Venturi já teve sucesso nos GTs, equipe de F1, e hoje faz carros elétricos e participa da Fórmula E

Venturi: marca de esportivos, Le Mans, F1 e equipe na Fórmula E

Nos últimos anos, a Venturi se tornou uma marca reconhecida por sua participação da Fórmula E. Para os brasileiros, inclusive, contou a participação de Felipe Massa no início de sua carreira pós-F1, e em 2022, terá Lucas di Grassi, campeão da categoria em 2017.

É curioso como o nome do time ainda faz muitos dos fãs do automobilismo a se questionarem se essa Venturi é a mesma que competiu na F1, por apenas uma temporada, em 1992. A dúvida é válida e a ligação existe, apesar de alguns desvios no meio do caminho e uma quase que separação completa de caminho há pouco tempo.

A Venturi nasceu em 1984, fundada pelos engenheiros franceses Claude Poiraud e Gérard Godfroy. O seu primeiro nome foi com sigla MVS Venturi, do francês para Montadora de Carros Esportivos Venturi. A ideia era entrar no mercado de GTs de rua e competição.

A sede da empresa foi montada em Coueron, nas cercanias da cidade francesa de Nantes, a cerca de 400 Km de Paris. O primeiro carro ganhou o nome de Ventury, com “y” no final. Era um esportivo que a princípio usava um motor Volkswagen Golf GTi. Em 85, ele foi apresentado no Salão de Paris equipado agora com um Peugeot 505 Turbo. Mais tarde, ele ainda ganharia uma nova versão com um propulsor V6 PRV, uma joint venture da Peugeot, Renault e Volvo. Cinco unidades foram produzidas no primeiro ano de comercialização, em 1987.

Uma espécie de boutique até o começo dos anos 90, a Venturi tinha planos de um dia se tornar uma montadora de carros em escala industrial. E ela via no automobilismo uma forma de expandir suas fronteiras e levar sua marca para novos lugares.

Por uma temporada, a Venturi chegou a ser proprietária majoritária da equipe Larrousse na F1, o que chegou a fazer o time correr com sua marca
Por uma temporada, a Venturi chegou a ser proprietária majoritária da equipe Larrousse na F1, o que chegou a fazer o time correr com sua marca

Assim, com a intenção de se lançar no mercado asiático, a companhia comprou ao final de 1991 uma parcela de 65% da equipe Larrousse na F1. Foi uma questão de oportunidade, já que o time estava falindo e a Lola estava saindo da parceria. A operação passaria a competir já em 92 sob o nome da marca e o novo carro, equipado com motor Lamborghini, foi batizado de Venturi LC92.

Só que a brincadeira durou pouco. O lançamento da marca na Ásia não foi bem e a companhia passou a enfrentar sérios problemas financeiros. Em setembro de 1992, precisando fazer desinvestimento em empreitadas desnecessárias, a Venturi vendeu sua participação na equipe de F1.

O foco voltaria a ser o mercado de esportivos de rua. Neste meio tempo, a empresa seguia realizando lançamentos de modelos e os levando para salões europeus para tentar vender algumas unidades. Entre os mais famosos, ficou o Venturi 260 e suas variações.

A empresa, no entanto, não tinha desistido do automobilismo. Só tinha mudado a abordagem, passando a focar em competições GT para mostrar melhor sua marca. Em 1993, a empresa teve um bom desempenho com seu 500LM nas 24 Horas de Le Mans com sete carros inscritos por equipes clientes.

A Venturi teve relativo sucesso com GTs de pista nos anos 90
A Venturi teve relativo sucesso com GTs de pista nos anos 90

No ano seguinte, ela voltou à prova de Sarthe com seu icônico 400 GT. Por questões de homologação, 15 unidades de rua baseados no 400 GT de competição foram produzidas para comercialização. Para as pistas, outros 73 foram produzidos e vendidos para clientes entre 1994 e 97. O carro tinha um motor V6 de 3 Litros biturbo PRV.  O interesse de gentleman drivers foi tanto, que se chegou a criar uma categoria monomarca chamada “Venturi Trophy” para pilotos competirem com o carro.

A Venturi ainda fabricaria outro carro que chamaria a atenção nas pistas europeias, o 600 LM, que chamaria muito a atenção no BRP, campeonato precursor do FIA GT1, competindo contra Porsches, Ferraris, McLarens e Jaguars.

