(Foto: Joe Skibinski/IndyCar)

Andretti na F1: afinal o que se passa com a candidatura?

Na reta final do ano de 2023, a F1 mergulha em um debate intenso em seus bastidores: se vai aceitar ou não, a entrada de um novo time no grid. Já houve até uma pré-seleção para definir qual seria esta 11ª equipe: a americana Andretti, que traria junto uma marca de peso como a Cadillac.

Mesmo assim, ainda existe muita relutância dentro do paddock, apesar de a F1 ter aumentado de forma significativa a sua atuação nos Estados Unidos. Discussões políticas, financeiras, e até um acordo assinado durante a pandemia, em 2020, têm dado o que falar.

A família Andretti tem um enorme peso e tradição no mundo das corridas. Mario Andretti foi uma das maiores lendas do automobilismo americano, com o título da F1, em 78, e múltiplas conquistas na Indy. Já o seu filho, Michael, também se destacou na Indy, embora sua própria passagem pela F1, em 93, não tenha sido bem-sucedida, como já contamos aqui no Projeto Motor.

Depois de se aposentar das pistas, Michael Andretti iniciou uma vitoriosa empreitada como chefe de equipe, com a Andretti Autosport, que brilhou não só em pistas americanas, mas por todo o mundo. Só para ilustrar o que estamos falando, atualmente o time está em nada menos do que sete categorias espalhadas pelo globo.

Mesmo assim, Andretti ficou com a sensação de negócios inacabados com a F1. Nos últimos anos, ele buscou fortemente entrar com sua própria equipe na categoria. Primeiro, tentou comprar a Sauber, mas o negócio não foi fechado, já que o time suíço acabou sendo adquirido pela Audi.

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A candidatura da Andretti

Sem sucesso na negociação com a Sauber, Michael Andretti partiu para uma abordagem mais agressiva. Em vez de adquirir alguma das equipes já existentes, o americano iniciou um plano de criar uma escuderia, o que aumentaria o grid da F1 para 11 equipes e 22 carros.

Em janeiro de 2023, Andretti anunciou que iniciaria a sua busca por uma vaga no Mundial em parceria com a gigante General Motors, por meio da marca da Cadillac. O projeto também inclui a construção em uma nova sede, nos arredores de Indianápolis, além de contar com uma segunda estrutura na Inglaterra, que serviria como uma base satélite e logística para a operação de F1.

A ideia da Andretti-Cadillac seria em ingressar no grid nos próximos anos, entre 2025 e 2026, e com pelo menos um piloto americano. E a janela de oportunidade se abriu no mês de fevereiro.

A FIA abriu um processo de candidatura, em busca de potenciais novos times com capacidade técnica, esportiva e financeira, além de experiente em recursos humanos, e alinhada com a visão da entidade nas questões de sustentabilidade, impacto social, diversidade e inclusão.

Quatro equipes avançaram, incluindo a Andretti. Por fim, em outubro, a FIA anunciou que a candidatura da Andretti foi a única que recebeu a aprovação final, e que, agora, a sua candidatura será repassada para a FOM para que sejam discutidas as questões comerciais.

A difícil negociação pela frente

No papel, o projeto da nova equipe soa como um plano bom demais para ser recusado. Uma forte estrutura, um nome tradicional como o Andretti, e uma marca de peso como a Cadillac – e isso em um contexto de uma F1 que se expande mais e mais nos Estados Unidos, com três corridas confirmadas no calendário. Mas, como adiantamos, a iniciativa não tem tido tanta aceitação no meio da F1.

De uma forma bem simplificada, o impasse gira em torno da questão financeira. Com uma 11ª escuderia no grid, todos os lucros e receita da F1 não seriam divididos por 10 equipes, e sim por 11, o que resultaria na diminuição dos ganhos de cada uma das que já estão no Mundial.

Para compensar isso, foi feito um adendo no Pacto de Concórdia em 2020. A fim de proteger as equipes financeiramente, foi estabelecido que qualquer nova candidata a entrar no grid deveria pagar uma taxa de US$ 200 milhões, ou seja, algo para reduzir esta perda de dinheiro das outras equipes. E a Andretti concordou em fazer isso.

Acontece que o valor de US$ 200 milhões foi definido em 2020, durante a pandemia. As equipes acreditam que hoje, a F1 como um todo ficou muito mais valorizada, então, a tal taxa surtir algum efeito, ela também deveria ser significativamente mais alta.

Ou seja, no fim das contas, o argumento gira em torno do seguinte ponto: o quanto esta nova equipe poderia agregar mais valor à F1, para que aí mais dinheiro seja acrescentado ao bolo e que todo mundo saísse ganhando? É aí que se entra numa discussão um tanto quanto subjetiva da coisa.

A maioria das equipes, e até o diretor executivo da F1, Stefano Domenicali, não estão totalmente convencidos de que a Andretti traria um ganho tão óbvio à categoria. A parceria com a Cadillac salta como um ponto positivo, pois representaria a chegada de uma marca que já tem aumentado a sua participação no endurance.

Mas, quando se pensa na entrada de uma nova montadora na F1, logo isso se traduz a uma possível nova fornecedora de motores, só que isso a princípio não deve acontecer. A ideia seria iniciar o projeto com uma outra fabricante, e até um pré-acordo chegou a ser feito com a Alpine, mas este já expirou.

De todo modo, a ideia era que este motor fosse rebatizado de Cadillac, em uma movimentação mais comercial, que na prática acaba sendo menos atrativa para a F1 do que se fosse com uma nova fabricante.

Ao menos publicamente, somente Alpine e McLaren expressaram o apoio à Andretti entre as equipes. Agora, cabe aos americanos costurar a questão com todos os outros times, para enfim se concretizar o sonho de chegar à F1.

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