(Foto: Andy Hone/LAT/Haas)

Equipe Haas faz tudo certo para entrar na F1 pela porta da frente

O grande assunto desta semana na F1 é a Haas, que passou a ganhar uma cara para o público com a apresentação de Romain Grosjean como seu primeiro piloto. O time americano faz um trabalho para ser a melhor nova equipe que entra na categoria nos últimos tempos, com um plano de verdade para se estabilizar e gente que conhece automobilismo por trás.

A primeira escolha de piloto mostra isso. Como já comentado aqui mesmo no Projeto Motor, Grosjean cometeu diversos erros na carreira, mas amadureceu e é rápido. Merece até uma chance em um time melhor. A total desconfiança sobre o que acontecerá com a Lotus ou a Renault o incentivou a garantir logo um lugar para 2016 quando Gene Haas o ofereceu um contrato.

Pelo ângulo da organização do empresário americano, foi certamente um ótimo negócio, que inclusive passará muita segurança aos possíveis patrocinadores e colaboradores. O outro volante deve vir de uma sugestão da Ferrari, parceira técnica.

É importante não ter ilusões com a nova equipe. Mesmo que ela faça tudo certo, o começo na F1 sempre é tortuoso e difícil. Os problemas acontecerão e o fundo do grid deve ser uma constante em seus primeiros anos. Ao mesmo tempo, se pensarmos na situação em que os times que entraram em 2010 (HRT, Virgin e Lotus, os últimos a começarem do zero) estrearam, existem pontos muito importantes que apontam para uma base muito melhor.

A Haas entra com um planejamento esportivo, estratégico e financeiro muito mais consistente e claro. Está se cercando de colaboradores e parceiros que possam diluir sua inexperiência e está apostando em um piloto que pode dar um retorno imediato. Difícil pedir mais para a estreia.

Isso tudo só é possível por uma conjuntura que passa confiança para essa nova empreitada. Além disso, existem fatores que os dirigentes da escuderia mostraram muito cuidado para impedirem um começo extremamente ruim, o que poderia comprometer totalmente o projeto em um médio prazo, como aconteceu com as novatas de 2010. Vamos a eles:

Haas se estrutura com calma e tempo

Este contexto é importantíssimo. Em 2009, Max Mosley, então presidente da FIA, promoveu uma concorrência às pressas para novas equipe na F1, sob a promessa da entrada em vigor de um teto orçamentário de 40 milhões de libras para todas as escuderias. Depois de muita pressão dos times existentes, a nova regra nunca foi colocada em prática, o que fez com que as novatas já entrassem em um ambiente fora do que tinham planejado.

Assim, em questão de alguns poucos meses, as novatas tiveram que levantar dinheiro, infraestrutura física e de pessoal, projetar e construir carros que fossem competitivos. Claro que isso não certo e no GP do Bahrein de 2010, elas mostraram um desempenho totalmente incompatível com o restante do grid. Uma delas, a USF1, fechou antes mesmo da estreia.

Mosley ainda fez um grande lobby para que as estreantes usassem o novo motor da Cosworth, que era nitidamente mais fraco que os das rivais, o que agravou ainda mais o cenário.

Este início “torto” fez com que os times nunca realmente tivessem uma base consolidada para crescerem. A HRT fechou as portas ao final de 2012, e a Caterham (ex-Lotus), em 2014, ambas sem nunca marcarem pontos ou conseguirem qualquer resultado expressivo.

A Virgin se transformou em Marussia e hoje segue como Manor. Apesar da troca de donos e nome, sua administração sempre esteve nas mãos de John Booth, fundador do time na F3 e que, ao conseguir uma vaga na F1, passou a contar com investidores para se manter. Atualmente, é o dinheiro de Stephen Fitzpatrick, empresário norte-irlandês do ramo energético, que mantém a equipe. De qualquer maneira, a Manor nunca teve a base correta para competir de verdade.

A história da Haas é totalmente diferente. Eles foram selecionados em 2014 para entrar na F1 e a FIA aceitou que alinhassem apenas em 2016. Este tempo de cerca de um ano e meio é essencial para a estruturação com planejamento. Além disso, Gene Haas tem liberdade total para contratar as pessoas e colaboradores que quiser, sem pressão política. Certamente é um início muito mais saudável.

A sede principal da equipe é nos Estados Unidos, no estado da Carolina do Norte, perto de onde fica o time de Nascar do empresário, mas a escuderia contará também com uma estrutura na Inglaterra, em Banbury, de onde o time deve fazer toda a operação durante a temporada, ficando mais próxima de alguns fornecedores e mais centralizada no globo para o deslocamento para os GPs. As duas estruturas já estão prontas e operando.

