Sprint na volta final: como Newgarden bateu Ericsson pela Indy 500
A Indy 500 de 2023 deixará sua história para ser contada nos próximos anos com um final que contou com uma pequena sprint pela vitória de apenas uma volta de bandeira verde para a quadriculada. Neste curto tempo, Josef Newgarden conseguiu a ultrapassagem sobre Marcus Ericsson na reta oposta em sua única oportunidade para vencer as 500 Milhas pela primeira vez na carreira.
A diferença entre o piloto da Penske e o da Ganassi na linha de chegada foi de apenas 0s0974, a quarta menor da história da Indy 500. Nos metros finais, Newgarden se defendeu trazendo o carro o máximo para a esquerda, próximo da entrada da pit, tentando romper o vácuo do rival, repetindo a manobra que o próprio Ericsson utilizou para vencer em 2022.
Depois da corrida, Ericsson reclamou sobre a decisão da direção de prova em realizar uma relargada na última volta. O problema não foi ter apenas um giro em bandeira verde em si, mas o fato de a última das três bandeiras vermelhas que paralisaram a prova ter acontecido a apenas duas passagens para o final.
Isso fez com que a relargada fosse feita com os pilotos saindo do pit direto para a bandeira verde. Na opinião do sueco, a corrida deveria ter terminado em bandeira amarela nas posições em que os pilotos estavam. Um de seus argumentos foi o fato da decisão da vermelha ter acontecido alguns segundos depois da primeira opção por uma amarela, quando os carros seguiram andando atrás do pace car.
“Acho que foi um final difícil de corrida. Eu realmente não concordo com o que fizemos. Não acho que foi justa a maneira como terminou a corrida”, bradou Ericsson na coletiva de imprensa pós-prova.
“Acho que não tinham voltas suficientes para seguir como fizemos. Não acho que é seguro sair dos pits com pneus frios para a relargada quando metade do grid ainda está tentando entrar na pista e irmos para a bandeira verde. Não acho que foi um final de corrida justo. Não acho que é a maneira certa de terminar uma corrida e não consigo concordar com isso”, seguiu.
Ericsson, no entanto, fez questão de pontuar que obviamente Newgarden não iria concordar e que ele aceita a derrota, ficando apenas com a frustração. Quando ele terminou de responder sobre o assunto para a imprensa, o moderador da coletiva, Dave Furst, vice-presidente de comunicações da Indy, pontuou que a categoria sempre disse que faz tudo para terminar as provas em bandeira verde e que isso é conversado nas reuniões com os pilotos.
Tony Kanaan, que também participou da coletiva pelo fato de estar se despedindo da categoria, também discordou do posicionamento de Ericsson, lembrando que a Indy já foi criticada em outros momentos por terminar corridas sob bandeira amarela.
“Sabe, é engraçado porque obviamente Santino [Ferrucci, terceiro colocado] e Marcus estão bravos e você tem Josef que está contente. Mas precisamos pensar no show. A maior reclamação que temos todos os anos é de quando não deveríamos terminar em bandeira amarela. Alguém ficará magoado. Na verdade, 33 caras estão bravos agora e apenas um está contente. Essa é a realidade”, disso o brasileiro.
“Eles [os comissários] poderiam ter chamado [a bandeira vermelha] mais cedo? Sim. Poderiam, deveriam, teriam que… Mas terminamos com bandeira verde, e isso é o que os fãs sempre nos pedem. Eu venci sob bandeira amarela e todo mundo odiou em algum momento”, continuou, recordando a sua vitória em 2013.
Citado por Kanaan, Ferrucci disse que também não se importou com a forma como a Indy conduziu o final da corrida e que também acha que priorizar o final de prova sob bandeira verde é o correto.
O regulamento da Indy, no artigo 7.7.2.5, afirma que as relargadas após bandeiras vermelhas podem ser realizadas dentro do procedimento que os comissários da prova adotaram, de apenas uma volta para relargar.
