A saga da F1 para conseguir finalmente organizar o GP de Miami
Depois de muito trabalho e muita, muita, mas muita insistência mesmo, a F1 finalmente vai correr em Miami. A categoria vem tentando realizar essa corrida na Flórida desde os últimos anos da administração de Bernie Ecclestone. E quando a Liberty assumiu, no final de 2016, o esforço só aumentou.
Miami é exatamente o que a nova F1 quer para o seu calendário. Para começar, o mais óbvio: Estados Unidos. Sempre um sonho para a categoria se popularizar por lá principalmente por ser o grande mercado consumidor do mundo, o que conta muito não só para participantes como montadoras e fornecedores em geral, mas também para os patrocinadores dos mais diversos setores da economia.
Já contamos aqui no Projeto Motor como esse esforço para se estabelecer nos EUA fez o Mundial ter diversas casas diferentes no país, passando inclusive pela própria Flórida, no circuito de Sebring, no final dos anos 50.
O grande trabalho e foco por anos para realizar essa corrida, no entanto, é pela sensação por parte dos dirigentes que Miami oferece ainda mais. Ela é uma “cidade destino”. Ou seja, não é apenas um autódromo no meio do nada ou em alguma região sem grandes atrações, mas em um centro turístico por origem. E isso é uma característica que tem chamado a atenção dos novos dirigentes da F1.
Desta forma, eles acreditam que conseguem oferecer aos fãs experiências mais completas que vão muito além do ingresso para uma arquibancada ou a transmissão na televisão. Festas, camarotes especiais, imagens icônicas e que aliam a F1 ao glamour e ao turismo. É a mesma estratégia empregada para a decisão de também se insistir na realização do GP de Las Vegas, que entra no calendário em 2023.
O longo caminho da F1 até fechar com Miami
Ao contrário do que acontece normalmente, em que uma cidade ou país demonstra interesse em receber uma corrida de F1 e entra em contato com os organizadores, o interesse em correr em Miami sempre partiu mais da categoria. Apesar do surpreendente sucesso do GP dos EUA em Austin, que desde sua entrada na programação só cresceu, Bernie Ecclestone nunca escondeu acreditar que o Mundial teria espaço para mais provas no país e que acreditava que ir para mais próximo de uma das costas (Atlântico ou Pacífico) era importante.
A visão era a mesma dos anos 70 e começo dos 80, quando a F1 chegou a ter três corridas nos Estados Unidos temporada de 1982, em Long Beach, Detroit e Las Vegas. O sonho inicial, no entanto, era trazer Nova York para o calendário. Uma corrida em Nova Jersey, à beira do Rio Hudson, com a famosa ilha de Manhattan ao fundo, chegou a ser anunciada em 2012, mas nunca foi para frente.
Alguns anos depois, na mesma época em que o grupo de mídia americano Liberty entrou em acordo para comprar o controle da detentora dos direitos comerciais da F1, o projeto de Miami surgiu na mesa de Ecclestone como uma possibilidade. Os novos administradores gostaram da ideia e resolveram tocar em frente.
A ideia original era de realizar uma corrida na área portuária de Miami, na região do Bicentennial Park, onde entre os anos 80 e começo de 90 foram realizadas corridas de IMSA, Trans-Am e até uma etapa da Indy, antes da inauguração do autódromo de Homestead, em 1996. O projeto ganhou muita força quando ganhou como maior apoiador o empresário do ramo imobiliário Stephen M. Ross, que também é dono do time de futebol americano local, Miami Dolphins, e que tinha disputado a compra da F1 em 2016 com a própria Liberty.
Ross começou a mexer os pauzinhos na região e conseguiu, em 2018, fechar um acordo com a prefeitura local para a realização da corrida. Só que o contrato precisava ser referendado não só por vereadores como por comissões da cidade, que incluem a participação não só de políticos, mas de lideranças locais e entidades representativas. E aí, a coisa pegou.
As negociações se arrastaram, mas Ross e a F1 não conseguiram diminuir a oposição ao evento. Boa parte da opinião pública e de representantes da comunidade que participavam das conversas alegavam que viam com ceticismo a projeção de retorno para a cidade com a corrida, e batiam na tecla dos possíveis danos à região por conta de bloqueio de ruas e barulho.
Ross então resolveu dobrar a aposta e, em abril de 2019, levou para a prefeitura uma nova proposta, com um circuito não na zona portuária, mas no entorno de seu estádio, o Hard Rock Stadium, localizado no condado de Miami Gardens, no subúrbio da cidade. Só que esse projeto também recebeu fortes críticas locais e teve problemas para avançar.
Para não desistir de realizar a corrida, os organizadores aceitaram então diminuir ao máximo a utilização de vias locais, desenhando um circuito que passaria basicamente no entorno do estádio, utilizando principalmente áreas do estacionamento, e apenas algumas poucas ruas e avenidas imediatamente ao lado da arena. Meses e mais meses de negociações com ativistas, líderes locais, vereadores e comerciantes se passaram a até que finalmente um novo acordo foi alcançado e anunciado no começo de 2020.
A nova pista e o evento
Diante das limitações impostas, os organizadores do GP de Miami não tiveram muito espaço para desenhar o seu circuito e, assim, precisaram aproveitar o máximo da área que possuíam no entorno do estádio do Dolphins.
Ao contrário da maior parte das pistas da F1, em vez da empresa do arquiteto Hermann Tilke, foi contratada desta vez a companhia inglesa Apex Circuit Design, do engenheiro Clive Bowen, responsável por pistas de menor porte em diversas partes do mundo e que realizou a atualização do traçado de Singapura, em 2014.
No começo dos trabalhos, 75 desenhos diferentes foram criados e 36 destes chegaram a ser simulados em computação até que se chegasse ao escolhido. O traçado tem 5,41 Km, com 19 curvas e três grandes retas, todas com previsão de utilização de asa móvel. A maior delas tem 1,28 Km de extensão. Pela previsão das simulações, os pilotos deverão estar em aceleração total por 58% da volta e a velocidade máxima deve ser de 320 Km/h.
Com média de 223 Km/h, o conceito do traçado lembra um pouco o de circuitos urbanos recentes como Baku e Jeddah, com o desafio dos muros sempre próximos, mas, ao mesmo tempo, com as velocidades sempre mais altas.
A estruturas do prédio dos boxes, garagens e torre de controle são permanentes. Na pista, foram utilizadas 24 toneladas de asfalto e 2.870 mil barreiras de concreto ao redor do traçado e no pit lane, num total de cerca de 11 Km. Ainda foram instaladas 14 passarelas para que pedestres possam circular por cima da pista.
A experiência no circuito também promete ser bastante única. Além de arquibancadas tradicionais, foram montados diversos tipos de camarotes, incluindo um com piscina e uma “marina falsa”, onde barcos de um patrocinador foram posicionados para simular o clima de uma prova portuária. Neste ponto, espectadores poderão assistir à prova de dentro dos yatches.
Utilizando toda a estrutura do estádio do Dolphins, diversas festas e shows com cantores e DJs famosos, além de exposições culturais e sobre F1 irão acontecer durante todo o final de semana. A arena também conta com um teleférico que passa por um ponto da pista e que poderá ser utilizado por visitantes durante os dias do GP.
Tudo para uma celebrar esse novo momento da F1 nos Estados Unidos, indiscutivelmente mais promissor do que nunca a categoria viveu.
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