Band irá transmitir a F1 a partir de 2021
(Foto: Duda Bairros/Vicar)

Tupi, Record, Band, Globo… A história da F1 na TV brasileira

Neste último 09 de fevereiro, a Band anunciou o acordo para passar a transmitir a F1 pelas próximas duas temporadas. Desta forma, chega ao fim uma era de 40 anos da categoria na Globo, que vinha sendo a casa do Mundial desde 1981 de forma ininterrupta.

A F1 também não é uma total novidade para a Band. A emissora foi a primeira a transmitir uma temporada completa do Mundial para o Brasil, em 1980. Na época, a emissora paulistana teve a chance de mostrar a primeira vitória de Nelson Piquet, em Long Beach.

A experiência do Grupo Bandeirantes com a F1 termina por aí na telinha, mas a companhia seguiria sempre muito firme em suas transmissões no rádio, se tornando uma das mais tradicionais e elogiadas equipes de locução das corridas no país. Na TV, o canal ficaria mais conhecido anos depois pelas transmissões da Indy, entre o final dos anos 80 e primeira metade dos 90, e depois nos anos 2000, sob comando de Luciano do Valle.

No novo pacote acordado com a F1, a Band irá transmitir as 23 etapas previstas para o calendário de 2021 ao vivo. Os treinos classificatórios serão mostrados no Bandsports, canal por assinatura do Grupo, em um formato bastante parecido com que a Globo vinha fazendo com o Sportv. Além disso, o Bandsports também mostrará a F2 e F3, as duas principais categorias de base do Mundial, e que a partir deste ano, passam a se revezar em cada etapa.

Vale lembrar que o automobilismo fica bastante forte na Band, pois a emissora também já tem um contrato de cinco anos para mostrar todas as etapas da Stock Car ao vivo, com exclusividade na TV aberta. O Sportv continua transmitindo o campeonato nacional entre os canais por assinatura.

Como começou a F1 na TV brasileira

As transmissões ao vivo da F1 para o Brasil começaram em 1970. A primeira corrida a ser mostrada para o público brasileiro foi o GP da Grã-Bretanha, em Brands Hatch, no dia 18 de julho, que marcou a estreia de Emerson Fittipaldi.

A transmissão foi realizada em parceria pela TV Record, de São Paulo, e a TV Rio, do Rio de Janeiro, ambas integrantes da Rede de Emissoras Independentes, a REI. Wilson Fittipaldi, o “Barão”, pai de Emerson e Wilsinho, fazia as narrações. Ele já fazia na época narrações nas transmissões do rádio na Jovem Pan, e também era um notório promotor de corridas no Brasil, sendo um dos responsáveis pelas Mil Milhas Brasileiras, em Interlagos.  

Para se ter ideia do tamanho do feito para o automobilismo, somente naquele mesmo ano, o público do país teve a primeira chance de ver a Copa do Mundo de futebol ao vivo. O evento realizado em 70 no México marcou o tricampeonato da Seleção Brasileira.

Só que as transmissões na época não eram de todas as provas. Existia até falta de estrutura para isso. Inclusive, os brasileiros não conseguiram sequer ver ao vivo a primeira vitória de um piloto do país na F1, com Emerson Fittipaldi, em Watkins Glen, ainda naquele ano.

Nos anos seguintes, os acordos eram feitos por GPs e nenhum canal se tornou uma verdadeira casa da F1. Com o jornalista Tércio de Lima na locução, a Tupi, de São Paulo, passou os GPs da Bélgica e Mônaco de 72, em cadeia com a Globo, que começava a entrar na brincadeira. A Record conseguiu transmitir o GP da Itália que consagrou Fittipaldi como primeiro campeão brasileiro da F1.

https://www.youtube.com/watch?v=w3WNCQBIbK4

Com o passar dos anos, a Globo foi aos poucos realizando mais acordos para ter a F1. mas quando não tinha interesse de mostrar as corridas, fazia um sublicenciamento. Júlio Delamare era o narrados mais comum da Globo na época, com os comentários de José Maria Ferreira. Com a morte de Delamare em um acidente de avião, Luciano do Valle assumiu a narração. Em 1978, Reginaldo Leme, até então correspondente do Estadão, chegou à emissora para fazer os comentários.

Só que durante esta época, o interesse pela categoria caiu um pouco, quando os irmãos Fittipaldi apostaram na equipe Copersucar e o Brasil ficou sem pilotos brigando por vitórias de forma direta. Desta forma, a Tupi chegou a mostrar o GP da Áustria de 1976 e a Band, os GPs dos EUA e Canadá de 78. Tudo em acordo com a Globo.

