Mario e Michael Andretti
(Foto: Andretti Autosport)

Como funciona a candidatura da Andretti e Cadillac para a F1

Mesmo enfrentando muita má vontade por parte da F1 e duas atuais participantes de abrirem uma nova vaga no grid, Michael Andretti, que andou na categoria como piloto em 1993, parece que não vai desistir da empreitada. E neste dia 05 de janeiro fez anúncio que causou um enorme barulho na categoria.

Andretti trouxe para a sua candidatura de nova equipe a General Motors, uma das maiores montadoras do mercado americano. A empresa vai utilizar a sua marca Cadillac na parceria com a Andretti na busca por uma vaga na F1.

É importante destacar que, apesar do anúncio no último dia 02 do presidente da FIA que a entidade iria estudar a possibilidade de receber demonstrações oficiais de interesse na entrada na F1, ainda não existe um processo formal aberto. Assim, A Andretti Cadillac precisa esperar a boa vontade da entidade e da F1 para oficialmente fazer sua requisição.

Desde 2022, Andretti vem mostrando o seu interesse em entrar na F1 de forma bastante pública. Isso aconteceu principalmente depois dele não conseguir concretizar a compra da Sauber, que compete atualmente sob a marca da Alfa Romeo, em 2021. A equipe se tornou ao final de 2022 a parceira oficial da Audi, que irá ingressar no Mundial em 2026, adquirindo ainda ações da empresa.

Sem a possibilidade de comprar outro time, ele e seu pai, o campeão mundial de 1978 Mario Andretti, começaram uma campanha para se tornarem o 11º time do grid da F1. Andretti inclusive já disse diversas vezes que aceita pagar a taxa de U$ 200 milhões de antidiluição prevista no novo Pacto de Concórdia.

O pagamento realizado às outras equipes é uma forma de compensar a teórica perda de receitas criada pela entrada de um novo time, que passa a dividir a verba de premiações e ganhos comerciais distribuida pela F1 em cima de seus lucros.

Mesmo assim, dirigentes dos outros times, como Toto Wolff, da Mercedes, dizem que para ser aceita, uma nova equipe precisaria provar que pode trazer mais valor à F1. A questão imposta para a entrada de um participante não deixa de ser um julgamento bastante subjetivo e de difícil argumentação para o pleiteante e uma forma de proteção para os atuais competidores que não querem dividir suas atuais receitas com mais um pedaço.

Andretti e Cadillac, empresa do grupo GM, se juntaram para tentarem entrar na F1
Andretti e Cadillac, empresa do grupo GM, se juntaram para tentarem entrar na F1

Por outro lado, Andretti mostrou agora que não ficou dormindo nem esperando que os possíveis futuros rivais resolvessem mostrar alguma empatia por seu projeto. Ele foi atrás do que a F1 mais deseja e trabalha nos últimos tempos: uma nova montadora. E trouxe algo além, que é uma empresa americana do tamanho da GM.

A candidatura da Andretti Cadillac sem dúvida nenhuma ganhou força, porém, o caminho ainda é longo. O novo time precisará demonstrar nos próximos meses não só sua musculatura financeira e técnica como – e principalmente – política para quebrar as barreiras que seguirão existindo para sua entrada como concorrente extra no grid da F1.

A estrutura da Andretti

Para quem se mantém mais preso ao mundo da F1, pode chamar a atenção o sobrenome Andretti tentando entrar na categoria fazendo tanto barulho. A equipe, no entanto, é muito maior do que muita gente pode imaginar.

A Andretti está hoje presente em nada menos do que sete categorias diferentes de diversos países e em plataformas internacionais. São elas a Indy, Indy NXT (antiga Lights), Fórmula E, Extreme E, IMSA, Super Cars Australiana e a mexicana Super Copa. Não é pouca coisa.

E para comportar tudo isso, a empresa está construindo uma nova sede nas cercanias de Indianápolis, próxima ao aeroporto, com 175 mil metros² que deverá ficar pronta em 2025 e, segundo comunicado oficial, irá criar 500 novos empregos na região.

Nova sede da Andretti está sendo construída em Indianápolis (Imagem: Andretti Autosport)
Nova sede da Andretti está sendo construída em Indianápolis (Imagem: Andretti Autosport)

Além das operações diárias das equipes da Indy, Indy NXT e IMSA, as novas instalações também concentrarão o departamento comercial dos times de Fórmula E e Extreme E, e o centro avançado de pesquisa e desenvolvimento da Andretti Technologies.

