(Foto: Clive Mason/Getty Images / Red Bull Content)

Entenda a confusão da pontuação no título de Verstappen

Com uma corrida – assim como sua temporada – dominante, Max Verstappen conquistou o seu bicampeonato mundial no último domingo (09) ao final do GP do Japão. O curioso desta vitória, no entanto, é que nem o piloto e nem sua equipe sabiam e entenderam direito como ele tinha fechado o campeonato de 2022.

Foram duas questões que contribuíram para a confusão ao final da prova. A primeira foi uma má interpretação geral da regra de distribuição de pontos em corridas que terminam antes do cumprimento de sua distância prevista. A segunda, foi uma punição a Charles Leclerc, anunciada apenas quando os pilotos já estavam concedendo as entrevistas pós-corrida.

O tumulto foi tão grande que, mesmo quando o ex-piloto Johnny Herbert, entrevistador oficial de cerimônia por parte da F1, anunciou a notícia, Verstappen ficou um pouco incrédulo. Tanto que depois, no caminho para o pódio, perguntava para os integrantes da equipe se era ou não campeão.

Mas afinal o que aconteceu para esse erro interpretação geral, que pegou pilotos, equipes, boa parte da imprensa e torcedores desprevenidos?

A mudança da regra para 2022

Até 2021, a regra da F1 previa que se uma corrida terminasse com o líder não completando pelo menos 75% da distância prevista da prova, apenas metade dos pontos do evento seriam distribuídos. Se menos de duas voltas fossem realizadas, não existiria pontuação.

Isso mudou para 2022 por conta da polêmica do GP da Bélgica de 2021. Naquela prova, os pilotos completaram apenas duas voltas atrás do safety car para cumprir a distância mínima do regulamento e metade dos pontos foram computados, mesmo que não tenha acontecido uma corrida propriamente dita.

A prova entrou para a história como a mais curta já realizada pela F1, com 3min27s071 de duração e apenas um giro oficial completado. Claro que isso gerou um grande debate sobre a validade de os pilotos pontuarem nessas condições.

Assim, a FIA adotou para 2022 uma mudança para que os pontos passassem a ser distribuídos de forma escalonada em relação à distância completada: menos de duas voltas, ninguém marca pontos; até 25% das voltas, os pontos são distribuídos de acordo com a coluna 1 da imagem abaixo; até 50%, coluna 2; 75%, coluna 3; e acima disso, pontos totais.

Tabela de pontuação da F1 para corridas interrompidas (Reprodução/Regulamento FIA F1)

A confusão sobre a redação do regulamento

Logo na primeira volta, o GP do Japão foi neutralizado com o safety car e pouco depois, a direção de prova parou a corrida com bandeira vermelha. Desde 2011, existe um tempo máximo para os eventos da F1, e não só da corrida. Atualmente, ele é de 3 horas.

Ou seja, enquanto o tempo máximo da competição com carros na pista é de 2 horas, a partir do momento da largada, em até 3 horas a direção de prova precisa encerrar a etapa, mesmo que ela fique parada em bandeira vermelha (quando o tempo de 2 horas não está contando).

Assim, quando ficou óbvio que o GP do Japão do último domingo não teria seu total de voltas completado por conta do limite de tempo após a interrupção pela chuva no começo da prova, muita gente pensou que os pontos seriam distribuídos pela nova conta escolonada mencionada acima.

Mas uma questão na redação da nova regra acabou fazendo com que a pontuação fosse total, mesmo com apenas pouco mais da metade da distância da corrida fosse cumprida. E a maior parte das pessoas do paddock não estava trabalhando com essa interpretação até pouco depois da bandeira quadriculada. Incluindo as próprias equipes.

A FIA apontou que a nova regra de escalonamento dos pontos só seria usada se a corrida fosse interrompida e não pudesse mais ser reiniciada. O artigo 57 do regulamento desportivo indica que uma prova é suspensa se competidores ou fiscais estiverem em uma posição de perigo de uma forma que a pista não possa ser utilizada de forma segura, mesmo atrás do safety car. Ou seja, é uma medida de segurança.

Por isso, pela regra, o término por estouro do tempo da corrida não é uma interrupção ou suspensão da prova. Como o texto da regra anterior que indicava pontuação pela metade quando o líder completava menos de 75% da distância da prova foi suprimido, o atual regulamento prevê a distribuição total de pontos, independente do número de voltas, neste caso. O escalonamento acontece apenas quando a corrida é interrompida sem poder ser reiniciada.

A confusão nas contas do título de Verstappen

O curioso é que questão da pontuação diferente da esperada surgiu em um segundo momento, quando os pilotos estavam concedendo entrevistas após a corrida. Ninguém imaginava que o título estava sendo decidido. Foi neste momento em que a FIA anunciou uma punição para Charles Leclerc de 5 segundos em seu tempo de prova por bloquear Sergio Pérez na última curva após ter passado reto na chicane anterior.

Ninguém até aquele momento tinha entendido que a briga entre os dois, que era bastante intensa, poderia valer o título, pois, nas contas das equipes, mesmo que Pérez fizesse a ultrapassagem, teoricamente Verstappen não estaria abrindo os oito pontos necessários para o monegasco. E foi quando todos foram pegos de surpresa com a notícia de que sim, Verstappen estava marcando os 25 pontos de uma vitória, 10 a mais que Leclerc, terceiro.

O próprio chefe de equipe da Red Bull, Christian Horner, disse que ficou surpreso com o anúncio do título de Verstappen. Em conversa com o site Motorsport.com após a corrida, o inglês admitiu que aquela não era a interpretação do time até o momento.

“Estávamos sob forte impressão que apenas com 75% da corrida, pontos totais seriam distribuídos. Então, achávamos que tínha nos faltado um ponto. Mas no final, a manobra do Checo [Sergio Pérez] em cima do Charles [Leclerc] deu ao Max [Verstappen] o campeonato. Você pode ver a surpresa dele, a surpresa da equipe. Mas que surpresa maravilhosa”, disse Horner.

Outros dirigentes, incluindo da Ferrari e McLaren, também admitiram que essa não era a interpretação que tinham da regra, mas que a leitura, após explicada pela FIA, não é errada, apesar de claramente não ser a intenção de quando o novo regulamento foi criado. Horner ainda apontou que a redação precisa ser corrigida para o ano que vem: “certamente será”.

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