Wilson Fittipaldi e o capítulo essencial na história do Brasil na F1
Não existe dúvida nenhuma da importância da família Fittipaldi não só para o automobilismo brasileiro, mas mundial. A contribuição tem um impacto profundo na forma como o público nacional acompanha corridas desde os anos 60 até hoje, e ainda ajudou categorias internacionais como a F1 e a Indy a expandirem suas fronteiras.
Se olharmos para o que fizeram ao volante, são três gerações de pilotos Fittipaldi, iniciada com os irmãos Emerson e Wilson, que passou depois por Christian, está no momento com Pietro e Enzo, e ainda tem Emmo já competindo nas categorias de base iniciais. Quatro deles já largaram em corridas de F1.
Mas não foi só com pilotos. Tudo começou antes disso, com Wilson Fittipaldi, pai de Emerson e Wilsinho, e conhecido no automobilismo como o Barão. Ele foi um importante promotor de corridas no Brasil que trabalhou pelo desenvolvimento do esporte a motor no país, além de ter sido o responsável por narrações pelo rádio na F1 no início das transmissões para o país. Entre as mais famosas e icônicas, está a que ele celebra o título do filho Emerson, primeiro campeão mundial brasileiro.
Wilson Fittipaldi, o pai, morreu em 2013, aos 92 anos. Neste 23 de fevereiro de 2024, morreu seu filho mais velho, Wilson Fittipaldi Jr, aos 80 anos. Nos livros de história do automobilismo, Wilsinho pode não ser lembrado da mesma forma como irmão. Isso é compreensível diante dos feitos de Emerson dentro das pistas, com vitórias e títulos na F1 e Indy.
Mas sua participação nesta história é quase tão grande e essencial quanto a do irmão. Sua contribuição como piloto competente já seria bastante para um grande destaque, mas ele ainda foi um dos principais (talvez o principal) pilares de um dos capítulos mais importantes do automobilismo brasileiro: a Escuderia Fittipaldi.
O sonho da Fittipaldi, equipe brasileira na F1
Os irmãos Fittipaldi já tinham a tradição de montar protótipos e adaptar carros para provas no Brasil. Depois de competir nas temporadas de 1972 e 73 pela equipe Brabham e ver a popularidade da F1 e de seu sobrenome explodir com os triunfos do irmão e a entrada do GP do Brasil no calendário do Mundial, Wilson chegou à conclusão, apoiado por Emerson, que era o momento ideal para montar uma equipe brasileira.
Nunca foi fácil montar um time na F1. Mesmo olhando para épocas em que sobravam correntes no grid, existe uma diferença grande entre participar do Mundial, de forma desorganizada, esporádica e sem resultados, e montar uma organização que perdure por um tempo considerável e estatísticas minimamente consistentes durante o período. Wilson Fittipaldi sonhou e realizou esse sonho.
Para um projeto deste tamanho, era preciso financiamento enorme. O time, é verdade, recebeu apoio estatal da ditatura militar, algo que normalmente criticamos quando é feito em outros países. Isso ficou bastante claro no lançamento público da empreitada, em outubro de 1974, quando os irmãos levaram um carro ao Palácio do Planalto e foram recebidos pelo então presidente Ernesto Geisel. A equipe ainda teve patrocínio da Copersucar, cooperativa de produtores de etanol, que batizou o nome do time por diversos anos.
Wilsinho foi o responsável principal por toda a montagem e administração do projeto. E foi ele que alinhou o FD01, primeiro carro de F1 construído no Brasil, no GP da Argentina de 1975 para a estreia.
O começo foi difícil. Em treze participações na primeira temporada, Wilsinho conseguiu receber a bandeira quadriculada em apenas cinco, com um 10º lugar em Watkins Glen como melhor resultado.
Em 76, a equipe recebeu um grande reforço. Emerson, que já vinha participando do projeto desde seu início, resolveu deixar a McLaren e suas chances de conquistar um tricampeonato mundial para pilotar pela equipe que tinha fundado com o irmão. Wilsinho se concentrou então no trabalho do pitwall e administração da equipe.
A evolução técnica com o modelo FD04 e um bicampeão ao volante levou a equipe Fittipaldi a marcar seus primeiros pontos, com três sextos lugares de Emerson. No ano seguinte, o brasileiro terminou quatro vezes na zona de pontuação (que na época, compreendia apenas os seis primeiros colocados), com três quartos lugares e um quinto.
O auge aconteceu em 78, com o icônico modelo F5A. Emerson subiu ao pódio do GP do Brasil, realizado em Jacarepaguá, com um segundo lugar e terminou na zona de pontuação em outras seis oportunidades. A Fittipaldi fechou a temporada com 17 pontos na sétima posição no campeonato de construtores em que entre 13 times que pontuaram, à frente, entre outros, da McLaren.
Apesar da evolução, a equipe Fittipaldi sofreu muito com as críticas de parte da imprensa não especializada, que questionava o investimento feito na equipe, e do próprio público, que esperava por vitórias e resultados mais imediatos.
A equipe ainda teve mais uma temporada positiva, em 1980, em que conquistou dois pódios com terceiros lugares de Keke Rosberg na Argentina e Emerson em Long Beach (o último da carreira do bicampeão na F1), fechando a temporada com 11 pontos, à frente novamente da McLaren e desta vez até da Ferrari.
A perda de patrocinadores fez com que o time de Wilson e Emerson fechasse as portas após a campanha de 1982, temporada em que marcou seu último ponto com o sexto lugar de Chico Serra no GP da Bélgica. A Fittipaldi encerrou sua vida com 103 GPs, na 29ª posição entre times que mais vezes competiram na F1, durante oito temporadas consecutivas.
Wilson Fittipaldi voltou a competir de forma esporádica nos anos 80 e chegou a fazer duas campanhas fortes na Stock Car com o vice-campeonato de 1991 e o terceiro de 1995.
Nos últimos 10 anos, Wilsinho ainda se tornou consultor técnico e instrutor de pilotos da categoria F-Vee, de formação de pilotos. Sua contribuição para o automobilismo brasileiro, de qualquer forma, já tinha sido feita, com um legado e história que devem permanecer para sempre.
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