O ciclo de renovação dos pilotos do grid da F1
De tempos em tempos, os fãs da F1 mostram impaciência com uma certa falta de renovação do grid. Enquanto alguns pilotos conseguem estender suas carreiras, nomes que ganham títulos nas categorias de base nem sempre conseguem espaço.
Porém, se observamos, nos últimos anos existe um claro ciclo de renovação. Nas últimas dez temporadas, fica claro que pelo menos três novos titulares surgem na F1 a cada ano, com vários casos de novas trocas acontecendo no meio do caminho.
É preciso apontar que alguns fatores deixaram a chegada de jovens pilotos à F1 um pouco mais difícil ou restrita. Para começar, o sistema de pontuação para a liberação da Superlicença que a FIA adotou em 2016 passou a exigir resultados importantes na base, o que impede que jovens com apoio financeiro, mas sem bons desempenhos em categorias menores, não consigam mais chegar ao Mundial.
Além disso, com algumas exceções, o teto orçamento imposto às equipes desde 2021 também diminuiu a demanda dos times por pilotos pagantes (muitos até com resultados bons na base por conseguirem sempre os melhores carros).
Outro ponto são os programas de desenvolvimento. Se eles vieram para ajudar a escalada de promessas do futuro, eles também começaram a diminuir o leque de opções no mercado. Isso acontece que muitos jovens com talento chegam ao final da escada dos campeonatos de base quando as equipes das quais estão ligados não têm vagas na F1.
E como cada time começou a ter seu próprio programa de formação, as outras oportunidades na categoria nem sempre estão acessíveis por questões comerciais ou puramente políticas. Assim, eles ficam relegados a papeis de pilotos de testes em um campeonato em que não se testa.
Ainda podemos apontar a questão de um certo conservadorismo das equipes ao apostar em jovens principalmente por conta das constantes mudanças de regulamento. Isso dificulta para um piloto inexperiente trabalhar no desenvolvimento dos carros com os engenheiros pela falta de base comparativa.
E não podemos deixar de lembrar o pouco número de vagas em comparação a outras eras da F1. Desde 2017, a categoria conta apenas 10 equipes no grid, com dois carros cada uma. Essa situação deve melhorar um pouco em 26, com a chegada do novo time Cadillac, que abrirá mais dois cockpits.
O que é um novato na F1
Para a FIA, um novato é um piloto que não tenha participado de mais de duas corridas da F1 em sua carreira. Ou seja, competidores que tenham até largado em uma ou duas provas por qualquer razão anteriormente (substituição pontual de um titular, participação promocional, entre outros) seguem com seu status de novato (ou rookie, como muitos gostam de usar seguindo a terminologia em inglês).
Essa separação existe para distinguir quais pilotos podem, por exemplo, se beneficiar da cota para novatos que a F1 impõe de um treino livre por carro durante a temporada, ou participar dos testes especiais para jovens.
Importante ressaltar ainda que participar apenas dos treinos livres não conta para esse cálculo. Ou seja, tem que largar na corrida para que uma presença em GP seja oficialmente computada na carreira do piloto.
Esse é o caso, por exemplo, de Jack Doohan, que participou do GP de Abu Dhabi de 2024 pela Alpine, mas chegará na primeira etapa de 2025, em Melbourne, ainda como novato pela equipe francesa.
Por outro lado, Oliver Bearman inicia no GP da Austrália de 2025 sua primeira temporada como titular, pela Haas, porém, já competiu em três corridas em 24: Arábia Saudita, pela Ferrari, Azerbaijão e Brasil, ambas pela Haas.
Ou seja, tecnicamente, o britânico não é mais um novato, apesar de em termos práticos ser difícil não o ver dessa forma quando ele alinhar em Albert Park em março de 2025. Até pelo fato de Bearman ter sempre pulado no cockpit para substituir titulares com algum impedimento de participar das corridas, e não por uma opção técnica das equipes.
Em 2025, o britânico terá uma chance como piloto de um carro da F1 de forma propriamente dita com contrato para toda a temporada.