Parceria da Haas com a Ferrari

Uma coisa que as pessoas esquecem com frequência é que a F1 é difícil. Muito difícil. Principalmente para as equipes. A Red Bull chegou à categoria em 2005 com muito dinheiro, uma estrutura já montada (comprou uma equipe existente, a Jaguar), contratações de peso para a parte técnica (Adrian Newey em 2006), um piloto experiente (David Coulthard) logo de cara e mesmo assim só teve sucesso a partir de 2009, graças principalmente a uma mudança de regulamento.

A Haas está começando do zero. E a parceira técnica com a Ferrari foi um grande acerto para diminuir ao máximo a chance de erros neste começo. Os italianos irão fornecer não só a unidade de potência (motor e sistemas de recuperação de energia), mas todas os componentes do carro que o regulamento não obriga que o novo time fabrique em casa, como partes da suspensão, freios, transmissão, entre outros, além de ter uma assessoria técnica que inclui até mesmo utilização da estrutura de Maranello.

O resto do carro será desenvolvido em parceria com a Dallara, que inclusive, também cederá suas instalações para o trabalho de desenvolvimento no início do trabalho. Estas trocas de experiência será muito importante para uma iniciante. E lhe economizará um tempo precioso para focar em desenvolvimento de outras partes e procedimentos.

Além disso, do ponto de vista do marketing, é uma parceria “ganha-ganha”, já que o mercado americano é importante para a Ferrari, assim como, para a Haas, ter uma aliança tão íntima com um marca como a do cavalinho rampante leva confiança a novos colaboradores e patrocinadores.

O proprietário e seu plano de negócios

Gene Haas não é um empresário maluco que sonha em ter uma equipe de F1 para apenas brincar de carrinhos enquanto consome seu patrimônio familiar. Ele é um empresário de sucesso, que tem muito dinheiro, experiência de sucesso na Nascar, e que está montado um time porque, além de gostar de automobilismo, faz sentido para seu plano de negócios.

Sede da equipe Stewart-Haas, da Nascar
Sede da equipe Stewart-Haas, da Nascar (Foto: Nascar)

O americano é dono e presidente da Haas Automation, empresa de máquinas-ferramenta automatizadas para indústrias, que fatura mais de US$ 1 bilhão por ano. Baseada na Califórnia, a empresa tem experimentado, principalmente desde 2010, uma internacionalização de suas vendas. O investimento na F1 faz sentindo para a globalização da marca.

Se você tem alguma dúvida sobre a intenção desta sinergia de negócios, entre no site da Haas F1 e verifique nos destaques o artigo “Haas Automation: Official Machine Tool of Haas F1 Team” (Haas Automação: fornecedor oficial de maquinário da equipe Haas F1).

É preciso deixar uma coisa clara: Gene Haas é um cara que conhece automobilismo e não é um empresário maluco. Se ele está entrando neste negócio, é porque estudou o que precisa fazer nos primeiros anos e tem orçamento e um planejamento consistente para isso.

Home of the brave

Em 2012, a F1 apostou alto ao ir para Austin. Desde o começo do projeto do Circuito das Américas, tudo parecia que daria errado. A obra atrasou, os investidores brigaram entre si, além da localização, no Texas, não parecer ser a mais adequada para uma categoria tão internacional.

Só que a verdade é que o evento se tornou um sucesso. O autódromo está sempre lotado desde então e o buzz criado pelo GP já motiva a todos na F1, que sempre sonharam em conquistar o mercado americano.

Uma equipe do país, fundada por Gene Haas, um nome reconhecido nos Estados Unidos tanto pelo seu lado empresarial como por sua participação na equipe Stewart-Haas da Nascar, é mais um passo importante para a categoria fincar um pouco mais o pé por lá. Por isso, a empreitada de Haas deve ser tão bem vista por FIA, FOM, patrocinadores e até mesmo os concorrentes de grid.

O próximo degrau seria a entrada de um piloto americano de sucesso. Haas chegou a dizer na coletiva de apresentação de Grosjean que sofreu muita pressão para contratar um volante da nacionalidade da equipe. Ele acertou ao não sucumbir. A verdade é que não existem candidatos reais para ocupar este posto de ídolo americano na F1. Tudo tem sua hora e a equipe tem que crescer alheia a isso.

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