The Town vai transformar Interlagos em Cidade da Música
(Divulgação)

Como obras e realização do The Town impactam GP de F1 em Interlagos

São Paulo vai sediar em setembro a primeira edição do The Town, festival de música dos mesmos organizadores do Rock in Rio, e que deve acontecer a cada dois anos, se revezando com seu irmão carioca. Assim como já acontece com outros eventos do tipo na capital paulistana, como o Lollapalooza, a reunião de megashows irá acontecer no Autódromo de Interlagos.

Pelo investimento realizado tanto na estrutura em Interlagos como na formação do line-up, que tem estrelas como Bruno Mars, Maroon 5, Foo Fighters, entre outros, é possível perceber que o objetivo do The Town é se transformar rapidamente em um dos eventos mais importantes do calendário – já bastante concorrido – da cidade de São Paulo.

O GP de F1 em Interlagos está entre as grandes atrações que também movimentam milhões de reais na economia e atraem público de fora para visitar a cidade ou que são atinge milhares de alguma forma através de transmissão de TV ou noticiário. A prova deste ano acontece em 5 de novembro, o que deixou um espaço de menos de dois meses entre o The Town e a corrida.

Por isso, para não ter problemas entre dois de seus maiores eventos (com potencial de realmente se tornarem os maiores de seu intenso calendário), a cidade de São Paulo precisou montar uma estratégia especial para que tudo aconteça sem problemas.

Segundo o chefe da organização do GP de São Paulo, Alan Adler, a prefeitura chamou os representantes dos dois eventos para que eles pudessem se conversar e até alinharem a modernização de Interlagos e a logística para os dois grandes eventos, que juntos têm expectativa de receberem cerca de 750 mil pessoas.

“A prefeitura chamou todos à mesa para um alinhamento de logística entre F1 e The Town”, afirmou o dirigente em entrevista exclusiva ao Projeto Motor. “Engenheiros dos dois eventos estão trabalhando juntos e a F1 já está sendo montada no autódromo em paralelo ao The Town”, continuou.

Obras em Interlagos para o The Town

Mesmo já existindo diversos festivais de música e cultura em Interlagos (só em 2023, serão quatro ao todo), o The Town não economiza ao vender a imagem que pretende ser maior e mais estruturado. Além dos shows de grandes músicos, o evento pretende seguir a receita que utiliza há décadas no Rock in Rio de criar uma experiência amplificada para seu público, com mais palcos, tipos de interação e engajamento.

Por isso, uma enorme obra para adequação do autódromo foi necessária, algo que quem acompanhou a última etapa da Stock Car no circuito, no começo de julho, percebeu. Para se ter ideia, a prefeitura de São Paulo aceitou realizar um investimento de R$ 190 milhões do autódromo, prometendo que a adequação será benéfica também para outros eventos, inclusive a F1.

Além da montagem de palcos, lanchonetes, estandes e outras estruturas temporárias para o festival, foram feitas diversas obras definitivas. Entre elas, a instalação de 50 km de tubulações para água e esgoto, o que deve diminuir a necessidade de banheiros químicos em quase toda parte “interna” da pista, onde o festival vai acontecer. Além disso, também foi construída uma nova rede de captação de água pluvial, para evitar grandes poças e lama nestas áreas.

Uma das transformações mais importantes, no entanto, é o nivelamento de quase todo o terreno que fica na parte interna do anel do circuito, entre a curva do sul e a subida do Lago, que também recebeu um novo piso junto com toda a infraestrura para captação de água.

Esta região do autódromo, onde, assim como acontecerá no The Town, ficam normalmente os palcos principais dos shows de música, é utilizada em finais de semana de corrida para estacionamento interno e instalação de estruturas da organização. Perto da Subida do Lago, por exemplo, era onde ficavam equipamentos e pessoal da transmissão de TV da F1.

A ideia do nivelamento do terreno é de facilitar a circulação do público no festival. Isso resultou ainda no ganho de uma área de 30 mil metros quadrados que não tinham condições de serem utilizadas antes para nada.

Impacto no GP de F1

Claro que toda essa nova estrutura em Interlagos tem impacto na organização da prova de F1, mesmo que a pista em si não tenha recebido nenhuma intervenção ou adaptação definitiva para o festival.

Luis Ernesto Morales, engenheiro chefe do GP do São Paulo e membro da Comissão de Circuitos da FIA, explicou ao Projeto Motor que todas as sugestões e pedidos dos promotores do The Town passaram pelos engenheiros da organização da corrida e debates foram realizados para se chegar a um consenso sobre o que seria realmente possível e benéfico para o autódromo no longo prazo.

“Teve muita troca de informação, sugestões que eles deram e que dissemos que não tinha como fazer e outras que achamos interessantes e que vão melhorar a nossa estrutura. Não foi um trabalho fácil”, apontou o dirigente ao Projeto Motor.

A melhoria da rede de esgoto, alterações na laje onde fica o paddock e o ganho de área na parte interna do traçado estão entre os principais ganhos para a prova. Morales disse, por exemplo, que a estrutura de transmissão da F1, que antes ficava muito longe do paddock, agora vai ficar junto do restante do coração do evento.

Além disso, com a área extra que foi formulada graças ao nivelamento do terreno, também vai se ganhar um espaço melhor para a logística, com um local mais próximo para armazenamento de equipamento e estacionamento de caminhões de carga.