E é onde o desenvolvimento da nova equipe de F1 deve ficar concentrado. A Andretti já tem hoje uma segunda estrutura na Inglaterra, onde ficam os times de Fórmula E e Extreme E, e que segundo os planos revelados nos últimos meses, deve ser ampliada para se tornar uma espécie de base satélite e logística para a nova operação da F1.

Como irá funcionar a parceria com GM/Cadillac

Se apenas o nome Andretti, que além de toda sua tradição no automobilismo ainda traz hoje uma organização bastante consolidada no automobilismo internacional, não comoveu os corações dos dirigentes da F1, o nome GM deve sem dúvida nenhuma aumentar o apelo da candidatura.

A GM escolheu entrar na F1 com a Cadillac. Por um lado, não deixa de ser curioso pelo fato da marca não ser global, com operações comerciais focadas basicamente nos Estados Unidos e China.

Nenhum plano para mudar esse cenário foi apresentado nos últimos tempos, mas vale destacar, por outro lado, que a Cadillac já vem participando da IMSA (o campeonato americano de Endurance) nas últimas temporadas e anunciou que irá competir no WEC (o Mundial de Endurance) na classe principal de protótipos híbridos a partir de 2023, o que inclui as 24 Horas de Le Mans. Curiosamente, a operação da equipe neste campeonato é feita por uma rival da Andretti, a Chip Ganassi.

Protótipo Cadillac V-LMDh vai competir na IMSA e no WEC (Richard Prince/Cadillac)

De qualquer forma, quando pensamos na entrada de uma nova montadora na F1, logo traduzimos em uma nova fornecedora de motores. Mas isso, pelo menos a princípio, não deve acontecer.

O prazo para registro da FIA para novas fabricantes das unidades de potência de 2026 já se encerrou. Difícil imaginar, porém, que tanto a entidade como a F1 dariam suas costas para uma nova participante do calibre da GM/Cadillac, mas a própria companhia americana entende que precisa entrar aos poucos no Mundial.

Segundo a explicação concedida na apresentação da parceria, a ideia é iniciar o projeto como uma colaboração com outra montadora para o início das operações. Um exemplo seria comprar motores da Renault e trocar o nome comercialmente para Cadillac. Não seria algo novo na F1. Entre 2016 e 18, por exemplo, a empresa TAG rebatizou os motores Renault utilizados pela equipe Red Bull.

No evento realizado nos Estados Unidos, o presidente de GM, Mark Reuss, disse que a empresa até já assinou um contrato de colaboração com um atual fabricante de unidades de potência da F1, sem destacar se tornar fabricante oficial em um segundo momento.

“Assinamos com uma fornecedora de unidade de potência para começar e depois, enquanto evoluirmos, vamos trazer nossa expertise para criar coisas para o futuro também”, disse Reuss.

O nome da parceira técnica não foi revelado, mas existem duas possibilidades mais fortes. A primeira é a Renault, com quem a Andretti já tinha assinado um contrato antes do anúncio de parceria com a Cadillac. A segunda, a Honda.

A marca japonesa anunciou em 2021 que iria deixar a F1. Isso motivou inclusive que a sua parceira oficial Red Bull iniciasse o projeto de fabricação interna de seus propulsores, partindo para a construção de uma nova infraestrutura específica em sua sede e uma série de contratações de engenheiros para trabalhar no departamento. Além disso, foram adquiridos os direitos intelectuais sobre o atual motor da Honda para ser utilizado como base de desenvolvimento.

Só que parece que nos últimos meses a opinião dentro da Honda sobre o futuro de sua operação na F1 mudou. O time até fechou um novo acordo comercial para voltar a dar nome para os motores que equipam os carros da Red Bull nos próximos anos e de forma surpreendente fez o registro de interesse em ser fornecedora das novas unidades de potência que passarão a ser utilizadas em 2026.

Sendo assim, uma parceria entre GM/Cadillac e Honda ajudaria a financiar o novo projeto e até se tornar uma colaboração técnica, mesmo que dentro da pista cada uma resolvesse competir de um lado.

Mas aí, claro, dependeria do que acontecer com o projeto nos primeiros anos e até questões como retorno de mercado e economia mundial, argumentos sempre utilizados quando montadoras resolvem entrar ou sair do automobilismo.

Resta agora saber se, neste formato, a entrada da Andretti-Cadillac agrada FIA, F1 e atuais equipes.  

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