Gabriel Bortoleto celebra vitória na F2
(Foto: James Gasperotti/KTF Sports)

Se liga Bortoleto: como os últimos brasileiros estrearam na F1

O Brasil voltará a ter um piloto titular na F1 na temporada de 2025. O paulista Gabriel Bortoleto, de 20 anos, fará sua estreia na categoria competindo pela equipe Sauber.

Será a primeira vez, depois de sete temporadas, que o país terá um representante em tempo integral na F1. E, neste novo capítulo de sua carreira, Bortoleto enfrentará um cenário de muitos desafios, mas também de oportunidades.

E isso fez o Projeto Motor levantar a seguinte pergunta: qual foi o contexto da estreia dos últimos brasileiros que competiram na F1? Relembraremos caso a caso, desde o último estreante brasileiro que chegou a vencer corridas na categoria, e indo até os nomes mais recentes. 

Vamos começar com Felipe Massa, o último estreante do país que chegou a vencer corridas e seguir por todos que vieram depois dele até chegarmos a Bortoleto, mais novo integrante da rica história na F1.

Versão em vídeo deste artigo

1 – Felipe Massa (2002)

Felipe Massa era um nome badalado nas pistas europeias na virada para o século XXI. Ele havia emendado títulos nas F-Renault Italiana e Europeia, em 2000, e se sagrou campeão da F3000 Europeia no ano seguinte. Isso chamou atenção da poderosa Ferrari, que assinou com o jovem brasileiro um contrato de longa duração.

Mais do que isso, as conquistas foram o bilhete de entrada para Massa na F1. O jovem de 20 anos estrearia no Mundial pela Sauber, em 2002, o que era considerada uma grande oportunidade.

Vale lembrar que a Sauber vinha da melhor temporada de sua história, quando foi a quarta colocada entre os construtores em 2001, e havia projetado o estreante Kimi Raikkonen para uma equipe de ponta, indo para a McLaren em 2002. 

Massa, que assumiu o cockpit que antes era do finlandês, tinha como meta realista marcar pontos, ganhar experiência e fincar sua bandeira como promessa da F1. E ele até teve momentos de grande velocidade: marcou pontos em três corridas, em uma época em que só os seis primeiros pontuavam, e teve um quinto lugar em Barcelona como melhor resultado.

Porém, o ano também foi marcado por diversos erros e acidentes, o que inclusive fez a Sauber colocá-lo na geladeira no GP dos Estados Unidos. 

Depois de ser batido pelo parceiro, Nick Heidfeld, Massa foi dispensado da Sauber ao término da temporada, e precisou passar o ano de 2003 como piloto de testes da Ferrari antes de ter uma outra chance como titular.

O resto é história: Massa voltou à Sauber em 2004, virou titular da Ferrari em 2006, e se tornou o último brasileiro a entrar para o rol de vencedores na F1.

2 – Antonio Pizzonia (2003)

Antonio Pizzonia foi outro piloto que chamou a atenção por conta das várias conquistas na base, especialmente na Inglaterra, com destaque para os títulos da F-Renault e F3 Britânica.

Isso o colocou no radar da F1 – depois de ter experiências com Arrows e Benetton, o amazonense se tornou piloto de testes da Williams, onde acumulou mais de 15 mil quilômetros de bagagem na pista.

Mas foi em 2003 que Pizzonia enfim teve sua chance de estrear na F1. Ele assinou contrato com a Jaguar, e formaria dupla com Mark Webber, outro jovem promissor que buscava ganhar espaço.

Acontece que a Jaguar foi uma equipe que nunca emplacou de fato. Apesar do forte nome e do investimento na época feito pela Ford, o time tinha sérios problemas de gestão, e era sempre presença constante do meio para o fim do pelotão. 

Dentro da pista, Pizzonia foi amplamente superado por Webber, e não conseguiu terminar uma corrida na zona de pontuação, sendo que naquele ano o regulamento passava a premiar com pontos os oito primeiros colocados.

