Acidente com roda de Alboreto em Imola 1994 também impôs mudança à F1
Para muita gente, o final de semana do GP de San Marino de 1994 é um dos mais trágicos da história da F1. A sequência de acidentes mais lembrada daqueles dias em Imola contempla o de Rubens Barrichello, que levou o brasileiro ao hospital com diversas lesões, na sexta-feira, e os fatais do austríaco Roland Ratzenberger, no sábado, e do tricampeão Ayrton Senna, no domingo.
Também é muito recordada a batida entre JJ Lehto e Pedro Lamy, logo na largada, que causou a entrada do safety car na pista durante as primeiras voltas. Mas talvez o que menos recebe atenção, apesar de ser injusto dizer que é esquecido, foi o que envolveu a Minardi de Michele Alboreto dentro do pit lane, já na volta 48 da corrida.
O clima em Imola era naquela altura dos acontecimentos o pior possível. A F1 já tinha passado 24 horas sob luto pela morte de Rarzenberger. A última vez que um piloto da categoria tinha morrido em um acidente fatal tinha sido Elio de Angelis, em 1986, mas em um teste. Já eram na verdade 12 anos desde o último acidente fatal durante um GP, do italiano Riccardo Paletti, na corrida de 1982 em Montreal. Ou seja, boa parte do paddock, incluindo pilotos, mecânicos, imprensa e pessoal em geral, nunca tinha presenciado um acontecimento como aquele.
Os momentos após o acidente de Senna, único campeão mundial que ainda corria na F1 e principal nome da categoria da época, deixaram tudo ainda mais tenso. A corrida, de forma polêmica, foi reiniciada após a retirada do brasileiro do circuito. Mas o domingo em Imola ainda reservava mais alguns momentos de preocupação, antes mesmo da confirmação da morte de Senna.
Na volta 46, Michele Alboreto entrou nos boxes para fazer seu reabastecimento, operação que tinha voltado à F1 naquela temporada após 11 anos de proibição, e troca de pneus. Naquela época, ao contrário do que já acontecia na Indy, por exemplo, a F1 não tinha um limite de velocidade para os carros no pit lane durante a corrida. Apenas durante os treinos, o que inclusive era relativamente recente, adotado em 1993.
Alboreto foi liberado para sair do pit da Minardi, porém, sua roda traseira direita não estava presa adequadamente. Ela se soltou ainda dentro do pit, quando, até pela falta de regulamentação, o carro estaria entre 140 e 150 km/h.
A roda foi em direção aos boxes da Ferrari e lesionou seriamente três mecânicos que estavam na posição da parada do pit. Entre eles, estava Nigel Stepney, que ficaria famoso anos mais tarde por sua participação no caso “Spygate”. O pneu solto ainda lesionaria também um mecânico da equipe Lotus. Todos eles foram levados às pressas ao centro médico do circuito, mas, apesar de algumas lesões graves, nenhum deles sofreu risco de perder a vida.
Alboreto estacionou sua Minardi poucos metros depois, logo após a saída do pit lane. A roda ainda sairia da área de boxes e cruzaria a pista ao final da reta dos boxes, poucos metros antes da fatídica curva Tamburello. Mesmo com toda essa situação, a prova sequer foi neutralizada com um novo safety car, e seguiu normalmente para as suas 10 voltas finais.
Mudança na regra do velocidade após o acidente em Imola
Os dias imediatamente seguintes ao GP de San Marino foram de muita reflexão para a F1. A categoria partiu para diversas mudanças de regulamento já para a própria temporada de 1994, o que obrigou que as equipes construíssem carros praticamente novos ainda durante o campeonato.
Boa parte das regras desportivas também foram revisadas. Uma das que foi alterada de forma imediata para o GP de Mônaco de duas semanas depois foi a introdução de um limite de velocidade dentro da região do pit lane também durante todas as corridas. Até então, ele existia apenas nos treinos e em alguns circuitos com o pit lane mais estreito.
Esse limite sempre variou um pouco dependendo da largura do pit lane de cada prova, mas o padrão em geral é de 80 km/h. A FIA passou também aos poucos a exigir que a área de pit fosse cada vez maior nos circuitos mais novos, e diversas das pistas mais antigas passaram por reformas nesta área para garantirem mais segurança. Um exemplo desta situação é do circuito de Melbourne, que até 2019 tinha o limite no pit de 60 km/h. Com as obras para 2022, a pista de rolagem à frente dos boxes foi alargada e velocidade subiu para os 80 km/h.
Aos poucos, a FIA também passou a ser cada vez mais rígida com erros das equipes nas trocas de pneus. Rodas soltas e até uma liberação do carro após o pit stop de forma perigosa passaram primeiro a render multas e depois a sanções esportivas. Na corrida em Imola de 2022, Esteban Ocon foi punido em cinco segundos em seu tempo total de prova após a Alpine deixar ele sair quando Lewis Hamilton passava, o que causou um momento em que os dois se espremeram no pit lane durante a corrida.
No final das contas, o acidente da roda de Alboreto acabou se tornando mais uma lição que a F1 precisou aprender da forma mais dura possível.
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