Gilles Villeneuve é um dos pilotos mais icônicos da F1 e da Ferrari
(Foto: Ferrari)

Como Gilles Villeneuve se tornou uma das figuras mais cultuadas da F1

Mesmo sem grandes números de vitórias e nenhum título mundial, Gilles Villeneuve é um dos personagens mais cultuados da história da F1. Entre 77 e 82, o canadense cativou fãs com seu estilo de pilotagem espetacular, e se tornou um dos nomes mais icônicos que já passaram pela Ferrari.

Porém, do ponto de vista esportivo, Villeneuve teve muitos altos e baixos, e seu acidente fatal, em maio de 82, colocou um fim trágico a esta trajetória. A partir daquele momento, o piloto é mais um daqueles personagens que passou a causar a famosa pergunta que tantos outros trazem à cabeça dos fãs: “e se…”.

O Projeto Motor vai resumir a carreira de Gilles Villeneuve em seis capítulos que definem esse enorme personagem da história da F1.

O começo de carreira até a F1

Gilles Villeneuve teve uma ascensão rápida até chamar a atenção na F1. Sua carreira profissional nas corridas começou no início dos anos 70, ainda no Canadá, em competições de motos de neve, chamadas em inglês de snowmobile.

Mas, logo depois, Gilles se mudou para os carros de corridas de monopostos, com passagens pela Fórmula Ford regional e pela F-Atlantic, ainda na América do Norte. Nesta última, emendou títulos em 76 e 77 e começou a ganhar espaço.

Mas foi ainda em 76 que Villeneuve despontou para o cenário internacional. No mês de setembro, a F-Atlantic realizou uma etapa em Trois Rivieres que teve participação de nomes como James Hunt, Alan Jones e Vittorio Brambilla, e Villeneuve fez a pole e anotou a vitória.

Com isso, a McLaren decidiu dar uma chance para o canadense na F1, no GP da Grã-Bretanha de 77. Villeneuve competiu com o modelo M23, um pouco antigo e defasado, mas ainda assim conseguiu se classificar em nono, à frente de Jochen Mass, piloto fixo da McLaren que competia com o novo M26. Villeneuve recebeu a bandeirada em 11º, e a apresentação foi suficiente para chamar a atenção de gente muito importante.

A era Ferrari

Enzo Ferrari tinha admiração pelo estilo combativo de Gilles Villeneuve
Enzo Ferrari tinha admiração pelo estilo combativo de Gilles Villeneuve (Foto: Ferrari)

O estilo de Gilles Villeneuve atraiu ninguém menos que Enzo Ferrari. O Comendador considerava que a agressividade e arrojo do piloto lembrava o lendário Tazio Nuvolari, então o canadense foi convidado a se juntar à Ferrari a partir da penúltima etapa da temporada de 77.

Em 78, seu primeiro campeonato completo, Gilles conquistou seu primeiro pódio, com um terceiro lugar na Áustria, e sua primeira vitória, justamente no Canadá, prova de encerramento do ano. Mas a campanha deixou claro que ainda se tratava de um piloto em fase de aprendizagem, já que Villeneuve teve abandonos por erros e acidentes, e foi amplamente ofuscado pelo parceiro de equipe, o já experiente Carlos Reutemann.

Para se ter uma ideia, o argentino venceu quatro vezes naquele ano e terminou em terceiro no campeonato, seis posições à frente de Villeneuve. Não faltaram críticas vindas da imprensa italiana, mas Gilles ainda teria muito tempo pela frente em Maranello.

A grande chance de Villeneuve

Para 79, a Ferrari passou por mudanças. A equipe ainda tinha um conjunto sólido com os modelos da linha 312T, mas havia perdido suas grandes referências ao volante, com as saídas de Niki Lauda no fim 77 e de Reutemann ao fim de 78.  Então, para fazer companhia ao ainda inexperiente Villeneuve, a Ferrari trouxe Jody Scheckter, que vinha da equipe Wolf.

