George Russell em teste pela Mercedes em 2018
(Foto: Steve Etherington/Mercedes)

Por que Russell recebe enorme chance da Mercedes no Sakhir

A Mercedes confirmou nesta quarta-feira (02) que George Russell será o substituto de Lewis Hamilton, diagnosticado com Covid na última segunda-feira, para o GP de Sakhir do próximo domingo.

O anúncio veio em seguida de um acordo da Mercedes com a Williams para liberação do piloto para a prova. Russell é piloto do programa de formação da marca alemã e corre pelo time de Grove através de acordo de cooperação das duas organizações, que envolve o fornecimento de motores. O time inglês terá seu piloto reserva em Sakhir, Jack Aitken, que fará sua estreia na F1.

A escolha da Mercedes pode ter surpreendido alguns pelo fato da equipe possuir dois pilotos reservas disponíveis, Stoffel Vandoorne e Esteban Gutierrez. Mas a decisão, colocada sob uma perspectiva de longo prazo, faz muito sentido e é quase óbvia.

Caso o diagnóstico de Hamilton tivesse sido confirmado na quinta ou sexta-feira, já dentro da programação do GP, é bem possível que Vandoorne ganharia a chance. O belga é representante da Mercedes na Fórmula E e normalmente está nas etapas da F1 acompanhando o trabalho da equipe. A programação dele, inclusive, já previa estar no Bahrein semana que vem, após perder a última etapa por conta da pré-temporada do campeonato de carros elétricos.

Só que tendo alguns dias a mais para refletir e negociar com a Williams, Russell era o caminho a seguir pela equipe simplesmente pelo fato dele ser um candidato a titular da Mercedes a partir de 2022. Vandoorne e Gutierrez, que dificilmente teria uma chance, não estão nos planos. Além disso, Russell está no pique de um titular da F1 e tem experiência com os atuais pneus, o que deve acelerar sua adaptação ao modelo W11.  

Russell ao lado de Toto Wolff no box da Mercedes durante o GP da China de 2018
Russell ao lado de Toto Wolff no box da Mercedes durante o GP da China de 2018 (Foto: Paul Ripke/Mercedes)

Ou seja, é hora de colocar Russell para enfrentar uma espécie de teste após quase duas temporadas completas no pior carro da categoria. Ele pula agora para o melhor equipamento que existe no grid para ter a chance de trabalhar por um final de semana com a Mercedes e mostrar, mais do que o resultado final na classificação e corrida, do que é capaz em termos de evolução. E nisso que devemos focar: onde ele começará durante os treinos livres de sexta-feira e como estará andando no final da prova.

Exigir que ele bata Valtteri Bottas seria exagerado. Mas finalmente, depois dele enfrentar um Roberto Kubica que estava há oito anos fora da F1 e um questionável Nicholas Latifi, teremos uma boa referência de desempenho para a Russell. Se ele ficar à frente do finlandês, ótimo! Mas se mostrar uma evolução e ficar próximo de um companheiro que está andando neste carro desde o começo do ano, estará cumprido o seu papel.

Como George Russell se tornou cotado pela Mercedes

Quem acompanha só o que acontece aos domingos de F1 pode estar achando estranho tanta expectativa em torno de um piloto que vem da pior equipe do grid da F1 e que nunca marcou sequer um ponto na categoria. Mas Russell é um cara que está no radar há algum tempo.

Nos últimos três anos, uma geração bastante rica em talentos e que corria junta desde os tempos de kart começou a desembarcar na F1. Charles Leclerc, Lando Norris, Pierre Gasly, Alexander Albon e… Russell. Cada um por um caminho e programas diferentes.

O currículo de Russell é bastante recheado mesmo enfrentando pelo caminho vários desses rivais, além de outros também de talento, mas que não conseguiram chegar à F1. Campeão da F4 Britânica de 2014, terceiro na F3 Europeia de 16, campeão da GP3 (atual F3 FIA) de 17 e campeão da F2 de 18, batendo nesta temporada o compatriota Norris.

Celebração de Russel pelo título da F2 em 2018 (Foto: Paul Ripke/Mercedes)

Neste meio tempo, ele foi pinçado pela Mercedes para entrar no programa de formação da marca e já há muitos anos trabalha sob os olhares de Toto Wolff. Só que, diferente da Red Bull e, nos últimos anos, Ferrari e McLaren, a marca alemã não tem dado muitas chances para suas jovens promessas. E isso fica muito claro ao vermos que Pascal Wehrlein e Esteban Ocon nunca foram considerados para uma vaga no time. E não é considerando aqui um demérito da abordagem, apenas constatando que a Mercedes prefere não fazer apostas e manter uma dupla sólida com Hamilton e Bottas.

Através do acordo que envolve o fornecimento de motores, a Mercedes colocou Russell para fazer sua estreia na F1 em 2019 na Williams. Só que o carro da equipe inglesa é notoriamente ruim e os companheiros que o time inglês colocou ao seu lado não são boas referências para uma leitura exata de seu desempenho.

Mesmo assim, em conversas com pessoas da equipe, o Projeto Motor já constatou a admiração interna que existe pelo potencial do piloto. Ninguém duvida que ele seja um grande talento. Chegou a hora agora de entendermos se é o bastante para pelo menos ser considerado pela melhor equipe do grid da F1.

Russell realizoi testes pela Mercedes em testes para jovens promovidos pela F1
Russell realizoi testes pela Mercedes em testes para jovens promovidos pela F1 em 2017, 18 e 19 (Foto: Wolfgang Wilhelm/Mercedes)

O que vai acontecer em Sakhir

Todos os olhos do mundo estarão em Russell. Cada momento dele na pista será observado com atenção. Cada tempo de volta será debatido. Cada erro ou acerto ganhará destaque. Russell e todos que acompanham a F1 sabem que ele não está apenas substituindo Hamilton, como Nico Hulkenberg fez com Sergio Pérez e Lance Stroll na Racing Point, mas passando por uma avaliação. Não é uma situação fácil.

Só que tenha certeza de que a Mercedes também avaliará algumas questões que não teremos acesso. Como ele trabalha com os engenheiros, como ele irá evoluir no acerto de um carro com o qual nunca andou, qual será seu comportamento nas entrevistas, entre outros.

Se por um lado parece um vestibular dos mais complicados, por outro, é uma chance de ouro. Quantos jovens pilotos têm a chance de mostrar seu trabalho de forma tão próxima assim para a melhor equipe da F1? Durante o GP do Brasil de 2019, em uma entrevista com ele, a reportagem do Projeto Motor questionou como ele se avaliava e sabia se estava fazendo um bom trabalho em um carro que era destacadamente o pior e sem chance de brigas com adversários e sem uma referência forte como companheiro. “O piloto sabe quando tirou tudo do carro, e eu sei que estou fazendo isso”, respondeu, de forma bastante confiante. É hora dele provar.

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