Entenda a confusão que a Mercedes aprontou no pit do GP de Sakhir
A Mercedes parecia que estava rumando para mais uma dobradinha tranquila no GP de Sakhir com George Russell ponteando Valtteri Bottas. Só que no trecho final da prova, o time, que nos últimos anos é exemplo de construção de carro e de eficiência de operação, cometeu um erro grotesco que jogou tudo a perder. A vitória acabou com Sergio Pérez, da Racing Point, em uma bela recuperação após cair para último na primeira volta.
Muita gente não entendeu direito o que aconteceu. Russell entrou para o box em primeiro seguido de Bottas para uma dupla parada para aproveitar a entrada do safety car. O inglês saiu naturalmente enquanto os mecânicos da Mercedes pareceram se enrolar na hora da troca do finlandês, com uma grande discussão acontecendo através de gestos e muito provavelmente pelo rádio.
Bottas voltou à pista sem trocar os pneus e Russell, de forma inesperada, teve que voltar para uma segunda troca. Dessa forma, os dois, que eram primeiro e segundo, caíram para quarto e quinto, respectivamente.
A confusão que a Mercedes aprontou
O problema todo foi misturar os jogos de pneus dos dois pilotos. Russell saiu com pneus traseiros que eram dele e dianteiros que na verdade tinham sido alocados Bottas em seu carro. Uma quebra no regulamento que por pouco não acabou em desclassificação de Russell.
A confusão começou quando o safety car entrou na pista por conta do acidente de Jack Aitken, que curiosamente estava andando na Williams que normalmente seria de Russell. Com boa vantagem para realizar um pit stop nesta situação, a Mercedes decidiu colocar seus pilotos com pneus médios novos no final da corrida e evitar qualquer ataque numa relargada.
Para não nenhum dos dois pilotos ter que fazer uma volta lenta atrás do safety car, o que poderia custar um tempo precioso e a perda de diversas posições, a Mercedes resolveu chamar os dois juntos para o pit em uma manobra que tanto ela quanto diversos outros times já realizaram várias vezes.
Só que aconteceu uma confusão no rádio da Mercedes entre o pit wall e os mecânicos, como ficou provado em gravação apresentada pelo time à FIA. Russel perguntou se iria ficar na pista e recebeu a resposta que deveria entrar no box. Entre essa confirmação para troca e ele entrar no pit lane passaram apenas cinco segundos.
A Mercedes usa um sistema de rádio que faz a seleção e prioriza mensagens estratégicas do administrador da equipe, Ron Meadows, para os mecânicos responsáveis por pegar os pneus. Só que neste curto espaço de tempo, Russell continuou falando no rádio, o que causou um problema de comunicação e o responsável por pegar os pneus dianteiros de Russell não recebeu a mensagem completa.
Já os de Bottas, pegaram a comunicação completa e já levaram os compostos para a posição. Como Russell estava na frente, a confusão se formou e os jogos ficaram misturados, com os mecânicos do pit prontos com os traseiros do jogo do inglês e os dianteiros do finlandês.
Quando Russell para, os pneus dianteiros que ele recebe eram na verdade do jogo de Bottas. Ele deixa o pit e volta para a pista. Bottas, logo atrás, entra na posição do pit e seus compostos chegam a ser trocados. Neste momento, o mecânico responsável para mudança do dianteiro esquerdo começa a fazer sinais. Muito provavelmente ele reparou alguma marcação no pneu ou roda que normalmente leva as iniciais dos pilotos (no caso, seria GR, de George Russell) ou número (63 do inglês).
Alguns segundos se passam com os mecânicos claramente ficam sem saber o que fazer, quando eles colocam novamente os pneus duros que Bottas já tinha no carro antes e o mandam retornar na pista. Como os jogos ficaram misturados e Russell com os dianteiros do finlandês, a equipe não tinha o que colocar no carro de seu piloto.
A Mercedes então chamou Russell de forma imediata de volta ao pit para desfazer a confusão e colocou quatro pneus médios alocados previamente junto à Pirelli para o inglês.
O regulamento de pneus e qual foi a infração
Cada piloto só pode utilizar durante todo o final de semana de um GP 13 jogos de pneus que são reservados especialmente para eles. E qual era o problema de Russell misturar pneus do mesmo tipo (médios do caso)? Assim que o carro dele deixa o pit com compostos dianteiros que eram de Bottas ele passa oficialmente a utilizar parte de um 14º jogo. Isso seria claramente uma vantagem, apesar de no caso específico não ter muita diferença.
E os comissários da FIA levaram isso em conta. Na decisão deste domingo, eles explicaram que resolveram não punir Russell por conta de alguns fatores que mitigam um pouco a infração.
“Primeiro, a equipe retificou o problema em uma volta. Isso envolveu o carro 63 [Russell] fazer outro pit stop, caindo na classificação.
Segundo, o carro 77 [Bottas] fez um pit stop para trocar os pneus quando notou que os pneus que foram colocados nele eram do carro 63, então, foi mandado de volta à pista depois de um atraso considerável, com os pneus estavam no carro 77 antes do pit stop. Isso também impactou na classificação final do carro 77.”
Os comissários ainda apontaram uma falha no regulamento da F1, que indica que os jogos não devem ser misturados, mas não indica uma punição de forma clara. O artigo 24.2 do regulamento esportivo diz que apenas que os pilotos podem receber penas esportivas com perda de posição no grid ou desclassificação da corrida no caso de os pneus não estarem corretamente identificados e ainda diz que neste caso, a equipe tem até três voltas na corrida para fazer nova troca.
“Terceiro, apesar deste tipo de infração não estar caracterizada sob a ‘tolerância de 3 voltas’ que está no segundo parágrafo do artigo 24.4 b) (que no momento se refere apenas ao uso de pneus de especificações diferentes), consideramos ser da mesma natureza.”
“É recomendado que a FIA considere revisar o artigo 24.4 b) para acomodar este tipo de violação é corrigida sem demora.”
Desta forma, ficou definido que Russell não seria declassificado da corrida, e por isso ele pôde manter seus primeiros três pontos na F1: dois pelo nono lugar e um pela volta mais rápida. Bottas, como não chegou a sair do pit com os pneus misturados, nem foi investigado e levou para casa apenas o prejuízo do tempo que ficou parado no box e o fato de ter sido obrigado a andar nas 25 voltas finais com o mesmo composto duro que já tinha em seu carro por 13 passagens antes de parar.
A Mercedes é quem acabou levando uma pequena multa, de €20 mil, já que é responsabilidade da equipe de colocar os pneus corretos nos carros de seus pilotos.
Claro que o furo no pneu de Russell a 10 voltas do final, quando se aproximava do líder Pérez, foi o golpe definitivo contra a chance da Mercedes se recuperar e vencer a corrida, mas foi desta forma desastrosa que o time alemão começou a jogar fora uma vitória certa no GP do Sakhir.
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