(Foto: Divulgação/Rodin Cars)

As equipes preteridas no processo da FIA que aprovou a Andretti na F1

Na última segunda-feira (02), a FIA anunciou que aprovou a Andretti para se tornar a 11ª equipe do grid da F1. Desta forma, o time americano passa agora para a próxima fase do processo, que talvez seja a mais complicada, pois precisa convencer a FOM (administradora dos direitos comerciais comandada pelo Grupo Liberty).

As outras equipes da F1 não têm um voto formal, porém, naturalmente serão consultadas pela F1. E as declarações públicas mais recentes não são muito favoráveis a Andretti, já que dirigentes como Toto Wolff, da Mercedes, Christian Horner, da Red Bull, e Fred Vasseur, da Ferrari, além do próprio CEO da F1, Stefano Domenicali, têm levantado sérias dúvidas sobre a possibilidade de entrada de uma nova competidora no grid.

Com o anúncio da FIA feito, o processo deve continuar nas próximas semanas (ou meses) entre Andretti e F1. Mas outra coisa que chama atenção nesta história toda é que, segundo o comunicado da entidade, após diversas demonstrações de interesse na primeira fase, um total de quatro candidaturas foram oficializadas para a fase dois, em que toda a documentação foi analisada.

Destas propostas formais de pedidos de inscrição, apenas a organização do ex-piloto americano, que conta com parceira da Cadillac (marca do grupo GM), foi aprovada. Assim, restariam outros três times que tentaram entrar na categoria, mas que foram preteridos.

Como foi o processo da FIA

A concorrência realizada pela FIA não teve divulgação de informações ao público. Tudo foi feito com documentação confidencial e muita conversa de bastidor. Por isso, nem mesmo os concorrentes sabem direito os motivos para terem ou não sido escolhidos.

Em seu comunicado, a FIA explicou que analisou a documentação enviada por cada um dos candidatos e realizou uma due diligence em que os aplicantes precisaram comprovar suas capacidades esportiva, técnica, de encontrar e manter financiamento, além da expertise da equipe e de seus recursos humanos.

A FIA afirma que também incluiu na concorrência que fossem apresentados os planos de sustentabilidade que precisavam estar em linha com o objetivo da F1 zerar sua pegada de emissão de carbono a partir de 2030.

A FIA não divulgou os nomes das equipes participantes do processo, por isso, é difícil saber quem realmente eram os concorrentes que estariam dispostos a entrar a partir de 2025 na F1 pagando a taxa de diluição de U$ 200 milhões prevista no atual Pacto de Concórdia.

Por outro lado, além da Andretti há mais de um ano, outras três empresas anunciaram publicamente que tinham se candidatado. Não existiu em nenhum momento uma confirmação da oficialização junto à FIA dessas campanhas, mas, diante da falta de maior transparência do processo todo, nos resta concluir que essas três equipes seriam justamente as citadas pela entidade a em seu comunicado.

Vamos a elas:

Hitech GP

Fundada em 2002 pelos engenheiros Dennis Rushen (que foi chefe de Ayrton Senna na F-Ford em 1982 em sua equipe Rushen) e David Hayle, a Hitech é uma equipe britânica com sede na região de Silverstone. Em 2015, o ex-piloto Oliver Oakes entraria na sociedade no lugar de Rushen.  

O time nasceu para competir nas categorias de base, iniciando sua escalada na F3 Britânica. Depois, aos poucos, foi crescendo e subindo a escada dos campeonatos de formação. Entre 2009 e 17, inclusive, chegou a ter uma operação na F-Sul-americana e F3 Brasil. Em 2005, fez uma parceria para ajudar a operação da Piquet Sports na GP2.

A equipe teve uma passagem pela F3 Europeia (atual Freca), onde chegou a ter como piloto George Russell, e hoje está estabelecida nas duas principais divisões do caminho F1: a FIA F3 e a F2. Ela também participa da F-Regional do Oriente Médio, F4 dos Emirados Árabes, GB3 e F4 Britânica.

A Hitech GP é uma equipe estabelicida nas categorias de base da FIA como F3 e F2
A Hitech GP é uma equipe estabelicida nas categorias de base da FIA como F3 e F2 (Foto: Reprodução/X Hitech GP)

Em 2016, o time tinha o russo Nikita Mazepin em um de seus cockpits na Freca e assim carregava como seu principal patrocinador a empresa de fertilizantes Uralkali, de propriedade do pai do piloto, Dmitry Mazepin. O empresário, inclusive, comprou uma participação na equipe que foi crescendo com o passar dos anos e chegou a 75% ao final de 2021.

Só que com a invasão da Ucrânica pela Rússia em março de 2022, Mazepin, que viu seu filho perder o lugar na F1 e a equipe Haas ainda romper o contrato de patrocínio com Uralkali, também passou a ser alvo de sanções por parte do governo britânico por conta de sua ligação próxima com o presidente russo, Vladimir Putin.