Para piorar, Pizzonia e a chefia da Jaguar nunca se entenderam: o brasileiro tinha certeza de que contava com um tratamento inferior ao que era dado a Webber, e reforçou que se sentia desrespeitado não só como piloto, mas também como ser humano.

A equipe, por sua vez, negava esta hipótese, e garantia que dava tratamento idêntico aos dois pilotos. Já outros eventos, como quando Pizzonia capotou um carro de rua em uma ação de mídia e com um jornalista no banco do passageiro, também não ajudaram em nada.

Após 11 corridas disputadas pela Jaguar, Pizzonia foi demitido, abrindo espaço para a chegada de Justin Wilson. Ele foi um dos raros casos de quem teve uma segunda chance, disputando mais nove corridas pela Williams entre 2004 e 2005.

Porém, Pizzonia nunca conseguiu se reconstruir sua reputação depois da passagem malsucedida pela Jaguar, o que fez com que sua carreira na F1 tenha durado muito menos do que poderia.

3 – Cristiano da Matta (2003)

Cristiano da Matta chegou à F1 também em 2003, embalado pelo dominante título da CART no ano anterior. Como o mineiro tinha uma estreita relação com a Toyota nos Estados Unidos, ele foi escolhido para se juntar ao time da montadora japonesa na F1. 

Com isso, Da Matta trazia um perfil diferente para um estreante: além de ter construído o seu caminho nas pistas americanas, e não nas categorias de base europeias, ele também faria seu primeiro GP aos 29 anos, idade considerada avançada para um novato pelos padrões da F1.

Já a Toyota ainda tentava fazer a sua equipe na F1 emplacar. 2003 seria a segunda temporada de existência do time, quando ela apostaria em uma dupla nova, com o estreante Da Matta ao lado do veterano Olivier Panis. Assim, para o brasileiro, o plano era se estabilizar na F1, e ajudar a Toyota crescer na relação de forças.

O primeiro ano teve seus pontos positivos. Da Matta marcou mais pontos do que o parceiro Panis, se destacou ao liderar por 17 voltas em Silverstone, e conseguiu um forte terceiro lugar no grid no encerramento da temporada, em Suzuka. Foi um bom começo, mas tudo se complicou dali em diante.

Para 2004, a Toyota trouxe um novo diretor técnico, Mike Gascoyne, com quem Da Matta teve divergências de visão sobre como desenvolver o carro. Já a equipe não conseguiu obter o salto de competitividade que esperava em 2004. Assim, a relação de Da Matta com a Toyota se desgastou, e o piloto foi dispensado com a temporada ainda em andamento.

4 – Nelsinho Piquet (2008)

O caminho de Nelsinho Piquet até chegar à F1 foi cuidadosamente planejado, mas ironicamente as coisas saíram dos trilhos exatamente quando o piloto garantiu sua vaga no grid.

O filho de Nelson Piquet se destacou com o título da F3 Britânica, em 2004, e o vice-campeonato da GP2 duas temporadas mais tarde. Assim, Piquet assinou contrato com a Renault, equipe que havia conquistado títulos consecutivos em 2005 e 2006, e passaria a ter a sua carreira gerenciada por Flavio Briatore. 

O plano era que Nelsinho fosse piloto de testes da Renault em 2007, para estrear na F1 como titular em 2008. Só que algumas coisas aconteceram no meio do caminho, o que também afetou a circunstância em que Nelsinho chegaria ao Mundial. 

Primeiro, a Renault perdeu competitividade depois de 2006, quando deixou de contar com os pneus Michelin, e passou a ser uma força secundária. Além disso, com o desentendimento entre Fernando Alonso e a McLaren, em 2007, o espanhol decidiu retornar para a Renault em 2008.

Ou seja, se Nelsinho planejava contar com um carro de ponta, de olho até em ser a principal referência dentro do time, na realidade ele teria um carro do pelotão intermediário, e com um Fernando Alonso mordido ao seu lado.