O vencedor da corrida, Newgarden, último a conceder entrevista em Indianápolis neste domingo, disse que entende a reclamação de Ericsson, mas lembrou que os comissários já tomaram diferentes tipos de decisão nestas situações e que também já sentiu prejudicado em outros momentos.
“Estou contente que eles fizeram isso para termos um bom final. Obviamente, se eu estivesse na situação do Marcus, eu diria para terminar a corrida”, comentou. “Existem várias formas de como poderia ter se lidado com a situação e você pode dizer se foi justo ou não. Eu já vi de tudo. Neste ponto, eu apenas estou grato que eles fizeram deste jeito. Já vi muitas situações em que as coisas não foram para o nosso lado. Hoje, foram. Eu aceito”, continuou.
O embate pela primeira vitória de Newgarden
Newgarden precisou se mostrar paciente durante a maior parte da corrida. Largando apenas da 17ª posição, o americano já tinha dito depois do último treino livre que acreditava que tinha um bom carro para uma recuperação e que tinha enfrentado problemas específicos com o acerto apenas na classificação.
Assim, a americano foi galgando aos poucos posições e apareceu entre os primeiros colocados a partir da segunda metade da corrida. Nas 20 voltas finais, assumiu uma postura agressiva para começar a lutar pela ponta e chegou a estar na liderança a cinco voltas do final, antes de uma das bandeiras vermelhas que aconteceram no último trecho da corrida.
Ele perdeu a posição para Ericsson na relargada, mas então teve a chance de voltar ao ataque justamente na última volta, graças do novo acidente que deixou tempo para apenas um giro no traçado de duas milhas.
Com apenas uma volta para tentar a vitória, Newgarden não conseguiu o ataque na reta principal quando a corrida entrou em bandeira verde. Ericsson fez um zigue-zague à sua frente, tentando romper o vácuo que o adversário poderia pegar para atacá-lo.
Quando os dois entraram na reta oposta, o sueco tentou fazer a mesma manobra, mas dessa vez, Newgarden conseguiu se beneficiar de estar logo atrás para ganhar mais velocidade e fazer a ultrapassagem por fora antes da entrada da curva 3.
Nos metros finais, a situação se inverteu e foi o americano que fez o zigue-zague para evitar uma tentativa de ultrapassagem na linha de chegada.
“Eu quase entrei no pit lane. E foi legal, preciso dizer. Eles [os comissários] foram muito claros de que não iriam monitorar aquela linha, e eles não monitoraram ano passado. Eu estou vindo para a bandeira quadriculada e vou fazer tudo que eu puder para vencer essa corrida. Eu tinha que ser o mais agressivo possível, pois o efeito do vácuo quando é apenas para o líder é ainda pior do que ano passado. Você fica vendido quando está na liderança”, explicou o piloto da Penske.
Campeão de 2017 da Indy, Newgarden sofria uma pressão nos últimos tempos por nunca ter vencido as 500 Milhas de Indianápolis, enquanto alguns de seus companheiros na Penske, Will Power em 2018 e Simon Pagenaud em 2019, sim.
“Sinto o peso que todo mundo quer colocar em você porque acham que a Indy 500 deve ser vencida. Penso em todos os pilotos que talvez deveriam ter vencido essa corrida e nunca conseguiram, e não faz diferença. A carreira deles ainda é fantástica. É apenas uma pena que não tenha dado certo para eles. É assim que eu sinto sobre essa prova. Não me sinto diferente coo piloto pelo que aconteceu hoje, apenas sinto menos peso”, afirmou o piloto de 32 anos.
O triunfo foi o 19º da Penske nas 500 Milhas de Indianápolis na história, o primeiro desde Roger Penske de comprado o autódromo e ter se tornado sócio majoritário também da Indy.
Os brasileiros Helio Castroneves e Tony Kanaan terminaram na 15ª e 16ª posições, respectivamente.
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