Oakes formou uma nova empresa, a Hitech Global Holdings, para tomar o controle da equipe de F1 apenas três dias depois que as sanções foram impostas pelos britânicos e pela União Europeia contra a família Mazepin.

No início de 2023, quando a FIA oficializou que iria abrir um processo formal para analisar candidaturas para uma vaga no grid na F1, a Hitech foi uma das primeiras a se prontificar. Não só começou a trabalhar em um novo financiamento para a empreitada, como inclusive no aumento de sua infra-estrutura e na contratação de técnicos.

Em junho, o time anunciou que o empresário cazaque Vladimir Kim estava adquirindo 25% da equipe. No mesmo comunicado, ainda confirmou que tinha se candidatado à vaga na F1 no processo da FIA. A expectativa era de que com a nova injeção de recursos, além das obras que já estavam em curso em sua sede para aumento de capacidade, ela pudesse convencer a entidade de que tinha capacidade de competir no Mundial, além de manter seus times na F3 e F2.

Mas o histórico em competições e o novo investidor não foram o bastante. E por enquanto, a Hitech seguirá como uma equipe de categorias de base até que apresente novos planos.

LKY Sunz

A candidata tinha a pretensão de aproveitar a grande quantidade de provas asiáticas no atual calendário da F1 (serão sete em 2024) para se tornar a única equipe com sede no continente do atual grid.

O projeto já vinha de alguns anos. O principal nome da empreitada é o engenheiro francês Benjamin Durand, que teve passagem como chefe de equipe em diversos times do WEC, como a JMB Racing, a SMP e a BR Engineering.

Em 2019, ele formou a empresa Panthera Team Asia F1 Team e começou a fazer campanha por um lugar na F1. Mas a FIA não abriu na época uma concorrência pela vaga e, com a pandemia no ano seguinte, o projeto parecia que iria naufragar.

Com o processo para um lugar no grid oficialmente aberto em 2023, Durand voltou a correr atrás de sua ideia, agora sob o nome de LKY Sunz. Em maio, ele anunciou que estava se candidatando e que além de já ter levantado mais de U$ 1,5 bilhão com investidores para o projeto de uma equipe asiática, ainda concordava em pagar até três vez o valor da taxa de diluição às outras equipes, o que geraria uma conta de U$ 600 milhões.

O problema é que a LKY Sunz é um projeto totalmente novo, sem nenhum histórico dentro ou fora do automobilismo, mesmo com toda a experiência de seu CEO. O próprio Durand admitiu em várias entrevistas que seu principal argumento pela entrada no grid era o da diversidade de montar uma equipe na Ásia. Em seu site oficial, a empresa ainda afirma que teria instalações na África.

Assim, o time também acabou não conseguindo comprovar ter os requisitos mínimos exigidos pela FIA.

Rodin Cars

Para quem acompanha as categorias de base, o nome Rodin começou a chamar a atenção nos últimos dois anos. Em 2022, a empresa começou a patrocinar a Carlin, tradicional equipe britânica de divisões menores que compete na F2, F3, GB3, F4 Britânica e Espanhola, além da F1 Academy. Em janeiro de 2023, a Rodin comprou uma fatia majoritária do time, que foi rebatizado de Rodin Carlin.  

Mas afinal, quem é a Rodin? É uma pequena fabricante artesanal neozelandesa de carros de corrida para track day. Ela foi fundada em 1999 pelo empresário australiano David Dicker, que construiu a estrutura e desenvolveu seus designs aos poucos, até que em 2016 finalmente estabeleceu sua operação propriamente dita.

O seu nome é uma referência ao escultor francês Auguste Rodin, que, entre várias obras importantes, tem como uma das mais conhecidas “O Pensador”. Segundo o site da empresa, “pensar criticamente sobre um problema para encontrar uma solução” é um dos principais motes de vida de Dicker.

A Rodin possui dois modelos, o FZed, um monoposto que, segundo o site da empresa, chega próximo a tempos de volta de carros de F1, e o FZero, um modelo ao estilo esporte-protótipo que pela ficha técnica da companhia alcança os 360 Km/h. Em 2022, a empresa fez investimentos em uma nova fábrica, em um galpão de 2.500 m².

Garagem e pista particular da Rodin na Ilha Sul da Nova Zelândia
Garagem e pista particular da Rodin na Ilha Sul da Nova Zelândia (Foto: Diivulgação/Rodin Cars)

Os compradores dos carros podem deixar seus modelos com a Rodin e reservar datas para andar na pista particular da companhia, na região de Canterbury, na Ilha Sul da Nova Zelândia, com três opções de traçado, sendo o maior de 2,4 Km.