Por outro lado, na conversa com o Projeto Motor, Morales e Adler não esconderam que a montagem do GP ficou mais desafiadora por conta dos dois eventos estarem muito próximos, já que em setembro, os organizadores da F1 normalmente já estão trabalhando em sua estrutura. De qualquer forma, com a boa interação entre as duas equipes de organização, eles acreditam não haverá prejuízos para a corrida.

Público cada vez maior no GP de F1

Desde que a Brazil Motorsport, empresa ligada ao fundo de investimento de Abu Dhabi, Mubadala Investment Company, assumiu a organização do GP de São Paulo, em 2021, muito tem se olhado para como aumentar a capacidade do autódromo de Interlagos, que por já estar exprimido dentro da cidade, não tem muitas alternativas para receber mais público para a corrida.

Mesmo assim, algumas opções começaram a serem introduzidas em 2022, primeiro GP da nova empresa sem tantas limitações de acesso por conta da pandemia. Sendo assim, o salto de 2019 para 22 foi de 155 mil pessoas nos três dias de evento para 235 mil.

Com mais algumas inovações e até se aproveitando dos novos espaços criados com as obras do The Town, Adler acredita que este número deve voltar a ser batido em 23. Existe a ideia de aumentar um pouco a capacidade do setor G, o mais popular e que fica localizado na Reta Oposta, com a construção de arquibancadas um pouco maiores, já que todo o trecho utiliza estruturas temporárias.

Interlagos é a casa da F1 no Brasil nas últimas três décadas
Circuito de Interlagos fica localizado na Zona Sul de São Paulo, entre as represas Guarapiranga e Billings (Foto: Pirelli)

Outro setor que deve receber mais gente que nos últimos anos é o que foi montado pela primeira vez em 2022 em uma parte interna do circuito, na região que fica entre as curvas do Bico de Pato, Mergulho, Junção e a Subida do Café.

Como era algo totalmente novo e precisava de uma passarela e novas instalações, Adler explicou ao Projeto Motor que a capacidade do local foi subutilizada para uma avaliação de segurança nessa primeira experiência, mas que em 2023 existe a confiança da possibilidade de se receber mais pessoas no local.

De qualquer forma, a própria empresa organizadora entende que já está muito próxima do limite de público que Interlagos suporta.

Entidades de olho na transformação e Interlagos em Arena

Se no caso do The Town e da F1 as coisas se encaixaram bem, apesar de ainda existir muito trabalho pela frente para a montagem do GP a tempo, diversas entidades e promotores ligados ao automobilismo não estão contentes com a utilização cada vez maior do autódromo para festivais e shows de música.

A questão principal é que o tempo de montagem, desmontagem e intervenções realizadas no autódromo estão retirando datas do calendário de corridas no circuito paulistano. Em 2023, a Secretaria de Turismo de São Paulo cometeu um erro em que permitiu em um primeiro momento a marcação de uma etapa da Endurance Brasil no mesmo final de semana do festival de música eletrônica “Só Track Boa”.

O problema foi percebido pouco mais de uma semana antes da data programada para ambos os eventos, em 27 de maio de 2023. Após muita negociação, a Endurance Brasil acabou adiando – sob muitos protestos – sua corrida para julho, já que para o festival, tinham sido instaladas estruturas nas áreas de escape da Curva do Lago e do Pinheirinho, além das retiradas de guard-rails.

A Federação Paulista de Automobilismo (FASP) e a Federação Paulista de Motociclismo (FPM) também lançaram em 2022 a campanha “Interlagos é Autódromo!”, alegando que a finalidade básica do circuito, de receber corridas do esporte a motor, estaria sendo desvirtuada no momento em que eventos de automobilismo estariam perdendo espaço para festivais de música e outros.

Uma das reclamações principais era o fato de que em 2022, a prefeitura já estava aceitando reservas para outros tipos de eventos até 2027, enquanto o automobilismo, que tem seu calendário definido ano a ano, ficava prejudicado por ter que aceitar dividir o restante das datas entre suas várias categorias.

Do outro lado, a prefeitura alega que com a arrecadação cada vez maior de Interlagos, que em dezembro também irá receber o festival Primavera Sound, um investimento maior pode ser feito na modernização e manutenção do próprio autódromo, o que o manteria com estrutura para receber melhor o próprio automobilismo.

Entre as futuras melhorias com este objetivo, segundo Ernesto Morales, estão em planejamento, por exemplo, um túnel que passa por baixo da Reta Oposta e da nascente que existe naquele local para melhorar a entrada e saída de caminhões e veículos de logística do autódromo. “Isso vai facilitar a utilização mista, já que um evento de música vai poder ser montado e desmontado enquanto a pista está sendo utilizada por alguma categoria nacional”, contou o dirigente ao Projeto Motor.

Além disso, Morales também apontou que existe um projeto para revitalização e melhor proteção da nascente de água que existe naquela área. “Muita gente não sabe, mas antigamente existiam dois lagos em Interlagos. Um ainda é visto, ao lado da Curva do Lago, mas o outro, do outro lado da pista, não dá para ver mais. Queremos revitalizar esse lago”, continuou.

Nos últimos anos também existiu a preocupação com a manutenção e melhoria do antigo Retão, que fica em paralelo à atual Reta Oposta, para onde foram transferidos os eventos de arrancadas. Naquele ponto, vem sendo feito um investimento em um trecho com 500 metros de extensão com equipamentos que garantem mais segurança para a modalidade – um dos grandes sucessos de Interlagos – com guard rails dos dois lados da pista, grade de proteção lateral, pintura e sinalização do asfalto.

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