F1 na Band e a explosão dos anos 80 na TV

Em 1980, a Band se tornou a primeira emissora a exibir todas as corridas de uma temporada da F1 ao vivo e na íntegra. Naquele ano, ela ainda teve a companhia da TV Cultura, que também mostrou o GP do Brasil, realizado em Interlagos.

Depois de cinco anos sem vitórias brasileiras, o público pôde ver assim o surgimento de um novo ídolo, Nelson Piquet, que conquistou sua primeira vitória na etapa de Long Beach daquele ano. Ele ainda venceria os GPs da Holanda e Itália, terminando o campeonato na segunda posição, após chegar a liderar até a duas corridas do final da temporada.

A narração era feita por Galvão Bueno e Fernando Solera, com José Maria Ferreira nos comentários e Álvaro José dividindo as reportagens com Ana Aragão.

https://www.youtube.com/watch?v=qOmD1wZDGoQ

De olho na possibilidade de ter um brasileiro brigando por títulos, a Globo retomou os direitos de transmissão para 1981 e não se decepcionou com a aposta. Não só Piquet venceria aquele campeonato como o Brasil teria uma sequência de seis títulos em dez anos, com a chegada depois de Ayrton Senna. Luciano do Valle comandou as transmissões até deixar a emissora em 82, quando Galvão Bueno se tornou então o titular da F1 no Brasil ao lado do comentarista Reginaldo Leme, formando a dupla mais tradicional das transmissões da categoria.

No final daquela década, Senna, que tinha uma visão publicitária e de marketing mais apurada que Piquet, se tornou uma enorme estrela da Globo, fazendo aparições em diversos programas da emissora e se tornando uma enorme estrela, maior do que qualquer jogador de futebol da época.

Isso tudo impulsionou a audiência das corridas e os contratos comerciais da Globo, que se tornou praticamente dona da F1 no Brasil. Por um período, a emissora carioca foi literalmente sócia no GP do Brasil.

Fim de uma era e mudança para a Band

A Globo se tornou praticamente sinônimo de F1 no Brasil. Diferente do futebol, em que de tempos em tempos alguma outra emissora conseguia transmitir um campeonato importante ou até fazia parceria de sublicenciamento com o grupo carioca, a categoria de automobilismo sempre pareceu algo muito distante para qualquer concorrente.

Só que muita coisa começou a mudar nos últimos anos. Na virada de 2016 para 2017, o grupo americano Liberty Media comprou o controle do Grupo F1, empresa que detém os direitos comerciais do campeonato e que até então era de um fundo de investimento, a CVC, e tinha como líder Bernie Ecclestone.

O famoso dirigente inglês sempre viu a Globo como uma grande aliada no Brasil. Já a Liberty, ao analisar a situação de seu produto no Brasil, resolveu fazer mudanças no modelo de negócios tanto do GP local quanto a transmissão das corridas. Mais do que dinheiro, os americanos gostariam de mudar a forma como conduziam seus negócios por aqui, abrindo espaço para o lançamento do F1 TV, serviço de transmissão por streaming da categoria, e se tornarem sócios em parcerias comerciais locais.

Desta forma, em 2020, a F1 chegou a fechar um acordo com a empresa Rio Motorsports para levar o GP do Brasil para um novo autódromo no Rio de Janeiro, em um pacote que também incluiria os direitos de TV, que seriam sublicenciados. A parceria, no entanto, não deu certo. O novo circuito não saiu do papel por falta de licenças ambientais e a Rio Motorsports também não conseguiu negociar patrocínios e uma parceria para colocar a F1 no ar em outro canal.

A Globo então retornou à mesa. Só que para manter o modelo de negócio da emissora carioca, a F1 resolveu pedir um valor alto pelos direitos. E a atual estratégia do grupo da família Marinho não permite pagamentos tão altos por transmissões esportivas, como já foi mostrado quando ele também abriu mão de campeonatos de futebol como a Libertadores. O foco atual é investir no Globoplay, plataforma de streaming, prevendo uma mudança no mercado de TV que já está em andamento.

Desta forma, a F1 olhou para concorrentes da Globo e depois de muitas conversas com SBT e Record, chegou a um acordo com a Band, apostando em receber menos de forma direta pelos direitos do que vinha da Globo, mas aumentando sua participação nas parcerias comerciais locais, além de lançar a F1 TV.

O novo contrato é válido por apenas duas temporadas, 2021 e 22, e a primeira transmissão será do GP do Bahrein, no dia 28 de março. A Band ainda promete uma cobertura mais extensa em seus programas esportivos e jornalísticos, além de um abre antes das provas e a transmissão dos pódios, algo que a Globo tinha passado para a internet nos últimos anos.

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