Trulli largaria na pole do GP dos EUA de 2005, mas abandonou antes da largada
(Foto: Toyota)

Pole que nem largou? Leclerc não foi o primeiro caso

Charles Leclerc protagonizou o curioso caso no último GP de Mônaco de conquistar a pole position para a corrida e ter que abandonar a prova antes de largar. A situação do monegasco acabou criando uma polêmica sobre o acidente dele no final da classificação de sábado e se o conserto e inspeção feitos pela Ferrari em seu carro poderiam ter sido melhores.

O Projeto Motor, no entanto, resolveu olhar o cenário por outro lado. Já aconteceu alguma vez antes de um piloto conquistar a pole, ter sido confirmado na primeira posição (não vale perder por alguma punição ou coisa do tipo), mas sequer conseguir largar? Pois é, já teve sim. E não foi só uma vez.

Nesta listinha histórica, vamos relembrar outros quatro casos que a mesma coisa aconteceu com pilotos que cravaram o melhor tempo na classificação, mas não tiveram a chance de mostrar se seriam ou não tão rápidos na corrida. São pole positions que não conseguiram nem participar das corridas em que lideravam o grid. Vamos lá:

Jean-Pierre Jarier – GP da Argentina de 1975

Abertura do campeonato de 1975, o GP da Argentina teve como uma das novidades a estreia do modelo DN5 da Shadow. E a equipe teve um começo de final de semana bastante animador com seu novo carro, ao ver Jean-Pierre Jarier marcar o melhor tempo da classificação, com margem de 0s4 para o segundo colocado, o brasileiro Jose Carlos Pace, da Brabham.

Tudo parecia ser muito animador até que tudo desabou no domingo. A transmissão do DN5 quebrou na volta em que Jarier fazia em direção ao grid de largada, alguns minutos antes da prova. O francês perdeu a chance de largar na posição de honra do grid pela primeira vez em sua carreira.

Ele voltaria a ter essa chance apenas duas semanas depois, ao colocar de novo a Shadow na primeira posição do grid no GP do Brasil. Ele liderou a prova em Interlagos até a 32ª volta, quando o DN5 voltou a sofrer um problema mecânico e abandonou a corrida, abrindo caminho para a histórica dobradinha de Pace e Emerson Fittipaldi em casa.

Didier Pironi – GP da Alemanha de 1982

Era a 12ª etapa do Mundial de 1982 e Pironi liderava o campeonato pela Ferrari. O francês se tornou a grande esperança da equipe italiana naquela temporada, principalmente após a morte Gilles Villeneuve. Só que aquele ano, apesar do time de Maranello ter um bom carro, parecia que uma existia uma sombra em cima da escuderia.

Na época, o grid de largada era definido pelos melhores tempos realizados em duas sessões de uma hora cada, uma na sexta-feira e uma no sábado. Pironi cravou o melhor tempo na de sexta, que aconteceu com pista seca. O sábado amanheceu em Hockenheim com muita chuva, o que indicava que dificilmente alguém tiraria o melhor tempo do francês. Pelo manhã, no entanto, os pilotos entraram na pista para um treino livre em que um novo pneu de chuva da Goodyear seria testado.

Durante a sessão, Pironi fazia uma ultrapassagem e com a visibilidade comprometida por conta do spray, não viu a Renault de Alain Prost andando mais lenta logo à frente e encheu a traseira do carro do compatriota. A Ferrari de Pironi decolou e o piloto sofreu sérias lesões nas pernas, o que acabou com sua carreira na F1.

Acidente de Pironi marcou o fim da carreira do francês
Acidente de Pironi em treino livre no GP da Alemanha de 1982

Como já contamos em outro artigo aqui no Projeto Motor, o acidente deixou Alain Prost traumatizado, como ele mesmo admitiu anos mais tarde, em uma entrevista à revista inglesa Motorsport: “Toda vez que piloto na pista molhada, olho no meu retrovisor e vejo a Ferrari de Didier voando”.

No final do sábado, Pironi ficou mesmo com o melhor tempo das sessões classificatórias e a Ferrari não o retirou formalmente da prova, apesar do piloto não ter condições físicas de participar. Como consequência, no domingo, a corrida começou com o lugar da pole position vago e a primeira posição do GP da Alemanha de 1982 como o último grande feito do francês na F1.

Michael Schumacher – GP da França de 1996

Era a primeira temporada de Schumacher na Ferrari e a equipe ainda sofria com fraco desempenho visto nos anos anteriores. Mesmo assim, o alemão começava a colher os primeiros frutos de seu envolvimento do desenvolvimento do carro com os segundos lugares nos GPs da Europa e Imola e a vitória – uma das mais incríveis e admiradas de sua carreira – na Espanha.

Para deixar os ferraristas ainda mais otimistas, Schumacher cravou a pole position para o GP da França, sua terceira em nove corridas, mostrando que seu carro estava mesmo cada vez mais veloz. Será que a segunda vitória do alemão com os carros de Maranello viria, desta vez na pista seca? Não dessa vez…

Os carros saíram para a volta de apresentação em Magny-Cours, com Schumacher puxando a fila, seguido pela Williams de Damon Hill, líder da classificação geral, e as Benettons de Jean Alesi e Gerhard Berger. De repente, perto da metade do traçado, entrando no miolo do circuito francês, uma enorme fumaça cinza pode ser vista na traseira da Ferrari do alemão. Era o motor V10 da equipe italiana estourando ainda na volta de apresentação.

Schumacher abandonou a corrida por ali mesmo e a corrida começou com a primeira posição do grid vaga. A nova vitória do alemão pela Ferrari estava adiada por algum tempo, mas não muito. Ele ainda conquistaria mais dois triunfos naquela temporada de 1996. O resto é história.

Jarno Trulli – GP dos EUA de 2005

O caso de Trulli é o que mais se difere, pois é o único em que o pole não participou da corrida por uma escolha – teoricamente – própria. Como assim? É claro que Trulli deve ter lamentado o fatídico GP dos EUA de 2005 pela boa chance de vitória. Mas aquela corrida acabou sendo realmente marcada como um dia sombrio para a F1 em que Trulli e os fãs da categoria se tornaram vítimas.

Era a terceira pole position do italiano na carreira e a primeira pela equipe Toyota. Para os japoneses, inclusive, deve ter doido ainda mais, já que depois de quatro temporadas de muito investimento, eles conseguiam a primeira pole da equipe na F1.

Só que no meio de tudo isso, aconteceu em Indianápolis a famosa crise dos pneus. Existiam duas fornecedoras: Michelin e Bridgestone. A maioria do grid usava o produto da empresa francesa. E foram justamente os compostos da Michelin que sofreram problemas que estavam causando estouros. Tentou-se uma negociação durante o final de semana, inclusive com a opção de se montar uma chicane da curva do trecho do oval, que exigia mais dos pneus, mas não chegou-se ao um entendimento entre equipes, fornecedoras e FIA.

Assim, todos os carros que usavam pneus Michelin, por uma questão de segurança, acabaram desistindo da corrida. Eles alinharam no grid e ao final da volta de apresentação entraram para os boxes. Apenas os seis carros das equipes Ferrari, Jordan e Minardi, que usavam compostos da Bridgestone, largaram, todos em suas posições originais do grid. Isso fez com que não só a primeira posição do grid ficasse vazia como outros 14 lugares na hora da largada.

O Projeto Motor já contou mais detalhes deste caso em vídeo. Confira aqui:

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