(Foto: Williams)

Junqueira: o campeão da base que perdeu “vestibular” por vaga na F1

O Brasil voltou a ter um campeão na principal categoria de acesso à F1. Felipe Drugovich brilhou na temporada da F2, e garantiu a taça com uma rodada de antecipação, o que acabou lhe rendendo também uma vaga no programa de pilotos da Aston Martin. Um brasileiro não vencia a principal categoria de base da F1 desde o ano 2000, quando o mineiro Bruno Junqueira se sagrou campeão da F3000 Internacional.

Mas, mesmo com o feito, Junqueira não conseguiu subir para a F1 – na verdade, sua maior oportunidade surgiu antes mesmo de conquistar o título, quando foi preterido em uma seleção da Williams. Mas o que foi que aconteceu de fato?

Muita coisa mudou nas últimas décadas no degrau final antes da F1. A categoria que hoje se chama F2 tem esse nome apenas de 2017 para cá. Antes disso, ela era conhecida como GP2. A GP2, por sua vez, foi criada em 2005, na tentativa de modernizar e revitalizar a principal categoria de acesso à F1, em substituição à F3000 Internacional, que não vivia o melhor de seus momentos.

Muitos brasileiros que chegaram à F1 passaram pela F3000 Internacional. Roberto Moreno, Christian Fittipaldi e Ricardo Zonta se sagraram campeões na categoria de acesso. Porém, um outro brasileiro se destacou na F3000 ao conquistar o título, mas a chance de correr na F1 nunca apareceu: Bruno Junqueira.

Nascido em 4 de novembro de 76, em Belo Horizonte, Junqueira se sagrou campeão da F3 Sul-Americana em 97, e em seguida mudou-se direto para a F3000 Internacional. A temporada de 98, pela equipe Draco, foi de aprendizagem, com duas corridas nos pontos e o 17º lugar na tabela. Mas, a partir de 99, uma nova possibilidade se abria com a Petrobras, que já era uma apoiadora de sua carreira.

A estatal brasileira uniu forças com a Den Bla Avis, equipe satélite da Super Nova, para criar a sua própria operação na F3000, a Petrobras Júnior. A intenção era servir de plataforma para o aprendizado de jovens pilotos brasileiros. Importante destacar que, na época, a Petrobras ampliaria a sua parceria de fornecimento de combustível com a poderosa Williams, então a iniciativa serviria de ponte entre a categoria de base e a F1.

Com essa nova estrutura, a sua temporada de Junqueira na F3000 foi bem mais positiva. O mineiro conquistou uma pole e uma vitória, e terminou o campeonato na quinta posição.

Junqueira e o vestibular na Williams

Com resultados de mais destaques, algumas oportunidades interessantes começaram a aparecer. Junqueira realizou testes pela Williams, que se preparava para a chegada da BMW a partir de 2000. Mas novas possibilidades ainda estariam no horizonte.

Em 99, Alessandro Zanardi enfrentou muitas dificuldades com a Williams, e sequer conseguiu pontuar. Assim, a equipe dispensou o italiano, mesmo que ele tivesse contrato para 2000, o que abria uma vaga bastante cobiçada na Williams.

Como a equipe já tinha o experiente Ralf Schumacher no outro cockpit, ela decidiu abrir a possibilidade de trazer um novato para a outra vaga. Um nome no qual ela estava de olho era o de Juan Pablo Montoya, campeão da CART em 99 e que também havia sido piloto de testes da Williams, mas o colombiano ainda estava atrelado contratualmente à Chip Ganassi nos Estados Unidos, então seu nome foi descartado.

Sendo assim, Junqueira pintou como uma alternativa óbvia, até porque ele havia superado em um teste recente os potenciais candidatos Darren Manning e Jorg Muller. Porém, quem também surgiu na cena foi o jovem Jenson Button, terceiro colocado na F3 Inglesa em 99, e que já havia feito testes na F1 com McLaren e Prost.

Começava ali um duelo direto pela vaga, que também se transformou num confronto de narrativas entre brasileiros e ingleses. Os brasileiros garantiam que Button só entrou no páreo por conta de sua nacionalidade, já que a Inglaterra estava carente de um jovem piloto, e porque a BMW, parceira da Williams, queria aumentar a sua presença no mercado britânico. Já os ingleses diziam que Junqueira tinha a seu favor US$ 6 milhões que a Petrobras estava disposta a pagar para a Williams caso o brasileiro fosse o escolhido, algo que a própria estatal negou categoricamente.

Bruno Junqueira testa carro da F1 pela equipe Williams
Bruno Junqueira testa carro da F1 pela equipe Williams (Reprodução/Redes Sociais Bruno Junqueira)

Dentro da pista, Junqueira e Button passariam por um vestibular da Williams ao longo de janeiro de 2000. Em duas baterias realizadas, tanto em Jerez de la Frontera quanto em Barcelona, os dois foram amplamente prejudicados por problemas mecânicos, então a Williams precisou estender sua programação. Ela realizou uma atividade particular no dia 23 de janeiro, e aí, sem enfrentar contratempos, Button fez uma volta 0s1 mais rápida. A decisão da Williams seria anunciada no dia seguinte, quando ela apresentaria o seu novo carro para 2000.

Então, no dia 24 de janeiro, os pilotos receberam a notícia minutos antes do início da cerimônia. Button foi o escolhido para a vaga, se tornando naquele momento, aos 20 anos, o inglês mais jovem a chegar à F1, e Junqueira permaneceria como piloto de testes. Ao justificar a decisão, Frank Williams disse que, até a noite anterior, Junqueira era o favorito, inclusive sendo a preferência dos engenheiros da Williams. No entanto, Button recebeu o voto decisivo pensando no longo prazo, já que, por ser menos experiente, ele teria mais a evoluir.

Volta para a F3000 e sequência nos EUA

Sem a vaga na F1, Junqueira teve de voltar o seu foco a mais uma temporada na F3000, novamente pela Petrobras Júnior. E ali ele teve sua campanha mais forte nas categorias de base. No total, o brasileiro venceu quatro corridas, sendo três delas consecutivas, e garantiu o título na etapa final, em Spa. Só para ter como referência, o terceiro e quarto colocados naquela campanha foram Mark Webber e Fernando Alonso, pilotos que se destacariam na F1 em anos futuros.

Porém, a grande chance de Junqueira chegar à F1 já tinha ficado para trás. Na Williams, não havia vaga: ela enfim trouxe Juan Pablo Montoya para 2001, então Button acabou indo parar na Benetton. O brasileiro acabou sendo cedido justamente para a vaga que antes era de Montoya na CART, na poderosa Chip Ganassi.

Bruno Junqueira competiu cm sucesso na F3000 usando as cores da estatal brasileira Petrobrás

Com isso, a carreira de Junqueira teve uma grande guinada, e se voltou de vez ao automobilismo americano. Depois de uma temporada difícil com a Ganassi em 2001, o brasileiro emendou três vices consecutivos entre 2002 e 2004 – o primeiro ainda com a Ganassi, e os dois seguintes já na Newman Haas.

Em 2005, sofreu um forte acidente nas 500 Milhas de Indianápolis, o que provocou uma lesão em sua coluna e foi um divisor de águas em sua carreira. Mesmo que ele tenha tido uma longa e bem sucedida trajetória nos Estados Unidos, Junqueira nunca mais conseguiu uma chance de realizar o sonho de correr na F1, algo que esteve perto de concretizar naqueles meses no começo de 2000.

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