Nelsinho conseguiu brilhar em raras vezes na F1, com um pódio no GP da Alemanha, um quarto lugar no Japão, e outras três corridas nos pontos. Porém, a falta de resultados de uma forma geral culminou em sua demissão durante a temporada seguinte, em 2009.

Pouco depois, ele assumiu ter batido de propósito durante o GP de Singapura de 2008, para ajudar a estratégia do parceiro Alonso, que venceria aquela corrida. Nós contamos essa história nos mínimos detalhes no podcast Singapura, que também está disponível aqui no nosso canal (playlist abaixo).

5 – Lucas di Grassi (2010)

Lucas di Grassi era um nome que já rondava a F1 por alguns anos, mas o timing para entrar de vez na categoria pareceu nunca ter funcionado direito a seu favor.

O brasileiro ganhou destaque com a vitória no GP de Macau de F3, em 2005, e com o vice da GP2 em 2007. Como Di Grassi era membro do programa de pilotos da Renault, parecia que a promoção à principal categoria do planeta era uma questão de tempo. 

Mas não foi o que aconteceu: dentro do esquema da Renault, Di Grassi foi preterido pelo já citado Nelsinho Piquet, em 2008, e por Romain Grosjean em 2009. Assim, sem ter chances dentro do plantel da Renault, coube ao piloto procurar por alternativas no mercado.

Para 2010, a F1 teria uma expansão em seu grid, e passaria a contar com três equipes novatas, criadas totalmente do zero. Uma delas era a Virgin, que tinha como característica o fato de que seu carro foi projetado totalmente por CFD, a fluidodinâmica computacional, e não havia passado um minuto sequer em túnel de vento.

Di Grassi assinou contrato com o time, e estrearia na F1 como titular ao lado de Timo Glock. Porém, a Virgin não teve condição alguma de ser minimamente competitiva.

O brasileiro tinha presença constante no fundo do pelotão, e teve apenas um 14º lugar como melhor resultado. Ao término da campanha, Di Grassi deixou a equipe e foi substituído por Jerome d´Ambrosio, e nunca mais teve a oportunidade de competir na F1.

6 – Bruno Senna (2010)

Bruno Senna foi mais um que sofreu com o timing para a entrada na F1, sendo que as coisas poderiam ter sido bem diferentes caso algumas peças se encaixassem na hora certa.

O sobrinho de Ayrton Senna bateu na porta da F1 quando foi vice-campeão da GP2 em 2008. Isso até o colocou seriamente no páreo por uma vaga na Honda a partir de 2009, quando em tese poderia formar dupla com Jenson Button.

Mas o desfecho da história ficou amplamente conhecido por todos: a Honda deixou a F1 de repente, se tornou Brawn GP, e Rubens Barrichello foi escolhido para permanecer na vaga. 

Sendo assim, Senna apenas conseguiu materializar sua estreia na F1 em 2010, e em condições completamente diferentes. O brasileiro estaria a bordo da Hispania, que era uma das três equipes novatas naquele ano, e que andavam praticamente em um pelotão à parte em relação ao resto do grid.

Assim, coube a Senna tentar limitar os danos, e conseguir como melhor resultado um 14º lugar na Coreia do Sul. E ainda havia tempo para um ponto ainda mais baixo, quando foi colocado no banco de reservas em Silverstone em circunstâncias obscuras. 

Apesar do começo difícil, Senna conseguiu dar continuidade à sua carreira na F1 em 2011, quando competiu pela Lotus Renault, e em 2012, desta vez pela Williams.

7 – Felipe Nasr (2015)

Em um momento em que o Brasil passava por um momento de dificuldades em termos de renovação, Felipe Nasr surgiu como um nome promissor. O brasiliense despontou com fortes resultados na base, como no título da F-BMW e F3 Britânica, além de ter sido terceiro colocado na GP2 na temporada de 2014.