A Rodin também oferece um programa de treinamento para os proprietários dos carros ou para pilotos que querem desenvolver suas habilidades, utilizando inclusive um carro de F3 atual adquirido pela empresa. Dentro de sua área, ela também possui um kartódromo para os jovens que estão dando os primeiros passos no kart.

Além dos pilotos ligados a Carlin que ela herdou na aquisição do time, a empresa também apoia diversas promessas neozelandesas e australianas, sendo o mais famoso, Liam Lawson, que recentemente fez sua estreia na F1 pela AlphaTauri.

Diferente da Andretti e Hitech, a Rodin preferiu fazer menos barulho sobre a sua candidatura à equipe de F1, trabalhando nos bastidores e apostando na fortuna de seu proprietário, além da teórica expertise em engenharia e desenvolvimento de materiais para a fabricação de seus atuais modelos.

Ao ser comunicada pela FIA de que teve sua candidatura rejeitada, no último 27 de setembro, a companhia publicou um comunicado em que diz que respeita aceita o resultado, porém, que queria trazer a público algumas informações e argumentos em que utilizou em sua candidatura por considerar “serem de interesse público para informar a comunidade da F1”.

Seis pontos foram destacados:

– Diversidade geográfica, pois a Rodin seria a única equipe do hemisfério sul;
– Vaga garantida para uma pilota mulher, sendo que se nenhuma com Superlicença estivesse disponível, ela seria pilota de testes (Jamie Chadwick, inclusive, testou com um F3 e um FZed na pista da empresa);
– Capacidade já instalada para fabricação de carros e até motores de corrida em sua atual fábrica;
– Uma negociação já avançada para colaboração técnica com a Ferrari;
– Programa de formação de pilotos estabelecido através da aquisição da Carlin e de seus patrocínios;
– Capital financeiro garantido graças ao patrimônio pessoal do proprietário, David Dicker.

No final de seu comunicado, a Rodin desejou sorte à Andretti e adiantou que seguirá trabalhando em seu projeto no automobilismo.

 Jamie Chadwick esteve na sede da Rodin na Nova Zelândia e testou os carros da marca na pista particular da empresa
Jamie Chadwick esteve na sede da Rodin na Nova Zelândia e testou os carros da marca na pista particular da empresa (Foto: Divulgação/Rodin Cars)

Bônus: Fórmula Equal

Como explicamos acima, o processo da FIA não é exatamente público e é difícil saber quem avançou mais ou menos. Porém, sabe-se que o empresário Craig Pollock foi mais um dos que cogitaram a tentativa de entrada na F1, porém, segundo relatos, seu projeto que levava o nome de Fórmula Equal não chegou a passar da primeira fase, de demonstração de interesse.

Pollock é conhecido por suas empreitadas meio malucas no automobilismo. Durante a década de 90, ele estreitou sua relação com o esporte a motor após um reencontro com o amigo de escola Jacques Villeneuve, que estava perseguindo uma carreira de piloto profissional como a de seu pai, Gilles.  O britânico se tornou empresário do canadense e o acompanhou durante toda a carreira, inclusive no período dos títulos das 500 Milhas de Indianápolis e da Indy, em 1995, e da F1, em 1997.

Alguns meses antes do início da temporada de 1998 da F1, ele comprou a Tyrrell, que passava por sérios problemas financeiros, e administrou o time durante um ano. A ideia, porém, era garantir a vaga e alguns espólios da tradicional equipe.

Isso porque, paralelamente, Pollock costurou uma aliança com a fabricante de chassi Reynard e a tabagista British American Tobacco para montar uma equipe completamente nova em cima das cinzas da Tyrrell: a British American Racing, ou simplesmente BAR. E logo para a primeira temporada, ele contratou seu amigo Villeneuve como um dos pilotos.

O projeto nunca decolou como Pollock imaginava e a verdade é que os primeiros sucessos aconteceram apenas depois de sua saída do time, em 2002. A BAR seria vendida para Honda em 2006 (depois ainda se tornou a Brawn em 2009, e a atual Mercedes a partir de 2010).

Nos anos seguintes, o empresário teve uma passagem rápida como sócio da equipe KV da Indy em 2003. Em 2011, ele anunciou a criação da Pure, empresa com objetivo de se tornar uma fabricante independente de motores para a F1. O projeto, no entanto, nunca saiu do papel.

Em março de 2023, Pollock divulgou que submeteu o interesse em participar da concorrência da FIA para a entrada com uma equipe na F1 com a Fórmula Equal. Seu conceito era de um time formado por 50% de homens e mulheres considerando todas as posições.

A falta de recursos financeiros, técnicos e de infraestrutura prévia teria sido um dos fatores para fazer Pollock sequer passar para segunda fase do processo da FIA.

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