Apesar deste pequeno sucesso, os novos projetos da Venturi nos últimos anos da década de 90 fracassaram e a empresa entrou em colapso financeiro. Em 2000, ela finalmente declarou falência após 16 anos no mercado. Era o fim do projeto de criação de uma marca esportiva francesa. Mas ainda não era o final da linha para o nome Venturi.

Uma nova Venturi

Admirador da marca, o empresário monegasco Gildo Pallanca Pastor comprou o espólio da Venturi durante o processo de encerramento da empresa e a transferiu para Mônaco. Ele fez um total restruturação da empresa, desde seu negócio principal como objetivos da marca. De cara, ele mudou todo o foco da empresa já partindo, ainda em 2000, para carros esportivos elétricos.

Em 2002, a empresa lançou o Fétish, que ficaria conhecido no mercado como o primeiro superesportivo elétrico de rua. O carro tinha um motor que desenvolvia 180 kW (em torno de 240 cavalos) e um torque máximo de 220 Nm. Segundo a empresa, ele conseguia acelerar de 0 a 100 km/h em 4,5 segundos. As primeiras unidades para comercialização começaram a ser produzidas em 2004 e 25 foram vendidas.

A companhia começou a desenvolver suas próprias tecnologias de motores elétricos com baterias de lítio e em 2008 se tornou fornecedora do grupo PSA Peugeot Citroen para a fabricação de 500 unidades do Citroen Berlingo First. No ano seguinte, a Venturi comprou a fabricante de motos francesa Voxon, que também estava em liquidação. O caminho foi o mesmo, transformando a marca em uma montadora de motocicletas elétricas.

O Venturi Buckeye Bullet já bateu o recorde de velocidade para veículso elétricos
O Venturi Buckeye Bullet já bateu o recorde de velocidade para veículso elétricos (Foto: Venturi/Reprodução)

Aos poucos, mais do que uma fabricante de carros elétricos, a Venturi se tornou uma empresa de desenvolvimento tecnológico para esse nicho de mercado. E para promover seu negócio, ela lançou um projeto chamado “Desafios Globais”, que inclui a fabricação de três veículos: o Venturi Buckeye Bullet, carro que já obteve o recorde de velocidade para carros elétricos de 549 Km/h; o Antarctica, modelo de exploração polar elétrico que consegue operar em temperaturas abaixo de -50°C; e a Voxan Wattman, que está em fase de desenvolvimento e que buscará o recorde de velocidade para motos elétricas.

A equipe de Fórmula E

Para uma empresa que passou a se basear totalmente no desenvolvimento de veículos elétricos e tecnologias deste segmento, a participação na Fórmula E se tornou algo quase óbvio para a expansão da marca. A Venturi foi uma das primeiras equipes a anunciar a entrada no novo campeonato já em seu lançamento para a temporada inaugural de 2014-15.

E quando o campeonato abriu a possibilidade para fornecedores da unidade de potência elétrica, em sua segunda época, a Venturi logo se tornou uma das fabricantes, seguindo assim até 2019, chegando a vender seu produto para outras duas equipes.

Só que a falta de resultados fez o time mudar de estratégia. Em 2018, o equipe contratou a ex-pilota Susie Wolff como chefe de equipe. A nova dirigente apostou em abrir mão do motor próprio para passar a comprar a partir de 2019 o novo pacote da Mercedes, que estava entrando no campeonato.

O brasileiro Felipe Massa, dono de 11 vitórias na F1, chegou a correr pela Venturi na Fórmula E (Foto: Fórmula E)

O nome e a ligação com a empresa seguem, porém, a equipe Venturi Racing ganhou novos controladores quando, em dezembro de 2020, a maior parte do time foi adquirida pelos investidores Scott Swid e Jose Maria Aznar Botella, filho ex-primeiro-ministro da Espanha, Jose Maria Aznar. Wolff e Pastor, no entanto, seguem com uma participação na operação de competição, o que mantém alguma ligação, mesmo que pequena com a marca Venturi, que continua totalmente controlada pelo empresário monegasco.

Se o time ainda não conseguiu se consolidar entre os principais da Fórmula E, terminando em sétimo na competição de equipes em 2021, conquistou três vitórias nos últimos dois anos e vem mostrando alguma evolução no geral. A aposta em Di Grassi, um dos pilotos mais experientes e vitoriosos da categoria, é justamente para dar o novo salto para o pelotão da frente.

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