Os ciclos de renovação da F1 nos últimos 10 anos
Vamos lembrar os estreantes de cada temporada da F1 desde 2015. Na lista, destacamos alguns pilotos que não começaram o ano como titulares, mas que chegaram a fazer suas estreias.
Para pilotos que se tornaram titulares após apenas situações pontuais (como substituição de titulares lesionados ou poucas provas), consideramos a estreia propriamente dita no ano em que assumiram realmente o posto de competidores principais.
Para não deixar dúvidas, colocamos ao lado dos nomes os casos de pilotos que já tinham participado de algum GP da F1 antes ou dos que estrearam durante a temporada.
2015
Felipe Nasr (Sauber)
Carlos Sainz (Toro Rosso)
Max Verstappen (Toro Rosso)
Alexander Rossi (Marussia)
Roberto Merhi (Marussia)
Will Stevens (Marussia) – meio da temporada
2016
Jolyon Palmer (Renault)
Esteban Ocon (Manor) – meio da temporada
Rio Haryanto (Manor)
Pascal Wehrlein (Manor)
2017
Pierre Gasly (Toro Rosso)
Brendon Hartley (Toro Rosso) – meio da temporada
Lance Stroll (Williams)
Stoffel Vandoorne (McLaren) – fez uma corrida como substituto em 2016
2018
Charles Leclerc (Sauber)
Sergey Sirotkin (Williams)
2019
Lando Norris (McLaren)
Antonio Giovinazzi (Alfa Romeo) – fez duas corridas como substituto em 2017
Alexander Albon (Toro Rosso)
George Russell (Williams)
2020
Nicholas Latifi (Williams)
Pietro Fittipaldi (Haas) – largou naquele ano em duas provas como substituto
2021
Nikita Mazepin (Haas)
Mick Schumacher (Haas)
Yuki Tsunoda (AlphaTuri)
2022
Zhou Guanyu (Alfa Romeo)
2023
Logan Sargeant (Williams)
Nyck de Vries (AlphaTauri) – fez 1 corrida como substituto em 2022
Liam Lawson (AlphaTauri) – largou naquele ano em cinco corridas como substituto
Oscar Piastri (McLaren)
2024
Franco Colapinto (Williams) – meio da temporada
Os novatos de 2025
Em 2025, a F1 terá diversos estreantes no grid, incluindo um em uma das principais equipes do campeonato: Andrea Kimi Antonelli na Mercedes. Além disso, a Red Bull ainda está promovendo para seu time principal Liam Lawson, que não é um calouro, porém, soma apenas 11 GPs disputados na carreira e ainda não tinha iniciado uma temporada da F1 como titular.
O movimento do grupo austríaco aconteceu tardiamente por conta do acordo para demissão de Sergio Pérez. Essa mudança ainda abriu uma vaga em seu segundo time, a RB, para o novato francês Isack Hadjar, vice-campeão da F2 em 2025.
E o campeão da F2? Os brasileiros sabem quem é e nunca estiveram tão empolgados. Gabriel Bortoleto será o primeiro piloto do país titular na F1 desde Felipe Massa em 2017 (Pietro Fittipaldi participou de duas provas em 2020 como substituto do lesionado Romain Grosjean).
O paulista irá competir pela Sauber no ano de transição da tradicional equipe Suíça que foi comprada pela Audi. A montadora ainda trabalha na reestruturação do time antes de rebatizá-lo com sua marca a partir de 2026, quando também estreará seus motores na F1.
Restam ainda dois nomes que, apesar de já contarem com alguma experiência na F1, podem ser considerados de alguma forma novatos por motivos que já explicamos acima neste artigo: o australiano Jack Doohan (se você reconhece o sobrenome, sim, ele é filho do pentacampeão mundial de MotoGP, Mick Doohan) e o britânico Oliver Bearman.
Estreantes em 2025
Andrea Kimi Antonelli (Mercedes)
Gabriel Bortoleto (Sauber)
Isack Hadjar (RB)
Jack Doohan (fez uma corrida em 2024)*
Oliver Bearman (fez três corridas em 2024)*
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