram carreira no automobilismo internacional, algumas até com certo sucesso.

Como esquecer a grande Hellé Nice, rainha da Bugatti nas provas dos anos 30, Lella Lombardi, que chegou a marcar 0,5 ponto na F1, ou Michèle Mouton, vencedora de quatro etapas do WRC, vice-campeã mundial de 1982, e que também foi vitoriosa em Pike’s Peak?

Mesmo nos Estados Unidos, tivemos vários casos de relativo sucesso como Janet Guthrie, primeira mulher a correr tanto na Indy 500 quanto na Daytona 500, conquistando um sexto lugar na Nascar em Bristol, e de Sara Christian, a grande pioneira na categoria com bons resultados entre os dez primeiros.

Na Indy, ainda, tivemos outros casos importantes e até recentes, como Lyn St. James, numa fase pouco competitiva da categoria nos anos 90, mas com resultados moderados, e Sarah Fisher, que não fizeram feio.

A carreira e os resultados de Danica, no entanto, vieram em um momento importante. Muitos dizem que mulheres não conseguem correr em categorias de alto nível do automobilismo por conta mais do esforço físico do que por falta de técnica. Ela mostrou, mesmo em certames duríssimos como Indy e Nascar que isso não é realmente verdade.

Danica subiu os degraus que precisava, como qualquer outro piloto, saindo da F-Atlantic, onde chegou a ser terceira colocada no campeonato de 2004, para entrar na Indy pela Rahal Letterman Racing, ganhando destaque por resultados e abrindo seu espaço para ser contratada por um time vitorioso como a Andretti.

No total, em 115 corridas na Indy, ela conquistou três pole positions, terminou entre os três primeiros em sete oportunidades e venceu uma prova, em Motegi, em 2008. Nas 500 Milhas de Indianápolis, ficou entre os 10 primeiros em cinco das sete vezes em que participou, incluindo um terceiro lugar como melhor resultado.

Muitos dizem que sua decisão de ir para a Nascar foi um erro e que sua participação na categoria de stock cars foi abaixo da crítica com apenas sete Top-10 em 191 provas, sem nunca conseguir se classificar para um playoff, mesmo competindo por uma equipe importante como a Stewart-Haas Racing.

Não é essa opinião de Thiago Alves, comentarista de Nascar dos canais Fox Sports, que, apesar de admitir que Danica talvez não tenha evoluído na forma como esperava, mas também passou longe de fazer feio em um dos certames mais competitivos do mundo.

“Quando a Danica saiu da Indy para correr na Nascar, muito se questionou essa decisão. Eu considero um passo certo na carreira dela, visto que a visibilidade da Nascar é maior do que a Indy nos EUA e seu patrocinador na época queria essa mudança. Ela não tinha mais o que fazer na Indy e foi um passo natural. Esperava uma vitória em uma corrida em Daytona ou Talladega, talvez em um misto. Ela não era a má piloto que muita gente achava e nem tão boa quanto se desenhou. Considero uma boa participação nos seus anos de Nascar e acho sim, que mesmo em um time grande, não tinha as mesmas condições dos demais pilotos. Com um carro melhor, poderia ter conseguido mais Top 10 nesse tempo”, disse o jornalista ao Projeto Motor.

De qualquer maneira, mais do que títulos ou vitórias, Danica termina sua carreira deixando uma importante mensagem que as mulheres podem sim competir no automobilismo, um esporte extremamente masculino e machista.

É engraçado ver que a própria Danica nunca gostou muito de levar esse peso nas costas de correr por todo gênero feminino, por acreditar que isso a colocaria em uma categoria à parte dos concorrentes. Ela sempre negou que corra pela causa feminina, dizendo que quer ser lembrada apenas como uma grande piloto.

“A minha bandeira é maior do que qualquer outra bandeira pelo qual eu conseguir minhas conquistas, e o efeito disso é o que acontece”, declarou esta semana em Indianápolis, às vésperas de sua despedida.

De qualquer maneira, ela não tem como fugir de sua importância, de que abriu caminho para uma nova geração de pilotos mulheres, com certeza inspiradas por ela. No final das contas, o centro da questão não é mais se a mulher consegue ou não correr nas competições de alto nível do automobilismo, mas como fazer para ampliarmos o número de garotas no esporte a motor para que, assim como de um universo de milhares de homens saem algumas poucas dezenas para correrem internacionalmente, termos uma base maior para que talentos femininos que possam ganhar corridas e campeonatos possam surgir.

Só assim começaremos a fazer dirigentes e até mesmo o público passarem a respeitar mais o trabalho delas, e ao mesmo tempo expurgar algumas oportunistas de plantão, que tentam transformar a carreira de modelo na de piloto.

Oportunidades de marketing para se promover e também trabalhar com marcas são usadas por esportistas independente do gênero, e por isso, não devem ser julgadas

Aproveitar todas as oportunidades de marketing, como alguns homens mesmo fazem, não é errado. A própria Danica soube trabalhar bem isso dentro dos limites. A questão é isso ser acompanhado de talento e resultados. Foi o diferencial da americana e outras pilotos que estão na batalha. E isso só ficará mais visível quando tivermos mais mulheres correndo em pistas de todo o mundo.

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