E Villeneuve até que começou a temporada de 79 de maneira forte, emendando vitórias em Kyalami e Long Beach e assumindo a ponta do campeonato. Mas o bom momento não durou muito. Scheckter conseguiu se impor no duelo interno, abriu vantagem na liderança da tabela e garantiu o título no GP da Itália, com duas corridas de antecipação.

Gilles venceu em Watkins Glen, no encerramento da temporada, e fechou o ano com o vice, naquela que se mostraria a sua maior chance de lutar por um título na F1.

O mito Gilles Villeneuve

Por mais que o sonho de ser campeão não tivesse sido concretizado, Gilles se tornou um encaixe perfeito na Ferrari. Nem tanto pelos resultados em si, mas sim porque o seu estilo de pilotagem selvagem, que buscava sempre o limite, caiu nas graças dos tifosi e do próprio Enzo Ferrari.

Em sua carreira, Villeneuve já acumulava momentos que simbolizavam este estilo. Por exemplo, no GP da Holanda de 79, ele sofreu um furo no pneu traseiro esquerdo, e retornou aos boxes em alta velocidade, com apenas três rodas, o que deixou sua suspensão em frangalhos.

Naquele mesmo ano, em Dijon, travou com René Arnoux um dos duelos mais eletrizantes da história da F1, quando disputaram a segunda posição lado a lado, por várias curvas, em batalha vencida por Villeneuve.

E o que falar do ocorrido no GP do Canadá de 81, quando pilotou por duas voltas na chuva com o aerofólio dianteiro virado em frente ao cockpit, o deixando praticamente sem visão, sendo que anda assim ele terminou no terceiro lugar.

Momentos como estes simbolizaram o que foi Villeneuve: um estilo chamativo, espetacular, mas que nem sempre se converte nos melhores resultados.

Os dias finais de Villeneuve

Em 80, a Ferrari teve uma queda brutal de desempenho, Villeneuve marcou apenas seis pontos e viu o parceiro Jody Scheckter se aposentar. Então, para 81, ele teria ao seu lado Didier Pironi, com quem desenvolveria uma relação íntima de amizade.

Naquele ano, com um novo projeto da Ferrari e com motores turbo, Villeneuve venceria mais duas vezes, em Mônaco e Jarama. Mas a sua grande aposta era para a temporada seguinte. 1982 foi um dos anos mais atípicos da história da F1.

E, no GP de San Marino, houve um episódio marcante para Gilles. Em uma corrida que teve a participação de apenas 14 carros devido à disputa política entre FISA e FOCA, Villeneuve duelou com Pironi pela vitória, mas ficou estarrecido quando sofreu um ataque do parceiro.

No fim, Pironi venceu, e Villeneuve se sentiu traído, pois considerou que o colega não cumpriu um acordo prévio de manter posições nas voltas finais. Ninguém sabia, mas aquela seria a última corrida de Gilles Villeneuve.

O Adeus

Duas semanas após o desentendimento em Imola, a F1 chegava a Zolder para o GP da Bélgica. No dia 8 de maio, nos minutos finais da classificação, Villeneuve estava com um tempo pior do que Pironi, e se deparou na pista com a March de Jochen Mass, que estava em baixa velocidade.

Villeneuve atingiu a traseira do carro de Mass e decolou, a mais de 220 km/h, e, ao capotar, foi arremessado para longe. Ele foi declarado morto às 21h locais devido a lesões generalizadas, incluindo uma fratura no pescoço, apenas aos 32 anos de idade.

O automobilismo ficou em choque com a perda de Villeneuve. Mas o que ficou foi o seu legado. A pista de Montreal foi rebatizada de Circuito Gilles Villeneuve, e o filho do ferrarista, Jacques Villeneuve, cumpriu a missão de se tornar campeão mundial de F1,15 anos depois de perder o pai.

A carreira de Gilles se resume a 67 largadas, seis vitórias e um vice-campeonato em 79, mas vai muito além disso. A memória que ficou foi a de um piloto destemido, agressivo, que buscava sempre o limite, criando um personagem que contribui para que o automobilismo cause tanto fascínio com o público.

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