Assim, com bons patrocínios tanto no setor privado quanto no estatal, Nasr conseguiu seu lugar na F1. Primeiro, ele foi reserva da Williams em 2014, mas garantiu sua vaga no grid a partir de 2015, quando seria mais um brasileiro a competir pela Sauber.

A equipe suíça não vivia um bom momento, com sérias dificuldades financeiras, e uma campanha sem marcar um pontinho sequer em 2014. Mas, em 2015, a maré seria diferente, o que trouxe bons frutos a Nasr logo em seu primeiro GP, com um impressionante quinto lugar na corrida, tornando-se o brasileiro com melhor resultado em sua estreia na história da F1. Naquele ano, ele terminou outras cinco vezes entre os 10 primeiros, e superando com folga o parceiro, Marcus Ericsson.

Só que em seu segundo ano, a crise financeira da Sauber se acentuou. O time passou praticamente a temporada inteira se arrastando como o pior do grid. E em meio ao desespero, a organização foi vendida para um fundo suíço, o que a salvou de fechar as portas. 

Com um nono lugar na penúltima etapa, em Interlagos, Nasr garantiu os únicos dois pontos da Sauber na temporada. Mas o resultado não foi o bastante para ele permanecer no grid da F1. O brasileiro foi dispensado da equipe, que manteve Ericsson ao lado de Pascal Wehrlein, que tinha apoio da Mercedes.

8 – Pietro Fittipaldi (2020)

Aqui vale uma menção honrosa a Pietro Fittipaldi, único nome desta lista que não chegou a ser um titular definitivo na F1. O neto de Emerson Fittipaldi ocupa a posição de piloto de testes da Haas desde 2018, e nunca esteve realmente no páreo para ocupar uma vaga fixa nas corridas. 

No entanto, a chance de correr surgiu como consequência do terrível e assustador acidente de Romain Grosjean no Bahrein, em 2020. O francês, lesionado, teve de ficar de fora das duas últimas corridas do ano, o que abriu a possibilidade de Pietro concretizar as suas primeiras largadas na F1.

Como a Haas também era uma equipe em momento de dificuldades, Fittipaldi andou no fundo do grid em suas duas participações, no anel externo de Sakhir e em Abu Dhabi. E foi só.

Quando a página virou e a F1 entrou na temporada de 2021, a Haas já contava com uma nova dupla, o que fez com que Fittipaldi tivesse uma passagem relâmpago nas corridas.

9 – Gabriel Bortoleto (2025)

Gabriel Bortoleto é tratado como uma grande promessa desde os tempos de kart, e parece que tudo em sua carreira foi feita da maneira certa até ele chegar à F1.

O paulista ganhou notoriedade quando conquistou o título da F3 em sua temporada de estreia, em 2023, quando também assinou para fazer parte do programa de pilotos da McLaren.

Neste meio tempo, também Bortoleto passou a ser agenciado por uma empresa que tem entre os sócios o bicampeão mundial Fernando Alonso.

Em 2024, ele migrou para a F2, quando, também em seu ano de estreia, se tornou um dos principais candidatos ao título. A junção de fortes resultados de imediato, trabalho nos bastidores e um bom timing no mercado abriu portas para Bortoleto, que então conseguiu uma vaga na F1 pela Sauber em 2025.

A equipe não passa por uma boa fase dentro da pista, já que ela é a última colocada em 2024, sendo a única que ainda não pontuou. No entanto, o momento é importante para a operação, já que o time foi comprado pela Audi, que projeta sua estreia como montadora na F1 em 2026. 

Assim, Bortoleto chega justamente nesta fase de arrumação da casa. Ele terá como companheiro de equipe o experiente Nico Hulkenberg, cotado para ser o líder no desenvolvimento do primeiro modelo da Audi na história da F1.

Neste contexto, Bortoleto terá o desafio de buscar o seu espaço, para depois tentar fazer história a partir de 2026, com o macacão de uma das marcas mais emblemáticas do automobilismo.

Comunicar erro

Comentários