Cadillac, Andretti, GM… Entenda a história da nova equipe da F1
Depois de longas negociações e rejeições enquanto Michael Andretti liderava o projeto, General Motors e F1 anunciaram na última segunda-feira (25) um acordo inicial para que a montadora americana entre como uma operação oficial na categoria e se torne a 11ª equipe do grid do Mundial usando o nome Cadillac.
A última vez que uma equipe completamente nova entrou no grid da F1 (com uma estrutura e operação iniciadas do zero, e não compradas de outro time) foi em 2016 com a Haas. Antes disso, três esquadras embarcaram em 2010 (Virgin-Manor, Lotus-Caterham e HRT), todas com nenhum sucesso e vida curta. (
A Andretti é uma equipe que nasceu na Indy. Sua primeira encarnação começou como Forsythe Green Racing, de propriedade dos empresários Gerald Forsythe e Barry Green.
Em 2002, já entrando em sua fase final de carreira dentro das pistas, Michael Andretti, campeão da Indy de 1991 e com uma passagem pela F1 em 1993, comprou uma fatia da equipe, que passou a se chamar Andretti Green Racing.
Foi nesta fase que o brasileiro Tony Kanaan conquistou o título da categoria americana pelo time, em 2004. A equipe ainda ganhou os campeonatos de 2005 e 07 com Dan Wheldon e Dario Franchitti, respectivamente.
Ao final da temporada de 2009, agora já ex-piloto, Andretti comprou a totalidade da equipe, que passou a levar o nome de Andretti Autosport. Em 12, ganhou seu último campeonato, com Ryan Hunter-Reay. Nos últimos 21 anos, a Andretti é a única equipe a vencer títulos da Indy contra Ganassi e a Penske.
Paralelamente, a organização também conduziu um processo de participação em outras categorias. A princípio, em campeonatos nos EUA, como IMSA, Indy Lights (e suas sucessoras), mas logo expandiu para campeonatos baseados na Europa, como a A1GP, em 2008 e 09.
Desde 2014, a Andretti participa da Fórmula E, o que inclusive a fez iniciar uma operação na Europa, principalmente pela logística da categoria. Alguns anos depois, o time também entrou na Extreme E, outra categoria baseada no Velho Continente.
Em 2018, a Andretti também adquiriu uma participação em uma equipe na Supercars Australiana, aumentando o seu portifólio. Atualmente, o time participa de sete categorias diferentes.
Candidatura da Andretti na F1
Michael Andretti começou a trabalhar na entrada na F1 em 2021. A ideia inicial era de comprar a Sauber, que estava nas mãos de um fundo de investimento suíço. A aquisição chegou a ficar bem próxima, porém, diferenças sobre o controle na administração da equipe impediram que o negócio fosse fechado.
O ex-piloto chegou a olhar outras opções, como a Haas, porém, com o novo Pacto de Concórdia, o valor das equipes da F1 dispararam e muitos dos proprietários preferiram esperar um tempo para tentarem surfar na valorização de suas vagas no grid.
Andretti então deu uma cartada mais ousada. Se candidatou para se tornar uma equipe extra no grid. Já contamos aqui no Projeto Motor os detalhes da tentativa da Andretti de entrar na F1 e a concorrência da FIA em ela que superou outras interessadas.
A candidatura, no entanto, foi rejeitada pela F1, que alegou que mesmo com a entrada na GM como parceira, o pacote não trazia o valor necessário ao campeonato para valer a pena a abertura de uma 11ª vaga no grid.
Mesmo assim, a Andretti nunca tirou o pé de seu projeto e anunciou a compra de uma área na Inglaterra onde a sede europeia seria montada, além de diversas contratações para o corpo técnico, incluindo de Pat Symonds, que até o começo de 2024 trabalhava na própria F1.
Para mostrar maior comprometimento com o projeto, a GM também se inscreveu oficialmente como potencial fornecedora de unidades de potência da F1 a partir de 2028.
Mesmo assim, nada disso parecia convencer os chefes da F1 (que representam a proprietária dos direitos comerciais da categoria, a também americana Liberty) e as outras equipes.
Mudança de postura da F1 com o projeto Andretti Cadillac
Em setembro de 2024, uma mudança importante aconteceu na própria Andretti. Michael deixou de ser o sócio majoritário e administrador da companhia, que teve ações adquiridas pelo empresário Dan Towriss. O ex-piloto, porém, não está fora. A princípio, ele será apenas deslocado para um cargo “mais estratégico” dentro do grupo.
Além disso, a GM aumentou seu interesse no projeto e resolveu se comprometer ainda mais não só como patrocinadora e fornecedora de motores, mas com uma participação direta no desenvolvimento da equipe, que passa a ser uma operação de fábrica.
É bom lembrar que não só a F1 aumentou sua audiência nos EUA nos últimos anos e tem hoje três etapas no país, como a Ford, concorrente da GM, se tornou parceira da Red Bull no desenvolvimento do motor do time austríaco e terá o seu nome batizando a unidade de potência que estreia em 2026.
Assim, uma nova negociação com a F1 foi realizada e, desta vez, para a surpresa de muita gente, a categoria resolveu abrir as portas para a nova equipe, que não terá mais o nome Andretti, mas se chamará Cadillac, marca do grupo GM.
É preciso ressaltar que o anúncio foi de um acordo inicial. Ou seja, teoricamente, ainda existem amarrações a serem feitas e contratos a serem assinados. Porém, pela forma como tanto F1 como grupo GM anunciaram a entrada do novo time no grid, é difícil imaginar que algo dê errado neste momento.
Andretti não estará no nome da nova equipe, porém, a equipe americana é quem irá operacionalizar o time da F1. Ou seja, o projeto que já estava em curso, segue da mesma forma.
Além disso, a GM ainda anunciou que Mario Andretti, pai de Michael e último americano campeão da F1, em 1978, fará parte do conselho que irá administrar a equipe.
Ou seja, tudo indica que mesmo que tivesse restrições em abrir espaço para uma 11ª equipe no grid, o que em tese aumenta a divisão das receitas, a participação de Michael Andretti era algo que incomodava F1 e outros dirigentes. O motivo disso, claro, fica nos bastidores.
De qualquer maneira, ter uma nova equipe com o nome exclusivamente de uma montadora americana da F1, mesmo que usando a marca de subsidiária como da Cadillac, é algo enorme para a categoria. E isso, com certeza, contou pontos para a nova visão do negócio.
Próximos passos da nova equipe Cadillac
Uma confirmação formal e definitiva da entrada da Cadillac F1 Team ainda é necessária. Porém, a tudo indica que o projeto deve seguir adiante com o objetivo de estrear na temporada de 2026, quando o novo regulamento da F1 entra em vigor.
A Cadillac ainda não terá, porém, o seu próprio motor e já anunciou que irá procurar uma das atuais fornecedoras para se tornar cliente nas primeiras temporadas.
Mesmo assim, o desenvolvimento da unidade de potência americana já será iniciado, com prazo inicial de estreia em 2028. Essa participação como construtora de motores, é bom destacar, foi importante para o acordo com a F1 para mostrar comprometimento da empresa.
De qualquer forma, com pouco mais de um ano para a estreia da nova equipe, não deve demorar para vermos novas notícias sobre a contratação de pessoal, aumento de capacidade da fábrica e, em alguns meses, até mesmo de pilotos.
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